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segunda-feira, 2 de junho de 2008

8º ANO: BIOGRAFIA "BARTOLOMEU de GUSMÃO"

Bartolomeu de Gusmão

Bartolomeu de Gusmão nasceu no Brasil em 1685 (nessa época o Brasil ainda era território português) e foi um dos primeiros construtores do mundo a tentar criar uma máquina voadora.
Apesar de se considerar que a primeira vez que se conseguiu voar foi com os irmãos Montgolfier (cujo balão de ar quente voou em 1783), Bartolomeu de Gusmão inventou o aeróstato movido a ar aquecido, cerca de setenta anos antes!
Bartolomeu fez os seus primeiros estudos no seminário de Belém da Cachoeira, que pertencia aos jesuítas.
Já nessa época mostrou que tinha muito jeito para a física e para a mecânica.Sabias que quando ainda era estudante construiu um mecanismo com canos e represas para fazer subir a água até ao seminário, situado a cerca de 100 m de altitude?
Com a sua ajuda, a água já não precisava de ser transportada pela encosta acima às costas dos frades ou no lombo dos animais.
Ainda noviço, abandonou a Companhia de Jesus (1701), vindo a ser ordenado sacerdote mais tarde.
Em 1708, foi para Portugal e passou a frequentar a faculdade de Coimbra, tendo obtido o doutoramento em 1720.
Os seus estudos foram interrompidos para se dedicar a tempo inteiro ao seu grande invento: um pequeno balão (ou globo) feito de lona ou papel, aquecido pelo fogo.
Consta que se inspirou para criar este invento ao observar uma pequena bola de sabão pairando no ar.
Em 1709, escreveu "Manifesto sumário para os que ignoram poder-se navegar pelo elemento do ar" e realizou, em Lisboa, as primeiras experiências com a sua "máquina voadora".
Relatos da época contam que da primeira vez que quis mostrar o seu invento a D. João V, o balão pegou fogo e não voou; contudo, na segunda tentativa, feita no paço real, o "instrumento de voar" elevou-se quatro ou cinco metros, até ao tecto da sala dos embaixadores.
Assustados com a possibilidade de um incêndio, os criados do palácio lançaram-se contra o engenho antes que este chegasse ao tecto.
Imagina a cara das pessoas da época quando viram esta "máquina voadora" a elevar-se no ar. Nunca antes tinham visto tal coisa!
Há ainda registo de uma terceira experiência, em que o balão foi lançado da ponte da Casa da Índia, tendo subido a uma altura considerável.
É claro que existem muitas lendas que contam que Bartolomeu de Gusmão teria voado do castelo de São Jorge até ao Terreiro do Paço ou da torre de São Roque ao convento de São Pedro de Alcântara, mas nunca existiram provas.
Como deves calcular, estas experiências causaram grande sensação nos lisboetas e tornaram-no conhecido como "Padre Voador". :)
Continuando a sua investigação, pioneira na navegação aérea, apresentou em 1710 um outro invento destinado a escoar água dos navios.
Entretanto, em 1713, começou a circular pela capital um folheto com um desenho de uma "Passarola" - uma barcaça fabulosa em forma de ave que voaria através de vários "magnetismos e espíritos".
A verdade é que o Padre estava realmente a trabalhar num invento para voar, mas que voaria pelas Leis da Física e da Mecânica, e não por "magnetismos e espíritos".
No entanto, o descrédito e a desconfiança em relação a Bartolomeu de Gusmão começaram a generalizar-se.Conta-se que Bartolomeu de Gusmão criou este desenho falso da "Passarola" para desviar a atenção das suas verdadeiras invenções... Será verdade?
Apesar das más línguas, sendo amigo do rei que lhe reconhecia os créditos, Bartolomeu de Gusmão foi recebido na corte e nomeado membro da Academia Real da História, em 1720, e capelão real, em 1722.
Dois anos depois, viu-se envolvido numa conspiração palaciana e a Inquisição aproveitou para o acusar de bruxaria, feitiçaria e judaísmo.
Para evitar morrer na fogueira, fugiu para fora de Portugal com o irmão mais novo, depois de ter queimado a maior parte do seu arquivo pessoal.
Acabou por falecer em Espanha, durante a viagem, em 1724, com uma crise de febre. Mesmo assim, deixou alguns registos de notas relativas às suas invenções que o tornaram conhecido em todo o mundo.
Com a invenção e idealização do flutuador aerostático, Bartolomeu de Gusmão deu um passo gigantesco para aquilo que viria a ser no futuro uma aeronave, sendo correctamente considerado o "Pai da Aerostação".

quinta-feira, 22 de maio de 2008

8º 9º ANO:ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA: REVOLUÇÃO AMERICANA

E.U.A.
Descobre como os Estados Unidos da América se transformaram numa potência mundial. Desde a chegada dos primeiros colonos europeus, passando pela Guerra da Independência, até aos conflitos actuais.



Caracterização dos EUA
Os Estados Unidos da América

Os Estados Unidos da América são um país da América do Norte cujo território se estende do oceano Atlântico, no leste, ao oceano Pacífico, no oeste,é limitado a norte pelo Canadá e a sul pelo México, e inclui os estados exteriores do Alasca e do Hawai.
Os Estados Unidos dividem-se em quatro regiões geográfica e economicamente distintas. No leste, onde se situa a costa atlântica e os grandes lagos, o relevo é plano e os solos são ricos em jazidas de ferro e carvão. Nesta região está concentrada a maior parte da população, a indústria siderúrgica e a agricultura altamente especializada, que abastece o restante território. O centro-oeste é formado pelas pradarias da planície central, a maior região agrícola do país. No norte predominam as maiores produções de leite e derivados. No sul predominam as plantações de algodão, cana de açúcar e arroz, e pratica-se pecuária. A região também é rica em recursos minerais (petróleo, cobre, carvão, alumínio e zinco).
Os Estados Unidos têm ainda dois territórios extra-metropolitanos: o Alasca, no noroeste, e o Havai, um arquipélago no Pacífico.
Área geográfica total – 9 629 091 km2.
Costa marítima – 19 924 km.
População – 275 562 673 habitantes (dados de 2000).
Tipo de governo – República Federal.
Moeda – Dólar americano (1 dólar = 100 cêntimos).
Clima – geralmente temperado, com variantes; clima subtropical no sul, clima mediterrânico no sul da Califórnia. Verões quentes e Invernos frios, principalmente no norte. As temperaturas médias em Washington variam entre –3 ºC e 6 ºC em Janeiro e 20 ºC e 31 ºC em Julho.
Capital – Washington D.C.
Divisão Administrativa - 50 estados e 1 distrito: Alabama, Alaska, Arizona, Arkansas, Califórnia, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Colorado, Connecticut, Dakota do Norte, Delaware, Distrito de Colúmbia, Florida, Georgia, Havai, Idaho, Illinois, Indiana, Iowa, Kansas, Kentucky, Louisiana, Maine, Maryland, Massachusetts, Michigan, Minnesota, Mississippi, Missouri, Montana, Nebraska, Nevada, New Hampshire, Nova Iorque, Nova Jersey, Novo México, Ohio, Oklahoma, Oregon, Pensilvânia, Rhode Island, Dakota do Sul, Tennessee, Texas, Utah, Vermont, Virgínia, Virgínia Ocidental, Washington, Wisconsin e Wyoming.
Religiões - Protestantismo (56%), Catolicismo (28%), Judaísmo (2%), outras (4%), nenhuma (10%) (dados de 1989).
Línguas – Inglês (língua oficial) e espanhol (devido à grande quantidade de imigrantes oriundos da América Latina).
Produção – cereais, soja, algodão, tabaco, batata, citrinos, cana-de-açúcar, sementes de oleaginosas, madeira, gado, produtos hortícolas, peixe, carvão, petróleo, gás natural, ferro, cobre, zinco, chumbo, alumínio, prata, molibdénio.Actividades económicas – Ferro e aço, produtos químicos, automóveis, aeronáutica, telecomunicações, hardware, têxteis, silvicultura, papel e pasta de papel, indústria extractiva, pescas.
Data da independência – 4 de Julho de 1776.
Bandeira – Treze riscas horizontais vermelhas (de cima a baixo) que alternam com riscas brancas. No canto superior esquerdo, um rectângulo de fundo azul apresenta cinquenta estrelas brancas de cinco pontas. As 50 estrelas representam os 50 estados, as 13 riscas representam as 13 colónias originais.
Fonte: Enciclopédia Universal, Texto Editora

O sistema político

Os Estados Unidos da América são uma República Federal que compreende 50 estados e o distrito de Colúmbia. Segundo a Constituição de 1787, que teve 26 emendas, aos estados componentes estão atribuídos poderes consideráveis de autonomia. O Governo Federal concentrou-se a princípio nas questões militares e de relações exteriores, bem como nos assuntos de coordenação interestadual, deixando a legislação noutras esferas para os estados, cada um dos quais com a sua própria Constituição, Assembleia Legislativa eleita, governador, supremo tribunal e poderes de fiscalidade locais. No entanto, desde a década de 1930, o Governo Federal tem-se tornado cada vez mais activo e, por isso, tem vindo a intervir em assuntos anteriormente de âmbito estatal. Tornou-se a principal instituição de produção e consumo de dinheiros públicos. Este activismo foi criticado durante a década de 1980 e as administrações republicanas manifestaram um desejo de inverter o processo. Os poderes executivo, legislativo e judicial do Governo Federal estão intencionalmente separados uns dos outros, funcionando num sistema de verificações e balanços. À frente do poder executivo está um presidente eleito por um mandato de quatro anos num escrutínio nacional por sufrágio universal, mas os votos são contados ao nível de cada Estado, numa base de vencedor absoluto, sendo atribuídos a cada Estado (e ao Distrito de Colúmbia) votos (equivalentes ao número dos seus representantes no Congresso) num colégio eleitoral que formalmente elege o presidente. O Presidente exerce o cargo de chefe de Estado, das forças armadas e da administração pública federal. Está limitado a um máximo de dois mandatos e, uma vez eleito, não pode ser destituído, a não ser por impedimento e subsequente condenação pelo Congresso. O Presidente trabalha com uma equipa governamental pessoalmente escolhida (nomeada), sujeita à aprovação do Senado, cujos membros estão proibidos de pertencer ao poder legislativo. O segundo poder de governo, o Congresso, a legislatura federal, compreende duas câmaras, o Senado com 100 membros e a Câmara dos Representantes com 435. Os senadores exercem o cargo por mandatos de seis anos e existem dois por cada Estado, independentemente do seu tamanho e população. De dois em dois anos, um terço dos lugares é disputado através de eleições. Os representantes são eleitos a partir dos distritos eleitorais dos estados, com aproximadamente o mesmo tamanho demográfico, e exercem mandatos de dois anos. O Congresso actua através de um sistema de comissões permanentes especializadas em ambas as câmaras. O Senado é a Câmara mais poderosa do Congresso, uma vez que é requerida a sua aprovação para nomeações federais importantes e para a ratificação de tratados internacionais. O programa político do presidente necessita da aprovação do Congresso, dirigindo-se o Presidente ao Congresso em Janeiro para um discurso anual do estado da união, além de enviar mensagens e recomendações periódicas. O facto de um presidente conseguir levar a cabo o seu programa de base depende do apoio da votação no Congresso, ajustando competências e apoio público. A legislação proposta para se tornar lei (um decreto do Congresso) requer a aprovação de ambas as câmaras do Congresso, bem como a assinatura do Presidente. Se existirem diferenças, são convocadas comissões de conferência para efectuarem acordos de compromisso. O Presidente pode impor um veto, o qual só pode ser ultrapassado por uma maioria de dois terços em ambas as câmaras. As emendas constitucionais requerem maiorias de dois terços em ambas as câmaras e o apoio de três quartos das assembleias legislativas dos 50 estados da nação. O terceiro poder de governo, o judiciário, encabeçado pelo Supremo Tribunal, interpreta a Constituição escrita dos EUA. A sua função é assegurar que é mantido um equilíbrio correcto entre as instituições federais e as estaduais, e entre os poderes executivo e legislativo, além de confirmar a Constituição, especialmente os direitos civis descritos nas primeiras dez (a declaração dos direitos) e nas últimas emendas. O Supremo Tribunal compreende nove juizes indicados pelo presidente, com a aprovação do Senado, que exercem o cargo vitaliciamente e que apenas podem ser destituídos por impedimento, julgamento e condenação pelo Congresso. Os EUA administram um grande número de territórios, incluindo a Samoa Americana e as Ilhas Virgens Americanas, os quais possuem assembleias legislativas locais e um governador. Estes territórios, bem como os territórios autónomos de Porto Rico e Guam, enviam cada um deles um delegado sem direito de voto à Câmara dos Representantes dos EUA. O Distrito de Colúmbia, centrado em torno da cidade de Washington D.C., é a sede dos poderes federais: legislativo, judicial e executivo. Desde 1971 tem enviado um delegado sem direito de voto à Câmara dos Representantes e, a partir de 1961, os seus cidadãos têm podido votar nas eleições presidenciais (tendo o distrito direito a três votos no colégio eleitoral nacional).
In Enciclopédia Universal, Texto Editora (Adaptado)
Cronologia dos Presidentes Americanos
1789-1797:Presidente: George WashingtonVice-Presidente: John Adams
1797-1801:Presidente: John AdamsVice-Presidente: Thomas JeffersonPartido Político: Federalista
1801-1809:Presidente: Thomas JeffersonVice-Presidentes: Aaron Burr (1801-1805) e George Clinton (1805-1809)Partido Político: Democrata-Republicano
1809-1817:Presidente: James MadisonVice-Presidentes: George Clinton (1809-1812) e Elbridge Gerry (1813-1814)Partido Politico: Democrata-Republicano
1817-1825:Presidente: James MonroeVice-Presidente: Daniel D. TompkinsPartido Político: Democrata-Republicano
1825-1829:Presidente: John Quincy AdamsVice-Presidente: John C. CalhounPartido Político: Democrata-Republicano
1829-1837:Presidente: Andrew JacksonVice-Presidentes: John C. Calhoun (1829-1832) e Martin Van Buren (1833-1837)Partido Político: Democrata
1837-1841:Presidente: Martin Van BurenVice-Presidente: Richard M. JohnsonPartido Político: Democrata1841:Presidente: William Henry HarrisonVice-Presidente: John TylerPartido Político: Whig
1841-1845:Presidente: John TylerPartido Político: Whig
1845-1849:Presidente: James Knox PolkVice-Presidente: George M. DallasPartido Político: Democrata
1849-1850:Presidente: Zachary TaylorVice-Presidente: Millard FillmorePartido Político: Whig
1850-1853:Presidente: Millard FillmorePartido Político: Whig
1853-1857:Presidente: Franklin PierceVice-Presidente: William R. King (1853)Partido Político: Democrata
1857-1861:Presidente: James BuchananVice-Presidente: John C. BreckinridgePartido Político: Democrata
1861-1865:Presidente: Abraham LincolnVice-Presidentes: Hannibal Hamlin (1861-1865) e Andrew Johnson (1865)Partido Político: Republicano
1865-1869:Presidente: Andrew JohnsonPartido Político: Democrata/União Nacional
1869-1877:Presidente: Ulysses Simpson GrantVice-Presidentes: Schuyler Colfax (1869-1873) e Henry Wilson (1873-1875)Partido Político: Republicano
1877-1881:Presidente: Rutherford Birchard HayesVice-Presidente: William A. WheelerPartido Político: Republicano
1881:Presidente: James Abram GarfieldVice-Presidente: Chester A. ArthurPartido Político: Republicano
1881-1885:Presidente: Chester Alan ArthurPartido Político: Republicano
1885-1889:Presidente: Grover ClevelandVice-Presidente: Thomas A. HendricksPartido Político: Democrata
1889-1893:Presidente: Benjamin HarrisonVice-Presidente: Levi P. MortonPartido Político: Republicano
1893-1897:Presidente: Grover ClevelandVice-Presidente: Adlai E. StevensonPartido Político: Democrata1897-1901:Presidente: William McKinleyVice-Presidentes: Garret A. Hobart (1897-1899) e Theodore Roosevelt (1901)Partido Político: Republicano
1901-1909:Presidente: Theodore RooseveltVice-Presidente: Charles W. Fairbanks (1905-1909)Partido Político: Republicano
1909-1913:Presidente: William Howard TaftVice-Presidente: James S. Sherman (1909-1912)Partido Político: Republicano
1913-1921:Presidente: Woodrow WilsonVice-Presidente: Thomas R. MarshallPartido Político: Democrata
1921-1923:Presidente: Warren Gamaliel HardingVice-Presidente: Calvin CoolidgePartido Político: Republicano
1923-1929:Presidente: Calvin CoolidgeVice-Presidente: Charles G. Dawes (1925-1929)Partido Político: Republicano
1929-1933:Presidente: Herbert Clark HooverVice-Presidente: Charles CurtisPartido Político: Republicano
1933-1945:Presidente: Franklin Delano RooseveltVice-Presidentes: John N. Garner (1933-1941), Henry A. Wallace (1941-1945) e Harry S. Truman (1945)Partido Político: Democrata
1945-1953:Presidente: Harry S. TrumanVice-Presidente: Alben W. Barkley (1949-1953)Partido Político: Democrata
1953-1961:Presidente: Dwight David EisenhowerVice-Presidente: Richard M. NixonPartido Político: Republicano
1961-1963:Presidente: John Fitzgerald KennedyVice-Presidente: Lyndon B. JohnsonPartido Político: Democrata
1963-1969:Presidente: Lyndon Baines JohnsonVice-Presidente: Hubert H. Humphrey (1965-1969)Partido Político: Democrata
1969-1974:Presidente: Richard Milhous NixonVice-Presidentes: Spiro T. Agnew (1969-1973) e Gerald R. Ford (1973-1974)Partido Político: Republicano
1974-1977:Presidente: Gerald Rudolph FordVice-Presidente: Nelson A. Rockefeller (1974-1977)Partido Político: Republicano
1977-1981:Presidente: Jimmy CarterVice-Presidente: Walter F. MondalePartido Político: Democrata
1981-1989:Presidente: Ronald Wilson ReaganVice-Presidente: George H. W. BushPartido Político: Republicano
1989-1993:Presidente: George Herbert Walker BushVice-Presidente: J. Danforth QuaylePartido Político: Republicano
1993-2001:Presidente: Bill ClintonVice-Presidente: Albert Gore, Jr.Partido Político: Democrata
2001-Presidente: George Walker BushVice-Presidente: Richard (Dick) CheneyPartido Político: Republicano

sexta-feira, 16 de maio de 2008

8º ANO: VIDA E OBRA DE KARL MARX

8º ANO: BIOGRAFIA "KARL MARX" -SOCIALISMO CIENTÍFICO

KARL MARX
 Karl Marx nasceu em 5 de Maio de 1818 em Trier (Prússia renana). O pai, advogado, israelita, converteu-se em 1824 ao protestantismo. A família, abastada e culta, não era revolucionária. Depois de ter terminado os seus estudos no liceu de Trier, Marx entrou na Universidade de Bona e depois na de Berlim; aí estudou direito e, sobretudo história e filosofia. Em 1841 terminava o curso defendendo uma tese de doutoramento sobre a filosofia de Epicuro. Eram, então, as concepções de Marx as de um idealista hegeliano. Em Berlim, aderiu ao círculo dos "hegelianos de esquerda" (3) (Bruno Bauer e outros) que procuravam tirar da filosofia de Hegel conclusões ateias e revolucionárias.
Ao sair da Universidade, Marx fixou-se em Bona, onde contava tornar-se professor. Mas a política reacionária de um governo que, em 1832, tinha tirado a Ludwig Feuerbach a sua cadeira de professor, recusando-lhe novamente o acesso à Universidade em 1836, e que em 1841 proibira o jovem professor Bruno Bauer de fazer conferências em Bona, obrigou Marx a renunciar a uma carreira universitária. Nessa época, o desenvolvimento das ideias do hegelianismo de esquerda fazia, na Alemanha, rápidos progressos. A partir, sobretudo de 1836, Ludwig Feuerbach começa a criticar a teologia e a orientar-se para o materialismo, a que, em 1841, adere completamente (A Essência do Cristianismo); em 1843 aparecem os seus Princípios da Filosofia do Futuro. " É preciso (...) ter vivido a influência emancipadora" desses livros, escreveu mais tarde Engels, a propósito destas obras de Feuerbach. "Nós", (isto é, os hegelianos de esquerda, entre eles Marx) "imediatamente nos tornamos feuerbachianos."(4) Nessa altura os burgueses radicais da Renânia, que tinham certos pontos de contacto com os hegelianos de esquerda, fundaram em Colónia um jornal de oposição, a Gazeta Renana(5) (que apareceu a partir de 1 de Janeiro de 1842). Marx e Bruno Bauer foram os seus principais colaboradores e, em Outubro de 1842, Marx tornou-se o redator-chefe, mudando-se então de Bona para Colónia. Sob a direção de Marx, a tendência democrática revolucionária do jornal acentuou-se cada vez mais e o governo começou por submetê-lo a uma dupla e mesmo tripla censura e acabou por ordenar a sua suspensão completa a partir de 1 de Janeiro de 1843. Por essa altura, Marx viu-se obrigado a deixar o seu posto de redator, mas a sua saída não salvou o jornal, que foi proibido em Março de 1843. Entre os artigos mais importantes que Marx publicou na Gazeta Renana, além dos que indicamos mais adiante (ver Bibliografia (6)) Engels cita um sobre a situação dos vinhateiros do vale do Mosela (7). A sua atividade de jornalista tinha feito compreender a Marx que os seus conhecimentos de economia política eram insuficientes e por isso lançou-se a estudá-la com ardor.

Em 1843, Marx casou-se, em Kreuznach, com Jenny von Westphalen, amiga de infância, de quem já era noivo desde o tempo de estudante. A sua mulher pertencia a uma família nobre e reacionária da Prússia. O irmão mais velho de Jenny vou Westphaleu foi ministro do interior na Prússia numa das épocas mais reacionárias, de 1850 a 1858. No Outono de 1843 Marx foi para Paris para editar no estrangeiro uma revista radical em colaboração com Arnold Ruge (1802-1880; hegeliano de esquerda, preso de 1825 a 1830; emigrado depois de 1848 e partidário de Bismarck depois de 1866-1870). Mas só apareceu o primeiro fascículo desta revista, intitulada Anais Franco-Alemães(8), que teve de ser suspensa por causa das dificuldades com a sua difusão clandestina na Alemanha e de divergências com Ruge. Nos artigos de Marx publicados pela revista, ele aparece-nos já como um revolucionário que proclama "a crítica implacável de tudo o que existe" e, em particular, "a crítica das armas", e apela para as massas e o proletariado.(9)

Em Setembro de 1844, Friedrich Engels esteve em Paris por uns dias, e desde então tornou-se o amigo mais íntimo de Marx. Ambos tomaram uma parte muito ativa na vida agitada da época dos grupos revolucionários de Paris (especial importância assumia então a doutrina de Proudhon (10), que Marx submeteu a uma crítica impiedosa na sua obra Miséria da Filosofia, publicada em 1847) e, numa árdua luta contra as diversas doutrinas do socialismo pequeno-burguês, elaboraram a teoria e a tática do socialismo proletário revolucionário ou comunismo (marxismo). Vejam-se as obras de Marx desta época, 1844-1848, mais adiante na Bibliografia. Em 1845, a pedido do governo prussiano, Marx foi expulso de Paris como revolucionário perigoso. Foi para Bruxelas, onde fixou residência. Na Primavera de 1847, Marx e Engels filiaram-se numa sociedade secreta de propaganda, a "Liga dos Comunistas" (11), tiveram papel destacado no II Congresso desta Liga (Londres, Novembro de 1847) e por incumbência do Congresso redigiram o célebre Manifesto do Partido Comunista, publicado em Fevereiro de 1848. Esta obra expõe, com uma clareza e um vigor geniais, a nova concepção do mundo, o materialismo conseqüente aplicado também ao domínio da vida social, a dialética como a doutrina mais vasta e mais profunda do desenvolvimento, a teoria da luta de classes e do papel revolucionário histórico universal do proletariado, criador de uma sociedade nova, a sociedade comunista.

Quando eclodiu a revolução de Fevereiro de 1848 (12), Marx foi expulso da Bélgica. Regressou novamente a Paris, que deixou depois da revolução de Março (13) para voltar à Alemanha e fixar-se em Colónia. Foi aí que apareceu, de 1 de Junho de 1848 até 19 de Maio de 1849, a Nova Gazeta Renana (14), de que Marx foi o redator-chefe. A nova teoria foi brilhantemente confirmada pelo curso dos acontecimentos revolucionários de 1848-1849 e posteriormente por todos os movimentos proletários e democráticos em todos os países do mundo. A contra-revolução vitoriosa arrastou Marx ao tribunal (foi absolvido em 9 de Fevereiro de 1849) e depois expulsou-o da Alemanha (em 16 de Maio de 1849). Voltou então para Paris, de onde foi igualmente expulso após a manifestação de 13 de Junho de 1849(15), e partiu depois para Londres, onde viveu até ao fim dos seus dias.

As condições desta vida de emigração eram extremamente penosas, como o revela com particular vivacidade a correspondência entre Marx e Engels (editada em 1913). Marx e a família viviam literalmente esmagados pela miséria; sem o apoio financeiro constante e dedicado de Engels, Marx não só não teria podido acabar O Capital, como teria fatalmente sucumbido à miséria. Além disso, as doutrinas e as correntes predominantes do socialismo pequeno-burguês, do socialismo não proletário em geral, obrigavam Marx a sustentar uma luta implacável, incessante e, por vezes, a defender-se mesmo dos ataques pessoais mais furiosos e mais absurdos (Herr Vogt (16)). Conservando-se à margem dos círculos de emigrados, Marx desenvolveu numa série de trabalhos históricos (ver Bibliografia) a sua teoria materialista, dedicando-se, sobretudo ao estudo da economia política. Revolucionou esta ciência (ver a seguir o capítulo acerca da doutrina de Marx), nas suas obras Contribuição para a Crítica da Economia Política (1859) e O Capital (r.1867).

A época da reanimação dos movimentos democráticos, no final dos anos 50 e nos anos 60, levou Marx a voltar ao trabalho prático. Foi em 1864 (em 28 de Setembro) que se fundou em Londres a célebre I Internacional, a "Associação Internacional dos Trabalhadores". Marx foi a sua alma, sendo o autor do primeiro "Apelo" (17) e de um grande número de resoluções, declarações e manifestos. Unindo o movimento operário dos diversos países, procurando orientar numa via de atividade comum as diferentes formas do socialismo não proletário, pré-marxista (Mazzini, Proudhon, Bakúnine, o trade-unionismo liberal inglês, as oscilações dos lassallianos para a direita na Alemanha, etc.) combatendo as teorias de todas estas seitas e escolas, Marx foi forjando uma tática única para a luta proletária da classe operária nos diversos países. Depois da queda da Comuna de Paris (1871) - a qual Marx analisou (em A Guerra Civil em França, 1871) de uma maneira tão penetrante, tão justa, tão brilhante, tão eficaz e revolucionária - e depois da cisão provocada pelos bakuninista (18), a Internacional não pôde continuar a subsistir na Europa. Depois do Congresso de 1872 em Haia, Marx conseguiu a transferência do Conselho Geral da Internacional para Nova lorque. A I Internacional tinha cumprido a sua missão histórica e dava lugar a uma época de crescimento infinitamente maior do movimento operário em todos os países do mundo, caracterizada pelo seu desenvolvimento em extensão, pela formação de partidos socialistas operários de massas no quadro dos diversos Estados nacionais.

A sua atividade intensa na Internacional e os seus trabalhos teóricos, que exigiam esforços ainda maiores, abalaram definitivamente a saúde de Marx. Prosseguiu a sua obra de transformação da economia política e de acabamento de O Capital, reunindo uma massa de documentos novos e estudando várias línguas (o russo, por exemplo), mas a doença impediu-o de terminar O Capital.

A 2 de Dezembro de 1881, morre a sua mulher. A 14 de Março de 1883, Marx adormecia pacificamente, na sua poltrona, para o último sono. Foi enterrado junto da sua mulher no cemitério de Highgate, em Londres. Vários filhos de Marx morreram muito jovens, em Londres, quando a família atravessava uma grande miséria. Três das suas filhas casaram com socialistas ingleses e franceses: Eleanor Aveling, Laura Lafargue e Jenny Longuet; um dos filhos desta última é membro do Partido Socialista Francês.

Notas:(3)Hegelianos de esquerda ou jovens hegelianos: corrente idealista na filosofia alemã dos anos 30-40 do século XIX, que procurava tirar conclusões radicais da filosofia de Hegel e fundamentar a necessidade de transformação burguesa da Alemanha. O movimento dos jovens hegelianos era representado por D. Strauss, B. e E.Bauer, M. Stirner e outros. Durante certo tempo, também L. Feuerbach partilhou as suas idéias, bem com K. Marx e F. Engels na sua juventude, os quais, rompendo posteriormente com os
, submeteram à crítica a sua natureza idealista e pequeno-burguesa em A Sagrada Família (1844) e em A Ideologia Alemã (1845-1846).
(4)F. Engels , Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã.
(5) Rheinische Zeitung (für Politik, Handel und Gewerbe (Gazeta Renana de Política, Comércio e Indústria), diário que se publicou em Colónia entre 1 de janeiro de 1842 e 31 de março de 1843. O jornal foi fundado por representantes da Renânia que tinham uma atitude oposicionista para com o absolutismo prussiano.Também alguns hegelianos de esquerda foram atraídos para participarem no jornal. A partir de abril de 1842, K. Marx colaborou na Gazeta Renana, e a partir de outubro do mesmo ano tornou-se um dos seus redatores, passando o jornal a revestir-se de um caráter democrático revolucionário. Em janeiro de 1843, o governo da Prússia decretou o encerramento da Gazeta Renana a partir de 1 de abril, estabelecendo entretanto uma censura especialmente rigorosa ao jornal. Devido à decisão dos acionistas de lhe atribuir um caráter mais moderado. Marx, em 17 de março de 1843, declarou que saía da redação.
(6)Trata-se da lista de obras composta por V.I. Lenine para o artigo Karl Marx (que não se inclui na presente edição - N. Ed.).
(7)Trata-se do artigo de K. Marx Justificação do Correspondente do Mosela.
(8) Só apareceu o primeiro fascículo duplo, em fevereiro de 1844. Nele foram publicadas as obras de K. Marx e F. Engels que marcam a sua passagem definitiva para o materialismo e comunismo.
(9) Na introdução ao artigo Contribuição para a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, Marx escreve: " A arma da crítica não podia evidentemente substituir a crítica das armas, porque a foca material não pode ser derrubada senão pela força material; mas, logo que penetra nas massas, a teoria passa a ser, também ela, uma força material."
(10) Doutrina de Proudhon: corrente anticientífica, hostil ao marxismo, do socialismo pequeno-burguês. Criticando a grande propriedade capitalista a partir de posições pequeno-burguesas, Proudhon sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada, propunha que fossem organizados os bancos "do povo" e de "troca", que, segundo ele, permitiriam aos operários obter meios de produção próprios, tornar-se artesões e garantir a venda "justa" dos seus produtos. Proudhon não compreendia o papel histórico do proletariado, negava a luta de classes, a revolução proletária e a ditadura do proletariado. Partindo de posições anarquistas, negava também a necessidade do Estado.
(11) Liga dos Comunistas: primeira organização internacional comunista do proletariado, criada sob a direção de Marx e Engels no início de junho de 1847, em Londres em conseqüência da reorganização da Liga dos Justos, associação secreta alemã de operários e artesãos, que seguiu na década de 1830. Os princípios programáticos e de organização da Liga fora, elaborados com a participação direta de Marx e Engels, que redigiram também o documento programático, o Manifesto do Partido Comunista, publicado em fevereiro de 1848. A Liga dos Comunistas existiu até Novembro de 1852 e foi antecessora da Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional). Os dirigentes mais eminentes da Liga dos Comunistas desempenharam mais tarde o papel dirigente na I Internacional.
(12) Trata-se da revolução burguesa em França, em fevereiro de 1848.
(13) Trata-se da revolução burguesa na Alemanha e na Áustria, que se iniciou em março de 1848.
(14)A Nova Gazeta Renana (Neue Rheinische Zeitung) publicou-se em Colónia entre 1 de junho de 1848 e 19 de maio de 1849. O jornal foidirigido por K. Marx e F. Engels, sendo Marx redator-chefe. A Nova Gazeta Renana, apesar de todas as perseguições e obstáculos por parte da polícia, defendia corajosamente os interesses da democracia revolucionária, os interesses do proletariado. A expulsão de Marx da Prússia em março de 1848 e as perseguições contra os outros redatores da Nova Gazeta Renana foram a causa da cessação da publicação do jornal.
(15) Trata-se da manifestação popular em paris organizada pelo partido da pequena burguesia ("Montanha") em sinal de protesto contra a infração, pelo presidente e pela maioria da Assembléia Legislativa, da ordem constitucional estabelecida pela revolução de 9148. A manifestação foi dispersa pelo governo.
(16) Lénine alude ao panfleto de K. Marx Herr Vogt (O Senhor Vogt), escrito em resposta à brochura caluniosa O Meu Processo contra o "Allgemeine Zeitung", do agente bonapartista K. Vogt.
(17) Trata-se do manifesto Constituinte da Associação Internacional dos Trabalhadores.
(18) Bakuninismo: corrente cuja denominação deriva do nome de Bakúnine, ideólogo do anarquismo, inimigo do marxismo e do socialismo científico. Os bakininistas travaram uma luta tenaz contra a teoria marxista e contra a tática do movimento operário. A tese principal do bakuninismo é a negação de todo o Estado, incluindo a ditadura do proletariado, e a incompreensão do papel histórico universal do proletariado. Uma sociedade revolucionária secreta constituída por "destacadas personalidades" devia, na opinião dos bakuninistas, dirigir revoltas populares. A sua tática das conquistas e do terror era aventureira e hostil à doutrina marxista da insurreição.



Toda a gente sabe que, em qualquer sociedade, as aspirações de uns contrariam as de outros, que a vida social está cheia de contradições, que a história nos mostra a luta entre povos e sociedades, assim como no seu próprio seio; que ela nos mostra, além disso, uma sucessão de períodos de revolução e de reação, de paz e de guerra, de estagnação e de progresso rápido ou de decadência. O marxismo deu o fio condutor que, neste labirinto, neste caos aparente, permite descobrir a existência de leis: a teoria da luta de classes. Só o estudo do conjunto das aspirações de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de sociedades permite definir, com uma precisão científica, o resultado destas aspirações. Ora, as aspirações contraditórias nascem da diferença de situação e de condições de vida das classes em que se divide qualquer sociedade. "A história de toda a sociedade até agora existente - escreve Marx no Manifesto do Partido Comunista (excetuado a história da comunidade primitiva, acrescentaria Engels mais tarde) e a história de lutas de classes. O homem livre e o escravo, o patrício e o plebeu, o barão feudal e o servo, o mestre de uma corporação e o oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si, travaram uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, aberta outras, que acabou sempre com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o declínio comum das classes em conflito... A moderna sociedade burguesa, saída do declínio da sociedade feudal, não acabou com os antagonismos de classe. Não fez mais do que colocar novas classes, novas condições de opressão, novos aspectos da luta no lugar dos anteriores. A nossa época, a época da burguesia, distingue-se, contudo por ter simplificado os antagonismos de classe. Toda a sociedade está a cindir-se cada vez mais em dois grandes campos hostis, em duas grandes classes em confronto direto: a burguesia e o proletariado." Após a grande revolução francesa, a história da Europa, em muitos países, revela com particular evidência o verdadeiro fundo dos acontecimentos, a luta de classes. Já na época da Restauração(26) se vê aparecer em França um certo número de historiadores (Thierry, Guizot, Mignet, Thiers) que, sintetizando os acontecimentos, não puderam deixar de reconhecer que a luta de classes é a chave para a compreensão de toda a história francesa. Ora, a época contemporânea, a época da vitória completa da burguesia, das instituições representativas, do sufrágio amplo (quando não universal), da imprensa diária barata e que chega às massas, etc., a época das associações operárias e patronais poderosas e cada vez mais vastas, etc, mostra com mais evidência ainda (embora, por vezes, sob uma forma unilateral, "pacifica", "constitucional") que a luta de classes é o motor dos acontecimentos. A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista mostra-nos o que Marx exigia da ciência social para a análise objetiva da situação de cada classe no seio da sociedade moderna, em ligação com a análise das condições do desenvolvimento de cada classe: "De todas as classes que hoje em dia defrontam a burguesia só o proletariado é uma classe realmente revolucionária. As demais classes vão-se arruinando e soçobram com a grande indústria; o proletariado é o produto mais característico desta. As camadas médias, o pequeno industrial, o pequeno comerciante, o artífice, o camponês, lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existência como camadas médias, antes do declínio. Não são pois revolucionárias, mas conservadoras. Mais ainda, são reacionárias, pois procuram pôr a andar para trás a roda da história. Se são revolucionárias, são-no apenas em termos da sua iminente passagem para o proletariado, o que quer dizer que não defendem os seus interesses presentes, mas os futuros, o que quer dizer que abandonam a sua posição social própria e se colocam na do proletariado." Em numerosas obras históricas (ver Bibliografia), Marx deu exemplos brilhantes e profundos de historiografia materialista, de análise da situação de cada classe particular, e, por vezes, dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe, mostrando, até à evidência, porque e como "toda a luta de classes é uma luta política". A passagem que acabamos de citar ilustra claramente como é complexa a rede das relações sociais e dos graus transitórios de uma classe para outra, do passado para o futuro, que Marx analisa, para determinar a resultante do desenvolvimento histórico.
A teoria de Marx encontra a sua confirmação e aplicação mais profunda, mais completa e mais pormenorizada na sua doutrina econômica.

Notas:
(19) Ver K. Marx e F. Engels, A Sagrada Família, capítulo 6.
(20) Agnosticismo: doutrina idealista que afirma que o mundo é incognoscível, que á razão humana é limitada e não pode conhecer nada além das sensações. O agnosticismo manifesta-se sob formas diferentes: alguns admitem a existência objetiva do mundo material, mas negam a possibilidade de o conhecer, outros põem em causa a sua própria existência, alegando que o homem não pode saber se existe algo além das suas sensações. Criticismo: nome que Kant deu à sua filosofia idealista, considerando que o seu objetivo principal é a crítica das faculdades cognitivas do homem. Em conseqüência dessa "crítica", Kant foi levado à negação da possibilidade de a razão humana conhecer a essência das coisas. Positivismo: corrente amplamente difundida na filosofia e sociologia burguesas. Foi fundada por A Comte (1798-1857), filósofo e sociólogo francês. Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessárias relações internas das coisas, negam o significado da filosofia como método de conhecimento e transformação do mundo objetivo e reduzem-na à sistematização dos dados das ciências isoladas, à descrição externa dos resultados da observação imediata dos fatos "positivos". Colocando-se "acima" do materialismo e do idealismo, o positivismo é de fato uma variedade do idealismo subjetivo.
(21) F. Engels, Anti-Dühring.
(22) F. Engels, Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã.
(23) F. Engels, Anti-Dühring
(24) F. Engels, Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã.
(25) K. Marx, O Capital, t. 1, capítulo XIII.
(26) Restauração: período da história de França (1814-1830) durante o qual os Bourbons, derrubados pela Revolução burguesa francesa de 1792, foram reinstalados no trono.
O Socialismo



Pelo exposto, vê-se que Marx conclui pela transformação inevitável da sociedade capitalista em sociedade socialista a partir única e exclusivamente da lei econômica do movimento da sociedade moderna. A socialização do trabalho - que avança cada vez mais rapidamente sob múltiplas formas e que, no meio século decorrido depois da morte de Marx, se manifesta sobretudo pela extensão da grande indústria, dos cartéis, dos sindicatos, dos trusts capitalistas e também pelo aumento imenso das proporções e do poderio do capital financeiro - , eis a principal base material para o advento inelutável do socialismo. O motor intelectual e moral, o agente físico desta transformação, é o proletariado, educado pelo próprio capitalismo. A sua luta contra a burguesia, revestindo-se de formas diversas e de conteúdo cada vez mais rico, torna-se inevitavelmente uma luta política tendente à conquista pelo proletariado do poder político ("ditadura do proletariado"). A socialização da produção não pode conduzir senão à transformação dos meios de produção em propriedade social, à "expropriação dos expropriadores". O aumento enorme da produtividade do trabalho, a redução da jornada de trabalho, a substituição dos vestígios, das ruínas, da pequena produção primitiva e disseminada, pelo trabalho coletivo aperfeiçoado, tais são as conseqüências diretas desta transformação. O capitalismo rompe definitivamente a ligação da agricultura com a indústria, mas prepara simultaneamente, pelo seu desenvolvimento a um nível superior, elementos novos desta ligação, a união da indústria com a agricultura na base de uma aplicação consciente da ciência, de uma coordenação do trabalho coletivo, de uma nova distribuição da população (pondo fim tanto ao isolamento do campo, ao seu estado de abandono e atraso cultural, como à aglomeração antinatural de uma enorme população nas grandes cidades). As formas superiores do capitalismo moderno criam condições para uma nova forma da família, novas condições para a mulher e para a educação das novas gerações; o trabalho das mulheres e das crianças, a dissolução da família patriarcal pelo capitalismo, tomam inevitavelmente, na sociedade moderna, as formas mais horríveis, mais miseráveis e repugnantes. Contudo, "a grande indústria, pelo papel decisivo que confere às mulheres, aos jovens e as crianças dos dois sexos nos processos de produção socialmente organizadas e fora da esfera familiar, cria urna nova base econômica para uma forma superior da família e das relações entre ambos os sexos. E, naturalmente, tão absurdo considerar como absoluta a forma germano-cristã da família como as antigas formas romana, grega ou oriental, que constituem, de resto, uma só linha de desenvolvimento histórico. E igualmente evidente que a composição do pessoal operário por indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua forma primária, brutal, capitalista, em que o operário existe para o processo de produção, e não o processo de produção para o operário, constitui uma fonte envenenada de ruína e de escravidão - deve transformar-se, inevitavelmente, em condições adequadas, numa fonte de progresso humano" (O Capital, fim do 13.º capítulo). O sistema fabril mostra-nos "o germe da educação do futuro, que unirá, para todas as crianças acima de certa idade, o trabalho produtivo ao ensino e à ginástica, não só como método de aumento da produção social, mas também como único método capaz de produzir homens desenvolvidos em todos os aspetos" (Ibid.) E sobre a mesma base histórica que o socialismo de Marx coloca os problemas da nacionalidade e do Estado, não só para explicar o passado, mas também para prever ousadamente o futuro e conduzir uma ação audaciosa para a sua realização. As nações são um produto e uma forma inevitável da época burguesa do desenvolvimento social. A classe operária não pode fortalecer-se, amadurecer, formar-se, "sem se organizar no quadro da nação", sem ser "nacional" ("embora de nenhuma maneira no sentido burguês da palavra"). Ora, o desenvolvimento do capitalismo destrói cada vez mais as fronteiras nacionais, acaba com o isolamento nacional, substitui os antagonismos nacionais por antagonismos de classe. Por isso, nos países capitalistas desenvolvidos é perfeitamente verdadeiro que "os operários não têm pátria" e que a sua "ação unitária, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições da sua libertação" (Manifesto do Partido Comunista). O Estado, essa violência organizada, surgiu como algo inevitável numa determinada fase do desenvolvimento da sociedade, quando esta, dividida em classes irreconciliáveis, não teria podido subsistir sem um "poder" aparentemente colocado acima dela e diferenciado até certo ponto dela. Nascido dos antagonismos de classe, o Estado torna-se "o Estado da classe mais poderosa, da classe economicamente dominante, a qual, por meio dele, se torna também à classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para reprimir e explorar a classe oprimida. Assim, o Estado antigo era, acima de tudo, o Estado dos escravistas, para manter os escravos submetidos o Estado feudal era o órgão de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos, e o moderno Estado representativo é o instrumento de que se serve o capital para explorar o trabalho assalariado. (Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, obra em que o autor expõe as suas idéias e as de Marx.) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguês, a república democrática, de maneira alguma elimina este fato; ela modifica apenas a sua forma (ligação do governo com a Bolsa, corrupção direta e indireta dos funcionários e da imprensa, etc.). O socialismo, conduzindo à supressão das classes, conduz por isso mesmo à abolição do Estado. "O primeiro ato - escreve Engels no seu Anti-Dúhring - em que o Estado atua efetivamente como representante de toda a sociedade - a expropriação dos meios de produção em nome de toda a sociedade - é, ao mesmo tempo, o seu último ato independente como Estado. A intervenção do poder de Estado nas relações sociais tornar-se-á supérflua num domínio após outro, e cessará então por si mesma. O governo das pessoas dá lugar à administração das coisas e à direção do processo de produção. O Estado não é "abolido", extingue-se." "A sociedade, que reorganizará a produção na base de uma associação livre de produtores iguais, enviará toda a máquina do Estado para o lugar que lhe corresponderá então: museu de antiguidades, ao lado da roca de fiar e do machado de bronze." (F. Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.)
Finalmente, relativamente à posição do socialismo de Marx quanto ao pequeno camponês, que subsistirá na época da expropriação dos expropriadores, interessa citar esta passagem de Engels, que exprime o pensamento de Marx: "Quando nós estivermos na posse do poder de Estado, não poderemos pensar em expropriar pela violência os pequenos camponeses (com ou sem indenização), como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietários. A nossa missão para com os camponeses consistirá antes de mais nada em encaminhar a sua produção individual e a sua propriedade privada para um regime cooperativo, não pela força, mas sim pelo exemplo, oferecendo-lhes para este efeito a ajuda da sociedade. Teremos então certamente meios de sobra para apresentar ao pequeno camponês a perspectiva das vantagens que 1á hoje lhe têm de ser mostradas." (F. Engels, A Questão Camponesa na França e na Alemanha(39), edição de Alexéiev, p. 17. A tradução russa contém erros. Ver o original em Die Neue Zeit.)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

8º ANO: BIOGRAFIA-MARQUÊS DE POMBAL: HISTÓRIA DE PORTUGAL

Biografia
O homem que alterou o rumo de Portugal em direcção à evolução e ao modernismo.
Sebastião José de Carvalho e Melo
Marquês de Pombal
Sebastião José de Carvalho e Melo viu a luz do dia pela primeira vez no dia 13 de Maio de 1699. Nascido em Lisboa, Sebastião José foi o primeiro filho de Manuel de Carvalho e Ataíde e Teresa Luiza de Mendonça e Mello, fidalgos da província. Desta união nasceram mais onze filhos dos quais dois, além de Sebastião José, se evidenciaram - Paulo de Carvalho e Mendonça (1702-1770) e Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700-1779), fiéis colaboradores do irmão. Sabe-se que estudou Direito na Universidade de Coimbra e que, desistindo do curso superior, se alistou no exército, mas também por um curto período de tempo. Mudou-se para a cidade de Lisboa e era já na época um homem turbulento. Casou em 1723, contava 24 anos, com D. Teresa de Noronha e Bourbon Mendonça e Almada, dez anos mais velha que ele e sobrinha do conde de Arcos, em condições pouco ou nada ortodoxas (começando assim a fazer juz à fama posterior de homem duro e ambicioso, sem escrúpulos). O facto curioso é que rapta a noiva, com quem esteve casado até à morte daquela em 1737, porque a família dela – bastante poderosa - não o via como um bom partido e não o aceitava como genro.
E é devido a esta oposição constante dos pais que o já casal se vê na obrigação de rumar às propriedades que Sebastião e Melo possuía perto de Pombal. Este casamento permitiu-lhe alcançar a tão almejada integração no grupo da alta fidalguia. Mas deste casamento não resultou descendência alguma.
Em 1733, com 34 anos, Sebastião José de Carvalho e Melo, graças à influência de seu tio, o arcipreste Paulo de Carvalho, que o apresentou ao cardeal Mota, ministro e valido do rei D. João V, torna-se sócio da Real Academia da História, com a incumbência de escrever a história de alguns dos monarcas portugueses, tarefa que nunca cumpriu.
Será em Viena de Áustria, em Dezembro de 1745, que celebrará novo casamento, desta feita com a Condessa Maria Leonor Ernestina Daun, filha do Marechal Heinrich Richard, conde de Daun e figura de destaque na Guerra de Áustria. Este casamento foi abençoado pela Imperatriz Maria Teresa assim como pela Rainha Maria Ana de Áustria, mulher de D. João V, tendo desta forma Sebastião José assegurado o lugar de Secretário de Estado do Governo de Lisboa. Ao contrário do que sucedera com o anterior, deste casamento resultou descendência e Sebastião José foi pai de cinco filhos.
Depois de uma vida bastante longeva, preenchida e repleta de contradições, grandes feitos históricos alternados com práticas monstruosas, e de um sem-número de contributos para o país que o viu nascer, amado por uns e odiado por outros, faleceu na sua casa de Pombal, em Maio de 1782, com 83 anos de idade.

Percurso

A Carreira Política

Foi no ano de 1738 que Sebastião José deu início a uma carreira diplomática que se adivinhava fulgurante. Foi nomeado, a 2 de Outubro, como Ministro Plenipotenciário e Enviado Especial à Corte de Londres, a 8 de Outubro. A 29 de Novembro é-lhe concedida uma audiência pública que visava a consolidação da aliança luso-britânica. Sebastião José substitui o então embaixador Marco António de Azevedo Coutinho. O modo hábil como Sebastião de Carvalho dirigiu em Londres as negociações de que fora encarregado, atraiu a atenção do governo português sobre si, e, quando rebentou entre as cortes de Viena de Áustria e de Roma uma discórdia relativa aos direitos de nomina da cúria, tendo sido o governo português eleito para medianeiro, foi Sebastião José de Carvalho o convocado para dirigir as negociações da corte de Viena. A 17 de Julho de 1745, chega à corte de Viena de Áustria, após receber, a 14 de Setembro de 1744, instruções como Enviado Especial – Ministro Plenipotenciário.
Ao perfazer 50 anos de idade, em 1749, é convocado em Viena para integrar o novo governo de Lisboa, devido ao facto de o então rei, D. João V, ter adoecido gravemente e ao facto de não se dar bem com o clima mais agreste de Viena.
Em 1750, D. João V morre, deixando o trono a seu filho mais velho D. José I.
É neste ano que Sebastião José de Carvalho e Melo regressa de Viena para Lisboa, aproveitando para remodelar o seu palácio em Oeiras.
É também neste ano que é nomeado Secretário dos Negócios Estrangeiros. Poucos dias após o início do seu governo, um incêndio no hospital de Todos-os-Santos, a 10 de Agosto do 1750, vai ser o pretexto para mostrar a fibra de que é feito.
Pombal tinha em Richelieu o seu ideal reformador e tal como ele, desejava consolidar o poder régio com o fim do introduzir alterações profundas no regime do Estado, nem que para isso tivesse de lutar contra tudo e todos que se atravessassem na senda que percorria.
Governou com mão de ferro, impondo a lei a todas as classes, desde os mais pobres até à alta nobreza. Impressionado pelo sucesso económico inglês, tentou, com sucesso, implementar medidas que incutissem um sentido semelhante à economia portuguesa.
Toda a sua gestão foi um perfeito exemplo de despotismo esclarecido, forma de governo que combinava a monarquia absolutista com o racionalismo iluminista.
A 31 de Agosto de 1756 Sebastião José de Carvalho e Melo deixa a Secretaria dos Negócios Estrangeiros e da Guerra e passa a ocupar a do Reino, mais abrangente.
Em 6 de Junho de 1759, Sebastião José recebe o título de Conde de Oeiras, como forma de compensação, por parte de D. José I, pela sua grande intervenção contra os que participaram no atentado do próprio monarca.
Apenas em 1769, com 71 anos de idade, lhe foi outorgado o famoso título de Marquês de Pombal.
Em 1777, com a morte do rei D. José I, e o início do reinado de D. Maria I, termina o protagonismo de tantos anos do Marquês. A 4 de Março desse ano é decretada a sua demissão. Em 1779, devido a inúmeras queixas contra si, é-lhe instaurada uma acção judicial na qual é acusado de abuso de poder, corrupção e fraudes várias. O respectivo interrogatório terminará apenas no ano seguinte, em 1780.
Em 1781, todo o processo tem como desfecho o julgamento e a condenação de Marquês de Pombal ao desterro, pelo menos a vinte léguas da Corte. Pombal foi considerado culpado, ainda que o seu estado de saúde e avançada idade não permitissem a aplicação de pena alguma.
O Marquês de Pombal, quando faleceu, assinava-se: Sebastião José do Carvalho e Melo, conde de Oeiras e da Redinha; marquês de Pombal; do conselho do rei; alcaide-mor de Lamego; senhor donatário das vilas de Oeiras, Pombal e Carvalho, e do lugar de Cercosa e dos reguengos e direitos reais de Oeiras e de A-par de Oeiras; direitos do pescado do Porto, de Peniche e de Atouguia da Baleia; das rendas do pescado e direitos da dízima, portagem, jugadas, oitavos de pão e quinais de vinho da vila e porto de Cascais; e das tornas da sisa do pescado e sáveis de Lisboa; padroeiro in solidum da paróquia de Nossa Senhora das Mercês, da cidade de Lisboa, e das de Santa Maria da vila de Carvalho e sua anexa, Santa Maria de Cercosa, no bispado de Coimbra, e do convento de Nossa Senhora da Boa Viagem; comendador das ordens de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. O seu brasão era o dos Carvalho, no qual, em campo azul se vê uma estrela de ouro, entre uma quaderna de crescentes de prata.

As Reformas Implementadas

- Reformas na EconomiaO Primeiro-Ministro de D. José I procurou incrementar a produção nacional em relação à concorrência estrangeira, desenvolver o comércio colonial e incentivar o desenvolvimento das manufacturas. No âmbito dessa política, em 1756 criou a Companhia para a Agricultura das Vinhas do Alto Douro, à qual concedeu isenção de impostos nas exportações e no comércio com a colónia, estabelecendo assim a primeira zona de produção vinícola demarcada no mundo, colocando-se os célebres marcos pombalinos nas delimitações da região.
Em 1773, é a vez da criação da Companhia Geral das Reais Pescas do Reino do Algarve, destinada a controlar a pesca no sul de Portugal.
Ao mesmo tempo, Sebastião José criou estímulos fiscais para a instalação de pequenas manufacturas voltadas para o mercado interno português, do qual faziam parte também as colónias. Essa política proteccionista englobava medidas que favoreciam a importação de matérias-primas e encareciam os produtos importados similares aos de fabricação portuguesa. Como resultado, surgiram no reino centenas de pequenas manufacturas produtoras dos mais diversos bens.
O ministro fundou também o Banco Real em 1751 e estabeleceu uma nova estrutura para administrar a cobrança dos impostos, centralizada pela Real Fazenda de Lisboa, sob o seu controlo directo.
- Reformas religiosasA acção reformadora de Sebastião de Melo estendeu-se ainda ao âmbito da política e do Estado. Nesse campo, o Primeiro-Ministro empenhou-se no fortalecimento do absolutismo do rei e no combate a sectores e instituições que poderiam enfraquecê-lo. Diminuiu o poder da Igreja, subordinando o Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) ao Estado e, em 1759, expulsou os Jesuítas da metrópole e das colónias, confiscando os seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus agia como um poder autónomo dentro do Estado português.
Apesar de a Inquisição não ter sido oficialmente desmantelada, ela sofreu com o governo do Primeiro-Ministro um profundo abalo, com medidas que a enfraqueceriam:
em 5 de Outubro de 1768, o Marquês de Pombal obrigou por decreto os nobres portugueses anti-semitas (na altura chamados de "puritanos") que tivessem filhos em idade de casar, a organizar casamentos com famílias judaicas;
em 25 de Maio de 1773 fez promulgar uma lei que extinguia as diferenças entre cristãos-velhos (católicos sem suspeitas de antepassados judeus) e cristãos-novos, tornando inválidos todos os anteriores decretos e leis que discriminavam os cristãos-novos. Passou a ser proibido usar a palavra "cristão-novo", quer por escrito quer oralmente. As penas eram pesadas: para o povo - chicoteamento em praça pública e exílio em Angola; para os nobres - perda de títulos, cargos, pensões ou condecorações; para o clero - expulsão de Portugal;
em 1 de Outubro de 1774, publicou um decreto que fazia os veredictos do Santo Ofício dependerem de sanção real, o que praticamente anulava a Inquisição portuguesa. Deixariam de se organizar em Portugal os autos-de-fé.
- Reformas na EducaçãoUma das grandes glórias do Marquês de Pombal foi o imenso impulso que deu à instrução popular. A lei de 6 de Novembro de 1772 organizava a instrução primária do modo mais completo para o seu tempo. Estabelecia o princípio de concurso, animava o ensino particular, dotava as escolas com o rendimento de um novo tributo denominado subsídio literário. Favorecia a instrução secundária criando escolas, que eram o germe dos liceus actuais, e convidando as ordens religiosas a abrirem aulas nos seus conventos. Favoreceu a instrução superior ao criar o Colégio dos Nobres. Criou estabelecimentos auxiliares, de que anteriormente nem sequer fora reconhecida a necessidade, como um observatório astronómico, um museu de História Natural, um gabinete de Física, um laboratório químico, um teatro anatómico, um dispensário farmacêutico e um jardim botânico. A fundação da Imprensa Nacional de Lisboa completou a obra do Marquês de Pombal em relação ao desenvolvimento intelectual do País. Esta reforma da instrução pública, a mais importante que ocorreu, valeu ao ministro a admiração e o respeito da Europa. O encarregado de negócios de França, em Lisboa, não ocultava a sua veneração pelo homem que fizera com que houvesse num tão pequeno reino, mergulhado até então nas trevas, 837 escolas de instrução primária e secundária. O sistema de ensino do reino e das colónias - que até essa época se encontrava sob a responsabilidade da Igreja -, passou-o ao controlo do Estado. A Universidade de Évora, por exemplo, pertencente aos Jesuítas, foi extinta, e a Universidade de Coimbra sofreu uma profunda reforma, sendo totalmente modernizada.
A "reforma universitária" incluía também a proibição de alunos ou professores com ascendência judaica nos quadros do estabelecimento de ensino.

O Terramoto de 1755
Gravura em cobre de 1755
mostrando Lisboa em chamas e o tsunami varrendo o porto.

A sua ascensão a Primeiro-Ministro do rei já ocorrera quando, pelas 9:45 do dia 1 de Novembro de 1755, feriado católico de Todos-os-Santos, sucede, para grande espanto de toda uma população, algo que simbolizaria a destruição de uma cidade velha e o ressurgimento de uma cidade nova em folha: um terramoto de proporções dantescas, causador de fissuras gigantescas de cinco metros que cortaram o centro da cidade de Lisboa. Com os vários desmoronamentos os sobreviventes procuraram refúgio na zona portuária e assistiram ao abaixamento das águas, revelando o fundo do mar, cheio de destroços de navios e cargas perdidas. Dezenas de minutos depois um enorme maremoto de 20 metros faria submergir o porto e o centro da cidade. Nas áreas que não foram afectadas pelo maremoto, o fogo logo se alastrou, e os incêndios duraram pelo menos cinco dias.
Lisboa não foi a única cidade portuguesa afectada pela catástrofe. Todo o sul de Portugal, nomeadamente o Algarve, foi atingido e a destruição foi generalizada. As ondas de choque do terramoto foram sentidas por toda a Europa e norte da África. Os maremotos originados por este terramoto varreram desde a África do norte até ao norte da Europa, nomeadamente até à Finlândia, e através do Atlântico afectaram locais como Martinica e Barbados.
Dos 275 mil habitantes de Lisboa, 90 mil desapareceram. Outras 10 mil pessoas foram vitimadas em Marrocos. Cerca de 85% das construções de Lisboa foram destruídas, incluindo palácios famosos, bibliotecas, igrejas e hospitais. As várias construções que sofreram pouco danos pelo terramoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao abalo sísmico.
Quase por milagre, a família real escapou ilesa à catástrofe. O rei D. José I e a corte tinham deixado a cidade depois de assistir a uma missa ao amanhecer, encontrando-se em Santa Maria de Belém na altura do terramoto. A ausência do rei na capital deveu-se à vontade das princesas de passar o feriado fora da cidade.
Tal como o rei, o Marquês de Pombal sobreviveu ao terramoto. E quem melhor do que o grande reformador Sebastião José de Carvalho e Melo para fazer renascer das cinzas uma cidade inteira? Foi o que aconteceu, e todo o génio do antigo diplomata é posto à prova neste acontecimento com consequências em e para todo o país. A sua rápida resolução levou-o a organizar equipas de bombeiros para combater os incêndios e recolher os milhares de cadáveres a fim de evitar epidemias.
O ministro e o rei contrataram arquitectos e engenheiros e, em menos de um ano depois do terramoto, já não se encontravam ruínas em Lisboa e os trabalhos de reconstrução iam adiantados. A capacidade de reconstrução e a visão de futuro que Pombal aplicou nessa reconstrução transformaram Lisboa numa cidade moderna. O rei desejava uma cidade nova e ordenada e grandes praças e avenidas largas e rectilíneas marcaram a planta da nova cidade. Na altura alguém perguntou ao Marquês de Pombal para que serviam ruas tão largas, ao que este respondeu que um dia elas serão pequenas...
Após o início da reconstrução urbana, Sebastião José vê ampliados os seus poderes pelo monarca.
E, facto curioso, note-se que os primeiros edifícios mundiais a serem construídos com protecções anti-sismo, testados recorrendo a modelos de madeira (cuja reacção à vibração era observada à medida que as tropas marchavam ao seu redor), devem-se ao Marquês de Pombal.
Foi deste modo que a figura de Sebastião José começou a ter impacto não apenas no seu país mas também em outros países europeus.
O Processo dos Távoras

D. José I, casado com Mariana Vitoria de Borbón, princesa espanhola, tinha quatro filhas. Apesar de ter uma vida familiar alegre, (o rei adorava as filhas e apreciava brincar com elas e levá-las em passeio), D. José I tinha uma amante: Teresa Leonor, mulher de Luís Bernardo, herdeiro da família de Távora.
O seu Primeiro-Ministro era um homem severo, filho de um fidalgo de província, com algum rancor para com a velha nobreza, que o desprezava. Assim, as desavenças entre Pombal e os nobres eram frequentes mas toleradas pelo rei, que confiava em Sebastião de Melo devido à sua liderança competente após o terramoto.
Em Setembro de 1758, dá-se o atentado contra a vida de D. José I, quando este regressava numa carruagem ao Palácio. Sebastião de Melo, prevenido imediatamente, intuiu que tinha ali o ensejo favorável para desferir um grande golpe na nobreza e talvez também nos Jesuítas. Tomou o controlo imediato da situação e mantendo em segredo o ataque e os ferimentos do rei, efectuou um julgamento rápido. Poucos dias depois, dois homens foram presos e torturados. Os homens confessaram a culpa e que tinham tido ordens da família Távora, que estava conspirando para colocar o duque de Aveiro, José Mascarenhas, no trono, já que o rei não tinha descendência masculina. Ambos foram enforcados no dia seguinte, mesmo antes da tentativa de regicídio ter sido tornada pública. Nas semanas que se seguiram, a marquesa Leonor de Távora, o seu marido, o conde de Alvor, todos os seus filhos, filhas e netos foram encarcerados. Os conspiradores, o duque de Aveiro e os genros dos Távoras, o marquês de Alorna e o conde de Atouguia foram presos com as suas famílias. Gabriel Malagrida, o jesuíta confessor de Leonor de Távora foi igualmente preso.
Foram todos acusados de alta traição e de regicídio.
A sentença ordenou a execução de todos eles, incluindo mulheres e crianças. Apenas as intervenções da Rainha Mariana e de Maria Francisca, a herdeira do trono, salvaram a maioria deles. A marquesa, porém, não seria poupada. Ela e outros acusados que tinham sido sentenciados à morte foram torturados e executados publicamente em 13 de Janeiro de 1759 num descampado perto de Lisboa. O rei esteve presente, juntamente com a sua corte, absolutamente desnorteada. Os Távoras eram seus semelhantes, mas o rei quis que a lição fosse aprendida. A família Alorna e as filhas do Duque de Aveiro foram condenadas a prisão perpétua em mosteiros e conventos.
Alguns dias depois a Ordem dos Jesuítas seria declarada ilegal. Todas as suas propriedades foram confiscadas e os Jesuítas expulsos do território português, na Europa e no Ultramar. Desde o princípio do seu governo que o Marquês de Pombal travava com eles uma luta implacável. Os Jesuítas eram a sua grande preocupação, por serem um obstáculo invencível a todos os seus projectos de reforma e de regeneração social. Dominavam em toda a parte, reinavam nas consciências pelo confessionário, nos espíritos pela educação, e na perspectiva de Pombal a educação do povo dirigida por eles era a mais funesta possível, sinónimo de imobilidade perpétua, de condenação à eterna futilidade e à eterna insignificância. Em todos os países se sentia esta funesta influência jesuítica, mas em Portugal era mais terrível ainda por causa das colónias, dominadas completamente pelos Jesuítas, principalmente as americanas. Por tal, em todos os actos hostis dirigidos ao governo queria o Marquês ver sempre a mão dos jesuítas.
Depois de muitos entraves, conseguiu finalmente que fossem expulsos de Portugal por decreto de 3 de Setembro de 1759, enviando logo para Itália pelo brigue S. Nicolau um carrego de jesuítas.

O Marquês de Pombal no Brasil

Existe uma grande dissonância entre a percepção popular do marquês entre os portugueses (que o vêem como herói nacional) e entre os brasileiros (que o vêem como tirano e opressor).
Na visão do governo português, a administração da colónia devia ter sempre como meta a geração de riquezas para o reino. Esse princípio não mudou sob a administração do marquês. O regime de monopólio comercial, por exemplo, não só se manteve, como foi acentuado para se obter maior eficiência na administração colonial.
Em 1755 e 1759, foram criadas, respectivamente, a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão e a Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba, empresas monopolistas destinadas a dinamizar as actividades económicas no norte e nordeste da colónia. Na região mineira, instituiu a derrama em 1765, com a finalidade de obrigar os mineradores a pagarem os impostos atrasados. A derrama era uma taxa per capita, em quilos de ouro, que a colónia era obrigada a enviar para a metrópole, independentemente da real produção de ouro.
As maiores alterações, porém, ocorreram na esfera político-administrativa e na educação. Em 1759, o regime de capitanias hereditárias foi definitivamente extinto, com a sua incorporação nos domínios da Coroa portuguesa. Quatro anos depois, em 1763, a sede do governo-geral da colónia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, cujo crescimento sinalizava o deslocamento do eixo económico do nordeste para a região Centro-Sul.
Com a expulsão violenta dos Jesuítas do império português, o marquês determinou que a educação na colónia passasse a ser transmitida por leigos nas chamadas Aulas Régias. Até então, o ensino formal estivera a cargo da Igreja. O marquês regulamentou ainda o funcionamento das missões, afastando os padres da sua administração e criou, em 1757, o Directório, órgão composto por homens de confiança do governo português, cuja função era gerir os antigos aldeamentos.
Complementando esse "pacote" de medidas, o marquês procurou dar maior uniformidade cultural à colónia, proibindo a utilização do Nheengatu, a língua geral (uma mistura das línguas nativas com o português, falada pelos bandeirantes) e tornando obrigatório o uso do idioma português.
Ainda hoje se encontra uma estátua de mármore em tamanho natural do Marquês de Pombal na Santa Casa de Misericórdia da Bahia localizada no centro histórico de Salvador.

Bibliografia

8º ANO: BIOGRAFIA-MOZART: MÚSICA

MozartEste dossier temático aborda a vida curiosa e a obra singular de Mozart, um dos maiores compositores de música clássica de sempre, que nasceu e viveu numa época em que a música grassava como sinal de cultura e o interesse músico-cultural se intensificava e desenvolvia a passos largos...
Barbara Kraft: Retrato póstumo de Mozart, 1819.

Breve biografia

Nascido às 20 horas do dia 27 de Janeiro de 1756 em Hagenauerhaus, n.º 9 de Getreidegasse, na Áustria, Amadeus Mozart, de seu nome completo Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart, foi um génio musical descoberto precocemente.
Filho de Leopold Mozart e de Anna Maria Mozart, tinha também uma irmã, a quem foi dado o nome de Maria Anna Mozart (Nanerl, para a família e amigos mais próximos).O pai, um violinista que tocava na corte do príncipe arcebispo de Salzburgo, foi desde cedo um acérrimo defensor da presença da música na vida dos filhos, ensinando-os a tocar cravo e estimulando-lhes o gosto e hábitos musicais assim que se apercebeu do talento de ambos para a música.Em 1761, com 5 anos apenas, Mozart dava início àquele que seria durante muitos anos o seu modo de vida: apresentações públicas e múltiplas viagens. Estima-se que Mozart tenha totalizado cerca de 3720 dias de viagens, o que representou um terço da sua curta vida.
A sua estreia ocorreu no dia 1 de Setembro de 1761 em Salzburgo, no teatro escolar latino Sigismundus Hungariae Rex, num espectáculo em que participou como cantor.No dia 12 de Janeiro de 1762 o pai decidiu embarcar com os dois talentosos filhos numa viagem com destino a Munique, na Alemanha. Esta durou três semanas e resultou na apresentação dos dois irmãos ao princípe Maximiliano III de Baviera. Foi a primeira apresentação artística de ambos.No Outono desse ano, a família Mozart deslocou-se até Viena onde, no dia 13 de Outubro Mozart teve a sua primeira audição perante a Imperatriz Maria Teresa.Mas seria no ano de 1763 aquando do aniversário do príncipe arcebispo (que nomeara o seu pai como vice-maestro de capela) que Mozart faria a sua apresentação oficial como músico.No Verão desse ano, Leopold partiu novamente com a sua família numa viagem que os levaria até França e onde chegaram a 18 de Novembro de 1763. Durante a estadia em Paris foram imprimidas as primeiras obras de Mozart: as sonatas para piano K 6 e K 7 para Madame Victoire de França e as sonatas K.8 e K.9 para a Condessa Adrienne-Catherine de Tessé. Estas obras valeram-lhe o aplauso, o assombro e o encantamento de todos quanto as ouviram.A 23 de Abril de 1764, a família Mozart chegou a Londres onde as duas crianças deram vários espectáculos na corte do rei George III e da sua esposa, Sophie Charlotte, a quem Mozart dedicou as suas seis sonatas para piano e violino K.10 a K.15.Em Londres, Mozart conheceu Johann Christian Bach, último filho de Johann Sebastian Bach, que exerceu grande influência nas suas primeiras obras.Depois de algum tempo em Londres, tendo a família decidido partir em direcção ao seu país natal, eis que um pedido insistente do embaixador holandês os fez mudar de rumo em direcção à Holanda. Depois de vários espectáculos pela Holanda, Suíça e Alemanha, a família Mozart regressa finalmente a Salzburgo, a 29 de Novembro de 1766, após uma ausência de quase três anos e meio. Mas, no ano de regresso, alastrava em Salzburgo uma epidemia de varíola. Numa tentativa de fuga à epidemia, a família muda-se para Viena. Mas apesar dos esforços, as duas crianças acabaram por contrair a doença.No final de Janeiro de 1768, Mozart obtém um aval para começar a desenvolver uma opera buffa, seguindo uma sugestão do Imperador José II. Em Abril de 1768 começa a compor La Finta Semplice (K.51), que termina em Julho desse mesmo ano. Entretanto, a opereta Bastien und Bastienne (K.50), outra aclamada obra de Mozart, foi apresentada ao Dr. Anton Mesmer em Setembro de 1768. Em Dezembro desse ano, a família Mozart partiu de Viena e regressou a Salzburgo em Janeiro de 1769. Depois de muitos obstáculos, foi apenas em Maio de 1769 que conseguiram a apresentação de La Finta Semplice (K.51).Em Dezembro de 1769, a família realizou a tão esperada viagem a Itália. Entre 1770 e 1773 Mozart visitou a Itália por três vezes. Lá, compôs a ópera Mitridate, que foi um grande êxito. Depois de uma série de apresentações, a 17 de Outubro de 1771, o libreto Ascanio in Alba foi apresentado na celebração do matrimónio entre o Arquiduque Ferdinando da Áustria e a Princesa Maria Beatrice Ricciarda d'Este de Modena. No dia 30 de Novembro de 1771, os Mozarts foram recebidos pelo próprio Arquiduque.Mas em 1772 a eleição do conde Hieronymus Colloredo como arcebispo de Salzburgo mudaria os hábitos de viajante de Mozart. Colloredo não via com bons olhos que um de seus músicos, considerado por ele um mero serviçal, passasse tanto tempo em viagens fora da corte. Por isso, a maior parte dessa década foi passada em Salzburgo, onde Mozart cumpriu os seus deveres de mestre de concerto (Konzertmeister), compondo missas, sonatas de igreja, serenatas e outras obras. Mas o ambiente de Salzburgo, cada vez mais sem perspectivas, levava a uma constante insatisfação do artista com a sua situação.Em 1777, Mozart quis tentar a sua sorte em outras paragens e decidiu partir, acompanhado por sua mãe, para Paris, cidade onde esta acabaria por falecer em Julho de 1778. Com o desaparecimento da mãe, Mozart deixou Paris, dirigindo-se então para Munique.Em 1781, Hieronymus Colloredo ordenou a Mozart que se juntasse a ele e à sua comitiva em Viena. Mas, insatisfeito por ser colocado entre os criados, ele pediu a demissão. A partir daí passou a viver da renda obtida com concertos, a publicação das suas obras e aulas particulares. Inicialmente teve sucesso, e o período entre 1781 e 1786 foi um dos mais prolíficos da sua carreira. Um período durante o qual compôs óperas (Idomeneo - 1781; O Rapto do Serralho - 1782), sonatas para piano, música de câmara (especialmente os seis quartetos de cordas dedicados a Haydn) e, principalmente, uma deslumbrante sequência de concertos para piano. A 24 de Dezembro de 1781 Mozart competiu com Muzio Clementi num concurso de pianoforte perante o imperador José II. A 16 de Julho de 1782 realizou-se a primeira apresentação pública de O Rapto do Serralho ( Die Entführung aus dem Serail - K.384), no Burgtheater. Este foi o trabalho de Mozart que mais sucesso obteve fora de Viena.A 4 de Agosto de 1782 Mozart casou com Constanze Weber, contra a vontade do pai dele. Tiveram vários filhos, mas apenas dois sobreviveram.Em 1786, compôs a sua primeira ópera em colaboração com o libretista Lorenzo da Ponte - As Bodas de Fígaro (Le nozze di Figaro - K.492) -, que estreou no Burgtheater no dia 1 de Maio de 1786. A ópera fracassou em Viena, mas fez um sucesso tão grande em Praga que Mozart recebeu a encomenda de uma nova ópera. Durante esse ano As Bodas de Fígaro foram representadas nove vezes.A partir de 1786 a sua popularidade começou a diminuir junto do público vienense e logo os problemas financeiros começaram a aparecer. No entanto, isso não o impediu de continuar a compôr obras-primas como quintetos de cordas (K.515 em Dó maior, K.516 em Sol menor em 1787), sinfonias (K.543 em Mi bemol maior, K.550 em Sol menor, K.551 em Dó maior em 1788) e um divertimento para trio de cordas (K.563 em 1788). No entanto, nos últimos anos de vida, a sua produção declinou devido a problemas financeiros e à saúde precária dele e de sua esposa, Constanze.A 7 de Abril de 1787, Ludwig van Beethoven, de 16 anos, chegou a Viena vindo de Bona a fim de ter aulas com Mozart. Mas ficou naquela cidade apenas duas semanas. A 28 de Maio o pai de Mozart morre em Salzburgo.A 29 de Outubro de 1787 Mozart conduziu as primeiras representações de Don Giovanni, no National Theater em Praga e, em 1 de Dezembro desse mesmo ano, José II nomeou Mozart como compositor oficial de Câmara (Kammermusicus) auferindo um salário de 800 florins por ano.A 26 de Janeiro de 1790, a ópera Così fan tutte (K.588) foi apresentada pela primeira vez no Burgtheater.Em 1791, Mozart compôs as suas duas últimas óperas: A Clemência de Tito e A Flauta Mágica -, o seu último concerto para piano (K.595 em si bemol maior) e o belo concerto para clarinete em lá maior (K.622). Na Primavera desse ano, recebeu a encomenda de um requiem (K.626). Com a saúde cada vez mais debilitada, Mozart conseguiu ainda, a 18 de Novembro de 1791, reger a cantata Laut. verkunde unsre Freude (K.623) que dedicou ao novo templo da casa maçónica. No dia 20 de Novembro de 1791, Mozart ficou acamado, tendo falecido 15 dias depois, na madrugada de 5 de Dezembro. Mozart deixou a obra em que trabalhava inacabada (há uma lenda que diz que o requiem em questão se destinava à sua própria missa de sétimo dia) tendo aquela sido posteriormente finalizada por um discípulo seu, Franz Süssmayr.Mozart acabou por ser enterrado numa vala comum de Viena.

Obra

Apresenta-se aqui uma súmula das peças que mais se destacaram do extenso rol de obras compostas por Mozart:
ÓperasLe Nozze di Figaro (As Bodas de Fígaro, 1786)Don Giovanni (1787)Cosi Fan Tutte (São todas assim, 1790)A Flauta Mágica (1791)
Obras orquestraisConcerto para piano n.º 21, K 467 (1785)Eine Kleine Nachtmusik, K 525 (1787)Sinfonia Concertante K 367Sinfonias n.º 29, 39, 40 e 41
Música vocalMissa n.º 16 (da Coroação), K 317 (1779)Réquiem, K 626 (1791), completado por Süssmayr
Música para pianoSonata n.º 5, K 521, para dois pianosSonata K 448, para dois pianos
Música de câmaraQuartetos de Cordas dedicados a Haydn:K 387 (1782)K 421 (1783)K 428 (1783)K 464 (1784)K 458 (1784) K 465 (1785)

Nota: Como a sua obra foi publicada sem número de Opus, Ludwig von Köechel fez, em 1862, um registo cronológico-temático, onde as obras têm números, ordenados cronologicamente, que se citam precedidos da letra K.

Curiosidades
Numa carta escrita por Mozart podem ler-se as seguintes palavras:"Como é que eu trabalho e como executo grandes composições musicais? Não posso na realidade dizer-lhe senão isto: quando me sinto bem-disposto, seja em carruagem quando viajo, seja de noite quando durmo, acodem-me as ideias aos jorros, soberbamente. Como e donde, não sei. As que me agradam, guardo-as como se me tivessem sido trazidas por outras pessoas, retenho-as bem na memória e, uma após outra, delas tomo a parte necessária para fazer um pastel segundo as regras do contraponto, da harmonia, dos instrumentos, etc. Então, quando estou em profundo sossego, sinto aquilo crescer, crescer para a claridade de tal forma, que a obra mesmo extensa se completa na minha cabeça e posso abrangê-la num só relance, como um belo retrato ou uma bela mulher, e isso não parte por parte, mas de uma só vez.
Achar aquilo e realizá-lo é um sonho soberbo que se desenvolve dentro de mim. Quando chego a esse ponto, nada mais esqueço, porque a memória é o melhor dom que Deus me deu." (...)
Sabe-se que certa vez, em Roma, Mozart foi assistir, com 14 anos, a uma peça religiosa - Miserere para coro duplo - de um compositor italiano chamado Gregório Allegri, que viveu entre 1500 e 1600. Essa peça, além de ser muito difícil e de conter uma intrincadíssima polifonia e coro duplo, não poderia ser reproduzida ou alterada. A ninguém era permitido segurar nas mãos a respectiva partitura, que para além de ser propriedade da Capela Sistina, era protegida sob ameaça de excomunhão. Após o concerto, tendo-o ouvido uma única vez, Mozart transcreveu-o de memória, e ao chegar a sua casa, reproduziu a música no papel com todas as notas e vozes, igual ao original.
Mozart gostava da esgrima, da dança, de montar cavalos e de animais de estimação. Tinha um canário, que na época era uma ave de estimação muito comum na Áustria, além de cães.
Ao longo da sua vida, Mozart fez a tradução sistemática dos seus nomes originais. O seu nome completo de baptismo foi atribuído em alemão, sendo Theophilus, um dos nomes do meio, uma homenagem a um familiar próximo. A tradução latina deste nome daria origem ao famoso "Amadeus" - "amigo de Deus". Outro exemplo é a tradução que ele fez de Amadeus Mozart para Amadé Mozartin, ao pretender conferir um toque de sonoridade francófona ao seu nome.Os dois nomes próprios que nunca utilizou foram dados pelos seus pais em memória do santo que apadrinha o dia do seu nascimento - São João Crisóstomo.
A Europa musical no tempo de Mozart
Na época de Mozart, a cidade que o viu nascer, Salzburgo, contava já com 16 000 habitantes, sendo uma cidade bastante importante em termos culturais. Era um principado eclesiástico, governado por um príncipe arcebispo que, durante a infância de Mozart, era Sigismund Christoph de Schrattenbach, personalidade que tanto contribuiu para o desenvolvimento musical de Mozart e para a vida desafogada de que a família desfrutava. Este governante apoiou muito o talento e o trabalho de Leopold Mozart, o pai, e mais tarde o do próprio Mozart.No século XVIII a literatura e as artes plásticas já tinham abandonado o estilo barroco. Por volta de 1735, o estilo dominante na Europa era ainda o rococó, último derivado do estilo barroco. Logo depois emergiria o pré-romantismo. As formas musicais do barroco não traduziam as novas ideias que então surgiam.Joseph Haydn (1732-1809) foi um dos maiores compositores do período clássico. Começou por tocar violino em pequenas bandas sem baixo-contínuo, onde nenhum dos músicos desempenhava o papel de solista-virtuose (o que valia era o conjunto). Essa independência das cordas em relação ao baixo-contínuo, assim como a importância dada ao conjunto instrumental, fez com que a música barroca chegasse ao fim.Haydn elaborou uma nova polifonia instrumental com a finalidade de dar coesão ao quarteto e à sinfonia, sem o apoio do baixo-contínuo. O princípio de construção foi a sonata-forma de Carl Philipp Emanuel Bach. Usando só os instrumentos, Haydn fala o idioma da música sacra italiana da época precedente, ou seja, os seus temas são cantáveis.É o começo da música moderna.A repercussão da sua obra foi grande. Na Áustria todos eram haydnianos, inclusive o jovem Mozart. A renovação da música instrumental por Haydn não atingiu o género da ópera, que seguia o modelo dos tempos de Scarlatti.Havia alguma vida nova apenas na opera buffa, que florescia em Veneza, então a capital europeia de diversões. Os "donos" da ópera, mais apreciados que os próprios compositores, eram os cantores, sobretudo os castrados como Farinelli e Crescentini.Johann Adolf Hasse (1699-1783) foi o mais popular compositor de óperas italianas, no estilo napolitano, do século XVIII. Discípulo de Alessandro Scarlatti, foi, também, cantor profissional de ópera (tenor) e um excelente cravista.Domenico Cimarosa (1749-1801) foi um dos pais da ópera cómica.Outros grandes nomes da época são Giuseppe Sarti (1729-1802), Baldassare Galuppi (1706-1783) e Giovanni Paësiello (1740-1816).O teatro foi, talvez, a maior preocupação artística do século XVIII. Possuir um teatro nacional foi a suprema ambição da Alemanha e da Itália (e a ópera não podia ficar esquecida).Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), embora influenciado por todas as correntes da sua época, não pertence a nenhuma delas. As suas obras instrumentais, no geral, são trabalhos de rotina ou trabalhos por encomenda. Embora riquíssimo em invenção melódica, a sua melodia nem sempre é pessoal. Isto porque no século XVIII, antes do pré-romantismo, não se exigia originalidade nem genialidade (conceitos românticos). Por isso, alguns poderão confundir Mozart com outros compositores da sua época, como J. C. Bach, de quem sofreu grande influência. Mozart escreveu seguindo o estilo do seu tempo. Ele próprio se considerava, antes de qualquer outra coisa, um compositor de ópera.

Portugal no tempo de Mozart
Em Portugal, na época de Mozart, reinava D. José I coadjuvado pelo seu secretário dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal.Em 1758, ocorria a prisão dos Távoras, entretanto acusados de implicação no atentado contra D. José I (a 3 de Setembro de 1758) e que seriam executados a 13 de Janeiro de 1759 em Lisboa.Em Fevereiro de 1768, foi criada em Lisboa a Real Mesa Censória que retirava à Inquisição os poderes de exame prévio e de censura dos livros. Neste ano a população portuguesa estimava-se em 2 400 000 habitantes.A 6 de Novembro de 1772, o ensino primário oficial era organizado, com o ímpeto do Marquês de Pombal.A 29 de Novembro de 1776, a rainha Dona Mariana Vitória assumia a regência de Portugal por doença de D. José, que viria a falecer no dia 24 de Fevereiro de 1777, dando lugar a sua filha D. Maria.
A 24 de Dezembro de 1779 era fundada a Academia Real das Ciências de Lisboa.A cantora lírica Luísa Todi era aclamada nas grandes cidades europeias, nomeadamente em Viena de Áustria onde deu concertos durante o ano de 1782 e 1783. A artista deixaria Paris em 1789 após uma temporada triunfal.A 6 de Junho de 1784, Bocage era dado como desertor, e em 1789 Morais da Silva via publicada a 1.ª edição do seu Dicionário da Língua Portuguesa.Em 1790, por resolução régia, criavam-se as primeiras 18 escolas femininas em Lisboa.
A Europa política no tempo de Mozart
Em 1756, ano em que Mozart nasceu, e durante o reinado de Luís XV, rei de França, eclodiu a Guerra dos Sete Anos, travada entre 1756 e 1763, envolvendo a França, a Áustria e seus aliados (Rússia, Suécia e Espanha), de um lado, e a Inglaterra, a Prússia e Hannover, de outro. A Guerra dos Sete Anos foi o primeiro conflito a ter carácter global, e o seu resultado é muitas vezes apontado como o ponto fulcral que deu origem à inauguração da era moderna. Esta guerra foi precedida por uma reformulação do sistema de alianças entre as principais potências europeias, a chamada Revolução Diplomática de 1756, e caracterizou-se pelas sucessivas derrotas francesas na Alemanha (Rossbach), no Canadá ( perda de Quebec e Montreal) e na Índia.A França, com os dois Tratados de Versalhes (1756 e 1757), obtém a promessa de aliança de Maria Teresa da Áustria e de seu ministro Kaunitz. Maria Teresa também se aliou com Elizabeth da Rússia.A 14 de Julho de 1789 o povo parisiense toma a Bastilha, protagonizando assim o primeiro episódio da Revolução Francesa.

9º ANO: GLOBALIZAÇÃO

Globalização
A globalização está a criar novas ameaças! A globalização oferece grandes oportunidades para o progresso humano! Estas e outras opiniões cruzam-se todos os dias nos media. Onde está a razão?
Globalização - principais características
Características da globalização
Se há algumas décadas atrás uma catástrofe ocorrida num outro canto do mundo em pouco nos afectaria, hoje em dia, o caso muda de figura. O fenómeno da globalização está a unir de tal forma o mundo que tudo tem influência um pouco por todo o lado.No Relatório do Desenvolvimento Humano de 1999, uma das conclusões a reter é que “a redução do espaço e do tempo e o desaparecimento de fronteiras estão a ligar as vidas das pessoas mais profundamente, mais intensamente e mais directamente do que alguma vez antes”.Toda a comunidade global é afectada por fenómenos sociais, económicos ou comerciais que ocorram em qualquer parte do mundo. O Relatório do Desenvolvimento Humano de 1999 dá como exemplo o colapso do baht tailandês que “não se limitou a atirar milhões para o desemprego, no Sudeste Asiático – o declínio da procura mundial que se lhe seguiu significou reduções do investimento social na América Latina e um súbito aumento do custo dos medicamentos importados, em África”.Se tempos houve em que a história mundial assistiu a fenómenos semelhantes ao da globalização, a verdade é que, actualmente, ela reveste-se de novas características:
“novos mercados – mercados de câmbios e de capitais ligados mundialmente e operando 24 horas por dia, com negociações à distância em tempo real;
novos instrumentos – ligações via Internet, telefones celulares, redes de comunicação;
novos actores – a Organização Mundial do Comércio (OMC) com autoridade sobre os governos nacionais; empresas multinacionais com mais poder económico do que muitos Estados; redes mundiais de organizações não governamentais (ONG) e outros grupos que transcendem as fronteiras nacionais;
novas regras – acordos multilaterais sobre comércio, serviços e propriedade intelectual, apoiados por fortes mecanismos de imposição e mais vinculativos para os governos nacionais, reduzindo o campo de acção da política nacional.”A comunidade mundial está em franca expansão. O aumento do comércio, as novas tecnologias, os investimentos em países estrangeiros, os meios de comunicação e o enorme crescimento da Internet indiciam em grande crescimento económico a nível mundial e um significativo progresso humano. A globalização parece indiciar um grande progresso no séc. XXI.Segundo o Relatório já citado, “mercados mundiais, tecnologia mundial, ideias mundiais e solidariedade mundial podem enriquecer a vida das pessoas, em todo o lado, aumentando grandemente as suas escolhas. A crescente interdependência da vida das pessoas apela para a partilha de valores e para um empenhamento partilhado no desenvolvimento humano de todos os povos.”Os primeiros grandes passos no sentido da globalização começaram a dar-se nas últimas duas décadas. O fim da Guerra Fria, a dissolução da URSS e a Queda do Muro de Berlim foram determinantes para que se começassem a encontrar pontos comuns nas economias e políticas mundiais. Os Direitos Humanos não mais foram esquecidos e os objectivos de desenvolvimento mundial são constantemente debatidos nas conferências das Nações Unidas.Um dos principais factores para o crescendo da globalização é a expansão dos mercados: “a globalização actual está a ser guiada pela expansão do mercado – abrindo as fronteiras nacionais ao comércio, capitais, informação – ultrapassando a governação desses mercados e as suas repercussões para as pessoas. Fizeram-se mais progressos nas normas, padrões, políticas e instituições para abrir os mercados mundiais do que para as pessoas e seus direitos.”Mas, “os mercados não são nem a primeira nem a última palavra no desenvolvimento humano. Muitas actividades e bens essenciais ao desenvolvimento são fornecidos fora dos mercados – mas estão a ser comprimidos pela pressão da concorrência mundial. Há compressão fiscal sobre os bens públicos, uma compressão do tempo sobre as actividades de apoio familiar e social e uma compressão dos incentivos sobre o ambiente.”“Quando o mercado vai demasiado longe, dominando os resultados sociais e políticos, as oportunidades e recompensas da globalização difundem-se de forma desigual e não equitativa – concentrando poder e riqueza num grupo seleccionado de pessoas, países e empresas, marginalizando os outros.Quando o mercado fica fora de controlo, as instabilidades revelam-se na aceleração e na queda das economias, como na crise financeira da Ásia Oriental e suas repercussões mundiais, que reduziu o produto mundial num valor estimado de 2 biliões de dólares em 1998-2000.”Aliás, não será preciso recuar muito no tempo para recordarmos um exemplo estrondoso do que podem ser as consequências da globalização. Os recentes atentados de 11 de Setembro de 2001 nos EUA tiveram uma repercussão enorme em todo o mundo. Assim se mostrou como um duro golpe na economia da grande potência mundial pode ter consequências nocivas em todo o mundo.“O desafio da globalização no novo século não é travar a expansão dos mercados mundiais. O desafio está em encontrar as regras e instituições para uma governação mais forte – local, nacional, regional e mundial – para proteger as vantagens dos mercados mundiais e da concorrência mas, também, para providenciar espaço suficiente para os recursos humanos, comunitários e ambientais necessários para assegurar que a globalização funciona para as pessoas – não apenas para os lucros. Globalização com:
Ética – menos violação dos direitos humanos;
Equidade – menos disparidade dentro e entre nações;
Inclusão – menos marginalização de pessoas e países;
Segurança humana – menos instabilidade das sociedades e menos vulnerabilidade das pessoas;
Sustentabilidade – menos destruição ambiental;
Desenvolvimento – menos pobreza e privação.”Só se todos estes factores estiverem garantidos é que a globalização será um êxito em todas as frentes. A globalização dos mercados é, indubitavelmente, muito importante e uma questão incontornável mas é preciso que seja acompanhada de todos os factores que compõem a humanidade para que seja, efectivamente, uma verdadeira globalização.O fenómeno da globalização está, ao mesmo tempo, a afectar directamente a vida das pessoas devido à conjugação de vários factores que resultam da ideia de “aldeia global”:
“Redução do espaço: A vida das pessoas – os seus empregos, rendimentos e saúde – é afectada por acontecimentos no outro lado do globo e, muitas vezes, por acontecimentos que desconhecem.
Redução do tempo: Os mercados e as tecnologias mudam actualmente a uma velocidade sem precedentes, com acção à distância em tempo real e com impactos sobre a vida de pessoas muito distantes.
Desaparecimento de fronteiras: As fronteiras nacionais estão a desaparecer, não apenas para o comércio, capital e informação mas, também, para as ideias, normas, cultura e valores. As fronteiras estão, igualmente, a desaparecer na política económica – à medida que os acordos multilaterais e as pressões para manter a concorrência nos mercados mundiais constrangem as opções de política nacional e que as empresas multinacionais e os sindicatos mundiais do crime integram as suas operações a nível mundial.”
Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano 1999 – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Adaptado)

Globalização - contexto histórico
Contexto histórico da globalização
A globalização é um fenómeno que surgiu na década de 80, ligado a uma nova vaga de liberalização económica, o neoliberalismo, inaugurada por algumas potências económicas mundiais (nos EUA com Ronald Reagan e no Reino Unido com Margaret Thatcher) e que se impôs por todo o mundo dito “capitalista”. Consequentemente, com maior ou menor empenho, todos os países fazem parte do conceito de “aldeia global”. Durante vários séculos, existiu apenas uma forma de globalização ocidental, a globalização europeia. A situação começou a alterar-se no início do século XX, quando os EUA entraram na cena internacional, passando a liderar as exportações, até à Segunda Guerra Mundial. Na segunda metade do século XX, os EUA converteram-se numa grande potência hegemónica e a Europa passou a protagonizar duas formas alternativas de globalização: o capitalismo da Europa Ocidental e o comunismo da Europa Central e Oriental. A Guerra Fria contribuiu decisivamente para que as rivalidades se extremassem e que as diferenças dos capitalismos (europeu ocidental e norte-americano) não fossem reconhecidas pelos países comunistas ou, sendo-o, fossem desvalorizadas. O colapso do comunismo permitiu a afirmação das diferenças e das rivalidades entre os modelos capitalistas europeu e norte-americano. Ambos marcaram presença na construção das instituições e nas discussões sobre os modelos de Estado e de capitalismo que tiveram lugar na Rússia e noutros países da Europa Central e Oriental, no início dos anos 90. As diferenças entre os dois modelos de capitalismo e, portanto, de globalização são consideráveis. O modelo europeu procura um equilíbrio entre a competitividade e solidariedade social, através da manutenção de um Estado-providência relativamente forte e de uma flexibilidade mitigada da relação salarial, em cuja gestão os sindicatos continuam a ter um papel mais ou menos significativo. No modelo americano impera a competitividade e a flexibilidade, não existindo um Estado-providência patente. Contudo, as empresas multinacionais têm, nos EUA, maior capacidade para influenciar políticas públicas do que as empresas da Europa, onde os países, através da União Europeia, continuam a ter uma relativa autonomia na gestão macroeconómica.
In Enciclopédia Universal, Texto Editora

Globalização - aspectos positivos
Aspectos positivos da globalização
A globalização está, sem dúvida, a unir povos e países numa grande “aldeia global”.É certo que nem todos conseguem acompanhar o desenvolvimento mas a verdade é que o mundo actual está mais dinâmico.Segundo dados do Relatório do Desenvolvimento Humano de 1999:
“As exportações mundiais, actualmente de 7 biliões de dólares, foram, em média, de 21% do PIB nos anos 90, comparado com 17% de um PIB bastante menor nos anos 70.
O investimento directo estrangeiro atingiu o máximo de 400 mil milhões de dólares em 1997, sete vezes o nível dos anos 70, em termos reais. Os investimentos de carteira e outros fluxos de capital de curto prazo cresceram substancialmente e totalizam agora, em valor bruto, mais de 2 biliões de dólares, quase três vezes o nível dos anos 80.
As transacções diárias nos mercados de câmbios aumentaram de cerca de 10 a 20 mil milhões de dólares em 1970 para 1,5 biliões em 1998.
Entre 1983 e 1993, as compras e vendas internacionais de Títulos do Tesouro norte-americano aumentaram de 30 mil milhões de dólares por ano para 500 mil milhões.
Os empréstimos bancários internacionais cresceram de 265 mil milhões de dólares em 1975 para 4,2 biliões em 1994.
As pessoas viajam mais – com o turismo mais do que duplicando entre 1980 e 1996, de 260 milhões de viajantes para 590 milhões.
Apesar das restrições apertadas, as migrações internacionais continuaram a crescer. Assim como as remessas dos trabalhadores, que atingiram 58 mil milhões de dólares em 1996.
O tempo dispendido em chamadas telefónicas internacionais disparou de 33 mil milhões de minutos em 1990 para 70 mil milhões em 1996.
As viagens, a Internet e os meios de comunicação estimularam um crescimento exponencial na troca de ideias e informação e, actualmente, as pessoas estão mais do que nunca empenhadas em associações que ultrapassam as fronteiras nacionais – desde redes informais até organizações formais.”É deste modo que a globalização vai tomando forma e sendo cada vez mais visível e abrangente. A tendência é agora para uma unificação mundial a todos os níveis.
Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano 1999 – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Adaptado)
Globalização - aspectos negativos
Aspectos negativos da globalização
Se é verdade que a globalização configura uma nova era de interacção entre países, economias e povos, também é verdade que está a fragmentar os processos de produção, mercados de trabalho, entidades políticas e sociedades. Estes últimos são os aspectos negativos, desintegradores e marginalizadores da globalização.No mercado de trabalho, por exemplo, embora haja actualmente muito mais oportunidades do que há 20, 50 ou 100 anos atrás, o mercado mundial só abre fronteiras aos trabalhadores mais qualificados, sendo esses os principais beneficiados com esta abertura do mercado de trabalho.Se o mundo está em constante crescimento social e económico, uma parcela desse mesmo mundo continua a viver em condições que nada têm a ver com as vividas na “aldeia global”:
“aproximadamente 1,3 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável;
uma em cada sete crianças em idade do primário está fora da escola;
840 milhões de pessoas estão subalimentadas;
1,3 mil milhões de pessoas, aproximadamente, vivem com rendimentos inferiores a 1 dólar (PPC 1987) por dia.”Mesmo nos países industrializados e desenvolvidos a pobreza é uma realidade, encoberta pelas estatísticas de sucesso que esses países apresentam. É claro que estas situações de disparidade económica não são uma consequência directa do fenómeno da globalização mas poderão vir a tornar-se um entrave à mesma.
Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano 1999 – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Adaptado)

Globalização - desigualdades
Desigualdades no contexto da globalização
Embora não seja uma consequência directa do fenómeno da globalização, a verdade é que as disparidades económicas e sociais entre alguns países são visivelmente significativas.Mais uma vez recorremos ao Relatório do Desenvolvimento Humano de 1999 para ilustrar e explicar estas desigualdades mundiais: “Desde os anos 80, muitos países experimentaram as oportunidades da globalização económica e tecnológica. Para além dos países industrializados, os tigres da Ásia Oriental de industrialização recente são agora acompanhados pelo Chile, República Dominicana, Índia, Maurícia, Polónia, Turquia e muitos outros, ligando-se aos mercados mundiais, atraindo investimento estrangeiro e tirando vantagem dos avanços tecnológicos.”“No outro extremo estão os muitos países que pouco têm beneficiado da expansão dos mercados e do avanço da tecnologia – Madagáscar, Níger, Federação Russa, Tajiquistão e Venezuela entre outros.”A globalização económica contribui, de facto, para esta bipolaridade. Estes países pouco beneficiados com a expansão dos mercados estão cada vez mais marginais no tecido económico mundial, visto que as suas exportações pouco cresceram e o investimento estrangeiro parece não querer entrar lá. Assim, dificilmente estes países poderão competir com as grandes economias.“Se as oportunidades mundiais não forem melhor repartidas, o crescimento fracassado das últimas décadas irá continuar. Mais de 80 países ainda têm rendimentos per capita mais baixos do que há uma década ou mais atrás. Enquanto 40 países mantiveram um crescimento médio do rendimento per capita de mais de 3% ao ano desde 1990, 55 países, principalmente na África Subsariana e na Europa do Leste e Comunidade de Estados Independentes (CEI), tiveram rendimentos per capita decrescentes.”Também o sector do emprego se encontra bipolarizado entre as grandes oportunidades para os mais qualificados e as escassas oportunidades para os menos qualificados. Assim, se um trabalhador qualificado pode facilmente pensar em ultrapassar as barreiras nacionais e lançar-se no mercado mundial de trabalho, para os trabalhadores com poucas qualificações este cenário é altamente improvável. O mercado mundial de trabalho abre, assim, as suas portas aos trabalhadores mais qualificados, seja qual for o seu país de origem. Para estes afortunados, é a grande oportunidade de uma melhor carreira com melhores remunerações.Mas as desigualdades ultrapassam em muito as pessoas. Elas sentem-se em termos de países. “O hiato de rendimento entre o quinto da população mundial que vive nos países mais ricos e o quinto que vive nos mais pobres era de 74 para 1 em 1997, acima de 60 para 1 em 1990 e de 30 para 1 em 1960.”“Nos últimos anos da década de 90, o quinto da população mundial que vive nos países de rendimento mais elevado tinha:
86% do PIB mundial – o quinto da base apenas 1%.
82% dos mercados mundiais de exportação – o quinto da base apenas 1%.
68% do investimento directo estrangeiro – o quinto da base apenas 1%.
74% das linhas telefónicas mundiais, meios básicos de comunicação hoje – o quinto da base apenas 1,5%.”O Relatório do Desenvolvimento Humano de 1999 apresenta também os seguintes dados relativos à concentração de rendimento, recursos e riqueza entre pessoas, empresas e países:
“Os países da OCDE, com 19% da população mundial, detêm 71% do comércio mundial de bens e serviços, 58% do investimento directo estrangeiro e 91% do total de utilizadores da Internet.
Nos quatro anos anteriores a 1998, as 200 pessoas mais ricas do mundo mais do que duplicaram a sua riqueza líquida, para cima de 1 bilião de dólares. Os activos dos três primeiros multimilionários são superiores ao PNB conjunto de todos os países menos desenvolvidos e dos seus 600 milhões de pessoas.
A vaga recente de fusões e aquisições está a concentrar o poder do capital nas mega-empresas – com o risco de desgastar a concorrência. Em 1998, as 10 maiores empresas de pesticidas controlavam 85% de um mercado mundial de 31 mil milhões de dólares – e as 10 maiores empresas de comunicações, 86% de um mercado de 262 mil milhões.
Em 1993, apenas dez países eram responsáveis por 84% das despesas mundiais de investigação e desenvolvimento e controlavam 95% das patentes americanas das duas últimas décadas. Além disso, mais de 80% das patentes concedidas nos países em desenvolvimento pertencem a residentes nos países industrializados.”
Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano 1999 – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Adaptado).

Globalização - um novo conceito
O novo conceito de globalização
Apesar de no séc. XIX já estarem reunidas algumas das condições necessárias para promover a globalização, a verdade é que, principalmente nas últimas duas décadas, surgiram novos elementos para a globalização.Novos mercados, novos actores, novas regras e normas, novos instrumentos de comunicação aparecem agora como os grandes factores conducentes à globalização.Nos novos mercados englobam-se:
“mercados mundiais em crescimento nos serviços – banca, seguros, transportes.
novos mercados financeiros – desregulamentados, interligados mundialmente, trabalhando 24 horas por dia, com acção à distância em tempo real, com novos instrumentos tais como os derivados. Os corretores financeiros estão no topo das ligações. Comunicações instantâneas, fluxos livres de capital e constantes actualizações vindas de todo o mundo habilitam os mercados financeiros, de Londres a Jacarta, de Tóquio a Nova Iorque, a actuar como uma unidade, em tempo real.
proliferação de fusões e aquisições – as fusões e aquisições além fronteiras foram responsáveis por 59% do investimento directo estrangeiro total em 1997.
mercados mundiais de consumo com marcas mundiais.”Por novos actores entendem-se: “- sociedades multinacionais, com produção e comercialização integradas, dominando a produção mundial – as empresas multinacionais percorrem os mercados mundiais e integram a produção. - a Organização Mundial do Comércio – primeira organização multilateral com autoridade para impor o cumprimento de regras aos governos nacionais; - um sistema internacional de tribunais criminais em criação; - uma rede internacional de ONG em grande expansão – as ONG, em linha, podem fazer campanhas em todo o mundo, com as suas mensagens atravessando fronteiras em segundos. - blocos regionais em proliferação e ganhando importância – União Europeia, Associação dos Países do Sudeste Asiático, Mercosul, Acordo Norte-Americano de Comércio Livre, Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, entre muitos outros; - mais agrupamentos de coordenação de políticas – G-7, G-10, G-22, G-77, OCDE.” Se os mercados e os actores sócio-económicos parecem convergir para uma verdadeira globalização, há que impor novas regras e normas para que tudo possa funcionar em conformidade:
“Políticas económicas de mercado em difusão por todo o mundo, com maior privatização e liberalização do que em décadas anteriores;
Adopção ampla da democracia como escolha de regime político;
Convenções sobre direitos humanos e instrumentos em preparação, quer sobre a cobertura, quer sobre o número de signatários – e crescente consciência das pessoas em todo o mundo;
Objectivos consensuais e agenda de acção para o desenvolvimento;
Convenções e acordos sobre o ambiente global – biodiversidade, camada de ozono, recolha de resíduos perigosos, desertificação, alterações climáticas;
Acordos multilaterais sobre o comércio, assumindo novas agendas tais como as condições ambientais e sociais;
Novos acordos multilaterais – sobre serviços, propriedade intelectual, comunicações – comprometendo mais os governos nacionais do que quaisquer acordos anteriores;
Acordo Multilateral sobre Investimento em debate.” Finalmente, os novos instrumentos de comunicação, mais rápidos e mais baratos, têm, indubitavelmente, um papel preponderante neste novo conceito de globalização: “- Internet e comunicação electrónica ligando muitas pessoas em simultâneo; - Telefones celulares;- Máquinas de fax;- Transportes aéreos, ferroviários e rodoviários, mais rápidos e mais baratos; - Desenho por computador.”São todos estes factores reunidos que lançam para o séc. XXI o novo conceito de globalização.
Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano 1999 – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Adaptado)