terça-feira, 22 de abril de 2008

25 de Abril: PRESOS POLÍTICOS

Libertados alguns dos presos de Caxias
Ao fim da manhã de hoje, a grande maioria dos oitenta e um prisioneiros de Caxias foram libertados por duas companhias pára-quedistas e fuzileiros navais- das Forças Armadas. Estranhamente, a Junta de Salvação considerou delitos comuns as acções políticas de alguns dos prisioneiros (Palma Inácio, entre outros) e decidiu mantê-los nas respectivas celas.A acção foi decidida às primeiras horas da manhã após sistemáticas pressões de alguns dos mais jovens oficiais do Movimento que reclamavam a imediata libertação de todos os presos políticos.Assim às 7 e 50 da manhã uma companhia de pára-quedistas, vinda de Monsanto, comandado pelo capitão Braz chegou às imediações do forte de Caxias. Vinte minutos depois, e sem qualquer resistência uma companhia da GNR acordo com o comando pára-quedista, as forças navais [...] posições do chamado reduto norte do Forte de Caxias, onde se localizavam as celas prisionais.Às 8 e 30 chegava uma companhia de fuzileiros navais chefiada pelo Capitão-Tenente, Abrantes Serra. De acordo com o comando pára-quedista, as forças navais montaram novo dispositivo de segurança, exterior ao forte. A acção deste destacamento da Armada tinha como objectivo garantir a segurança dos presos políticos, permitindo assim o ataque às forças da PIDE acantonadas na sede da Rua António Maria Cardoso, que mais tarde viriam a render-se.As duas forças foram aclamadas à chegada ao forte por dezenas de familiares dos presos que (com lágrimas de alegria) esperavam desde ontem a libertação.Às 9 e 15 os dois comandantes das forças destacadas subiram a escadaria que conduz às celas e ordenaram aos guardas prisionais presentes a abertura das primeiras celas. Poucos minutos depois saíam os primeiros detidos entre os quais os nossos camaradas Figueiredo Filipe, Fernando Correia, Albano Lima, Sérgio Ribeiro e Mário Ventura Henriques. Saíram também Saldanha Sanches, José Tengarrinha, Helena Neves, Vítor Dias, Nuno Teotónio Pereira, Gorjão Duarte, Mário Sena Lopes, Pedro Fernandes, e outros.Sucederam-se os abraços e cenas de grande emoção com as equipas de jornalistas presentes na libertação. De algumas janelas das celas alguns dos detidos aguardando a saída, acenavam com lenços vermelhos e de punho bem erguido.Entretanto uma ordem vinda da Junta de Salvação determinava que fossem libertados apenas os prisioneiros políticos». Aqueles que, estiverem a cumprir, também penas de delito comum permaneceriam detidos.Para espanto dos jornalistas presentes - que não podiam compreender a distinção feita entre os prisioneiros de Caxias, todos detidos por razões de ordem política, pois os chamados crimes de delito comum tinham um carácter notoriamente político - os detidos voltaram às respectivas celas até que se apurassem quais permaneceriam e quais sairiam. Assim Palma Inácio, que no primeiro momento da sua saída declarava que isto não signifique apenas a liberdade para nós, mas para todos os portugueses, voltava à cela n.º3 onde se encontrava há seis meses,No Hospital-Prisão de Caxias os heróicos militantes José Magro (20 anos nas prisões fascistas), António Dias Lourenço, Rogério Rodrigues Carvalho e Miguel Camilo (ainda em estado grave), eram informados da libertação pelos familiares que desde a tarde de ontem não arredaram pé do portão principal.
(in "República")

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