Deficientes/Feridos de Guerra
Feridos no Hospital Militar |
Na época, em Portugal, os deficientes eram considerados «inválidos» e, não obstante ter sido criada posteriormente a pensão de invalidez, muitos deles sofreram duplamente a sua deficiência ao se tornarem, durante muito tempo, pesado fardo para as famílias. Os hospitais militares foram para muitos um refúgio. Mas foram também o depósito onde os corpos amputados, os homens em cadeira de rodas ou os cegos tropeçando se mantiveram longe das vistas da sociedade, porque, oficialmente, Portugal não estava em guerra e a sua visibilidade poderia motivar interrogações incómodas para o regime sobre a realidade do que se passava nas frentes de combate. Os longos anos de guerra, progressivamente mais violenta e provocando mais mortos e feridos, forjaram uma consciência colectiva entre os deficientes militares dentro dos hospitais . Recordavam o que acontecera aos inválidos da I Guerra Mundial e ao seu Código de inválidos de 1929, o qual, embora lhes tenha dado um estatuto digno após revisões sucessivas, não evitou que ficassem na miséria e chegassem ao 25 de Abril com pensões degradadas, sem direito à assistência médica ou quaisquer regalias sociais. Necessitavam, porém, de uma abertura política para defender os seus direitos, abertura que só o 25 de Abril proporcionou e que permitiu o nascimento da Associação dos Deficientes das Forças armadas (ADFA). Este teve como primeiro acto a apresentação à Junta de Salvação Nacional de um conjunto de princípios reivindicativos, ainda muito basilares, na sequência de um documento anteriormente entregue à Assembleia Nacional.
A ADFA organizou-se para prestar serviço de apoio aos seus associados, desde os processos burocráticos e administrativos aos cuidados de saúde, de reabilitação física e integração social, de modo a que a sociedade portuguesa olhasse para os seus deficientes de guerra e visse neles cidadãos de bem, dignos e úteis. Apesar do que de bom foi conseguido, os deficientes de guerra continuam hoje a sentir o olhar indiferente da sociedade. Se ontem a sua preocupação era a reabilitação física e psíquica, reencontrar emprego, constituir família, inserirem-se na comunidade, hoje está a abater-se sobre eles a velhice precoce, o cansaço das famílias e um futuro pelo qual têm de continuar a lutar, sob pena de acabarem os seus dias em situações de vida indignas. A ADFA está a legar ao país a reabilitação de muitos milhares de militares deficientes, que sem ela estariam condenados a viver em guetos. Ela constitui hoje, com os seus 13 500 associados, um grande contributo para a defesa da paz entre os povos, a salvaguarda dos interesses dos deficientes, das suas famílias e das daqueles que morreram na guerra. De acordo com levantamentos estatísticos, não muito rigorosos, efectuados logo a seguir ao 25 de Abril pelos serviços da ADFA, concluí-se que terão sido evacuados das frentes de combate, durante os 13 anos de guerra, cerca de 25 000 militares afectados por deficiências motoras, sensoriais, orgânicas e mentais. Em relação ao stress de guerra, a ADFA pensa que o número de ex-combatentes afectados por esta síndroma é bastante superior ao número apontado (560) no quadro dos acidentes/doenças ocorridos durante o serviço militar sem anexo de causalidade.
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