segunda-feira, 21 de abril de 2008

GUINÉ

Guiné
A Guiné situa-se na costa ocidental de África, entre o Senegal, a norte, e a República da Guiné – Conacri, a sul, com a superfície de 36 125 Km2. Descontando a vasta área que é periodicamente coberta pelas marés, e que se encontra revestida por mangais e tarrafo, a área emersa é de cerca de 28 000 Km2. O território incluí um cordão de ilhas: Geta, Pecixe, Bissau, Bolama, Como e o arquipélago dos Bijagós. As fronteiras com os países vizinhos são convencionais, sem obstáculos naturais e resultam da Convenção Luso-Francesa de 1905. Só entre 1929 e 1933 foram efectuadas as delimitações, com a colocação dos marcos fronteiriços, facto que facilitou, durante o período da guerra, o trânsito entre os países vizinhos e o interior do território, tanto dos guerrilheiros do PAIGC como dos seus apoios. O terreno na Guiné não apresenta elevações de relevo e a sua compartimentação é feita pelos rios. Podem no entanto considerar-se as seguintes zonas: - Planícies do litoral: zonas baixas, pantanosas, na foz dos rios; - Planalto de Bafatá: zona de transição entre o litoral e o interior; - Planalto do Gabu (Nova Lamego): continuação do planalto de Bafatá para o interior; - Colinas do Boé: encostas do Futa Jalon.
Com interesse militar, é de referir a zona do Oio-Morés, de matas densas, cercadas de pântanos (bolanhas), onde os guerrilheiros criaram estruturas de apoio e refúgio, muito difíceis de atingir pelas forças portuguesas. A vegetação na zona litoral e nas margens dos rios é muito cerrada, enquanto na zona interior – planaltos de Bafatá e do Gabu – é constituída por savana. O clima, na Guiné apresenta duas zonas diferenciadas: tropical, com elevadas temperaturas e humidade nas zonas costeiras, e continental, seco e quente, subsariano no interior. O regime das monções provoca tornados no início e no fim das estações, que dificultam particularmente o tráfico aéreo. A Guiné é sulcada por enorme profusão de cursos de água, embora exista apenas com verdadeiro rio o sistema Geba/ Corubal. Os restantes são braços de mar.
Economia: A Guiné apresentava dificuldades de desenvolvimento derivadas do clima, da natureza do terreno e da sua dimensão, que a guerra agravou. A economia assentava na agricultura de subsistência, e só em reduzida escala os produtos eram comercializados, daí o baixo índice da monetarização. As importações constavam de produtos manufacturados, pelo que eram crónicos e avultados os défices da balança comercial. Assim sendo, a Guiné não era um país atractivo do ponto de vista económico.
Estruturas Políticas e Administrativas: A Guiné era uma província ultramarina de governo simples e estava dividida em nove concelhos: Bissau, Bolama, Cacheu, Mansoa, Bissorã, Farim, Catió, Bafatá e Gabu) e três circunscrições (Bijagós, Fulacunda e São Domingos) Um quarto da população da Guiné concentrava-se no concelho de Bissau, e ali tinham a sede o governo, os comandos militares, os estabelecimentos de ensino, o porto, o aeroporto e as principais actividades económicas.
PAIGC
As dificuldades do movimento nacionalista na Guiné, compreendem-se pelo facto que no início da guerra, mais de 90% da população era analfabeta e apenas 14 homens tinham formação universitária sendo esses na sua maioria de origem cabo-verdiana. Perante esta situação, a consciência anticolonial foi assumida numa primeira fase pela burguesia local, integrada na administração pública da Guiné. Foi neste meio que se propagaram os ideais da independência nacional. O nacionalismo e a luta anticolonial na Guiné e Cabo Verde estiveram profundamente ligados à figura carismática de Amílcar Cabral (1924- 1973). Estudante de Agronomia em Lisboa, aqui se encontrou, na Casa dos estudantes do Império, com outros futuros dirigentes negros, destacando-se Agostinho Neto e Mário de Andrade, o são-tomense Francisco José Tenreiro e os moçambicanos Eduardo Mondlane e Marcelino dos Santos, empenhando-se, com todos eles, na «reafricanização dos espíritos». Enquanto estudante, manteve contactos com o PCP, retomando-os em 1952, quando se instalou em Bissau, contratado pelo Ministério do Ultramar para os serviços agrícolas e florestais daquela colónia.. Em 1954, esteve na origem da criação da Agremiação Desportiva e Recreativa de Bissau, e em Março de 1955, regressou a Lisboa, mas numa das frequentes visitas à Guiné fundou, em Setembro de 1956, o Partido Aficano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Amiílcar Cabral dedicou a vida à libertação do seu povo e à luta contra o colonialismo português. Três ideias são constantes no seu pensamento ideológico: o pan-africanismo, isto é a solidariedade interafricana; a construção de uma sociedade mais justa, na linha de um socialismo africano; e a unidade da Guiné e Cabo Verde. Em Janeiro de 1960, abandona definitivamente Lisboa, para encabeçar a luta de libertação nacional. Enquanto isso, na Guiné, o desejo da independência propaga-se, ganhando adeptos, influenciado pelos exemplos dos países vizinhos, em especial a Guiné-Conacri, independente desde 1958.
As autoridades portuguesas advertidas pelos exemplos vizinhos, onde os movimentos nacionalistas tinham levado os seus países à independência, tentaram cortar pela raiz qualquer movimento do mesmo tipo, actuando com dureza perante qualquer atitude de contestação. O momento mais alto deste confronto ocorreu em Pidgiguiti, em 3 de Agosto de 1959, quando as forças da ordem carregaram contra uma manifestação de trabalhadores portuários que exigiam melhores salários, e de que resultaram dezenas de mortos e feridos. A matança de Pidgiguiti, assim chamada pelos nacionalistas, marcou definitivamente o rumo do PAIGC, que, um mês depois dos acontecimentos, realizou uma conferência clandestina em que determinaram prepararem-se para o início da luta armada. A fase de organização clandestina do partido veio no entanto a ser, depois afectada pelas detenções realizadas em Fevereiro de 1962, em Bissau, pelas autoridades portuguesas, que levaram à prisão centenas de pessoas, atrasando a actuação na capital. Entre os detidos encontrava-se Rafael Barbosa, número dois na hierarquia. Antes do início das hostilidades, o PAIGC enviou várias propostas ao governo português para que desse oportunidade aos habitantes da Guiné e Cabo verde de decidirem livremente os seu destino. A última proposta, de Outubro de 1961, exigia o direito à autodeterminação, advertindo que o partido se viria na obrigação de iniciar a luta armada . A proposta não obteve qualquer resposta, pelo que o conflito se tornou inevitável. Na sua preparação, o PAIGC contou com uma retaguarda segura na Guiné-Conacri, onde foi instalado o seu quartel general, vindo também a obter o apoio do Senegal, independente desde 1960. A fase pré-insurreccional, de 1959 a 1963, teve especial importância para o PAIGC, porque muitos quadros preparados em Conacri passaram clandestinamente a fronteira para viver no seio das comunidades locais, onde levam a cabo um permanente trabalho político. Estes militantes de forma geral originários das cidades, foram formados especialmente para compreender o pensamento das comunidades rurais. O seu êxito foi diverso, de acordo com o desenvolvimento e das características dessas comunidades, mas o sucesso maior ocorreu junto da etnia balanta, a mais numerosa e com maior dispersão geográfica, cujo núcleo principal vivia no centro da Guiné, em zona de floresta de difícil penetração, com contactos com as fronteiras da Guiné-Conacri e do Senegal. Na Guiné, a guerra iria tonar-se muito difícil paras as forças portuguesas não apenas pela capacidade da guerrilha, como pelas condições físicas da colónia.

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