segunda-feira, 7 de abril de 2008

MFA

O Movimento das Forças Armadas
A contestação dos capitães levou à criação do MFA (Movimento das Forças Armadas), que percebeu que só acabaria com a guerra colonial se derrubasse o regime que a sustentava.A operação que acabaria na Revolução dos Cravos passou por momentos de grande tensão desde a primeira reunião em Bissau, a 21 de Agosto de 1973, até ao derradeiro encontro dos operacionais no Posto de Comando no dia 24 de Abril de 1974.Assim se começou a preparar a queda da Ditadura instaurada em 1926.

21 de Janeiro de 1973 Manifestações anticoloniais em Lisboa.
Maio de 1973Protesto dos militares à tentativa de apoio das Forças Armadas ao Governo por parte do Congresso dos Combatentes a realizar de 1 a 3 de Junho.

1 de Junho de 1973 Início do I Congresso dos Combatentes do Ultramar, no Porto, que mereceu a oposição do "Movimento dos Capitães". Ao mesmo tempo, circula um manifesto de Oficiais do Exército contra o Congresso e a legislação que pretende apoiar.

13 de Julho de 1973 Publicação do Decreto-Lei n.º 353/73, que possibilitava aos milicianos do Quadro Especial de Oficiais ultrapassarem os capitães do quadro permanente nas suas promoções, mediante a frequência de um curso intensivo na Academia Militar, equiparado aos cursos normais, o que originou viva contestação dos capitães do quadro permanente.

20 de Agosto de 1973 Publicação do Decreto-Lei n.º 409/73, que dá nova redacção ao 353/73 mas mantém a situação dos capitães do quadro permanente.

21 de Agosto de 1973 Primeira reunião clandestina de capitães em Bissau.

28 de Agosto de 1973 Eleição da primeira comissão do "Movimento dos Capitães", constituída pelos Capitães Almeida Coimbra, Matos Gomes, Duran Clemente e António Caetano.

9 de Setembro de 1973 Nasce o MFA na primeira reunião plenária (clandestina) dos capitães, no Monte Sobral em Alcáçovas, com a presença de 95 Capitães, 39 Tenentes e 2 Alferes.

24 de Setembro de 1973 A Guiné-Bissau proclama unilateralmente a independência.

6 de Outubro de 1973 Reunião quadripartida do MFA (por razões de segurança), sendo um dos locais a casa do Capitão Antero Ribeiro da Silva, no n.º 24, 2º Dto da rua Prof. Dr. Augusto Abreu Lopes, em Odivelas.

12 de Outubro de 1973 O Ministro do Exército e da Defesa Nacional, Sá Viana Rebelo, suspende os Decretos-Lei n.º 353/73 e 409/73, o que não evita a crescente contestação dos capitães.

23 de Outubro de 1973 Circular clandestina onde se faz o ponto da situação.

26 de Outubro de 1973 Reconhecimento da Guiné Bissau como estado soberano pela ONU.

28 de Outubro de 1973 Eleição de deputados à Assembleia Nacional. A oposição desiste antes do acto eleitoral, devido à inexistência de garantias mínimas de seriedade.

7 de Novembro de 1973 Demissão do Ministro Sá Viana Rebelo, na sequência da contestação do "Movimento dos Capitães" aos referidos decretos.

24 de Novembro de 1973 Reunião plenária, na Parede, onde o Tenente-Coronel Banazol defende, pela primeira vez, a tese de golpe militar, que transita para discussão em próxima reunião.

Dezembro de 1973 Denúncia pelo Major Carlos Fabião, numa aula de Instituto de Altos Estudos Militares, de um golpe de estado de direita em preparação, que seria conduzido por Kaúlza de Arriaga.

1 de Dezembro de 1973 Reunião plenária em Óbidos, onde se votam três teses alternativas:
golpe militar;
continuação da luta contra os Decretos 353/73 e 409/73 com perspectivas de passar a golpe militar;
continuação da luta legalista contra os Decretos. É aprovada a última tese, mas a primeira que fala de um golpe militar ganha apoios, perspectivando-se o carácter revolucionário do "Movimento" e elege-se a primeira Comissão Coordenadora do "Movimento dos Capitães" constituída por 19 oficiais e escolhidos os Generais Costa Gomes e António de Spínola para servirem de ligação.

5 de Dezembro de 1973 Reunião da Comissão Coordenadora na Costa da Caparica, onde se rejeita a tese do Tenente-Coronel Banazol e onde se elege um executivo do "Movimento", constituído pelos Majores Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves e o Capitão Vasco Lourenço. É criado um grupo de trabalho para elaborar o Programa do MFA, coordenado pelo Major Melo Antunes e constituído pelos:
Tenentes-Coronéis Lopes Pires, Franco Charais e Costa Brás,
Major Hugo dos Santos e Coronel Vasco Gonçalves (do Exército),
Capitão-Tenente Victor Crespo,
1º Tenente Almada Contreiras (da Marinha),
Majores Morais e Silva e Seabra e o Capitão Pereira Pinto (da Força Aérea).

22 de Fevereiro de 1974 Publicação do livro "Portugal e o Futuro", do General António de Spínola, que abalou o regime e, em particular, Marcelo Caetano.

5 de Março de 1974 Reunião de cerca de 200 oficiais dos três ramos das Forças Armadas, em Cascais, no atelier do arq. Braula Reis. Pela primeira vez se fala na possibilidade do fim da guerra colonial e no derrube a ditadura para o estabelecimento de um regime democrático. É aprovado o documento «O "Movimento" as Forças Armadas e a Nação», apresentado pelo Major Melo Antunes.

8 de Março de 1974 O Governo transfere os Capitães Vasco Lourenço e Carlos Clemente para os Açores, Antero Ribeiro da Silva para a Madeira e David Martelo para Bragança, com o objectivo de enfraquecer o "Movimento dos Capitães". O Capitão Clemente é levado à força para o Aeroporto, mas o "Movimento" rapta os Capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva e esconde-os.

9 de Março de 1974 Os Capitães Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva apresentam-se voluntariamente no Quartel General da Região Militar de Lisboa, na companhia do Capitão Pinto Soares, sendo os três detidos e enviados para a Casa Reclusão da Trafaria.

11 de Março de 1974 Marcelo Caetano, em carta a Américo Tomás, pede a demissão, por se sentir responsável pela publicação do livro de Spínola, mas não é aceite.

14 de Março de 1974 Marcelo Caetano recebe Oficiais-Generais dos três ramos das Forças Armadas, numa reunião que ficou conhecida como a "Brigada do Reumático", no intuito de tentar provar que o regime tinha tudo sob controlo.
Discurso de Marcelo Caetano a 14 de Março de 1974 aos oficiais leais ao governo.

15 de Março de 1974 Demissão dos Generais Costa Gomes e António de Spínola por se terem recusado a participar na "Brigada do Reumático".

16 de Março de 1974 Tentativa de golpe militar contra o regime. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marcha sobre Lisboa. O golpe falhou. São presos cerca de 200 militares, alguns deles decisivamente envolvidos na preparação da "Revolução dos Cravos".
A saída em falso do Reg. das Caldas da Rainha a 16 de Março de 1974, como reacção à demissão de Costa Gomes e de Spínola, constituiu o ensaio militar do dia 25 de Abril.

24 de Março de 1974 Última reunião clandestina da Comissão Coordenadora do MFA, em casa do Capitão Candeias Valente, na qual foi decidido o derrube do regime e o golpe militar entre 22 e 29 de Abril. O Major Otelo Saraiva de Carvalho fica responsável pelo "Plano Geral das Operações".

28 de Março de 1974 Última "Conversa em Família" de Marcelo Caetano na RTP.

21 de Abril de 1974 Aprovação da versão definitiva do Programa do MFA.

22 de Abril de 1974 Está pronto o "Plano Geral das Operações: Viragem Histórica" e as Unidades Militares afectas ao MFA ficam à espera do início do golpe militar. Por decisão de Otelo é escolhido o Regimento de Engenharia N.º 1 na Pontinha, para instalar o Posto de Comando das operações.

A escolha do RE1 para instalação do Posto de Comando do MFA
"Plano Geral das Operações"Protege e defende a unidade a todo o custo. Selecciona um local elevado para montagem do PC. Selecciona um local, bem guardado, onde possam ser recebidos os oficiais superiores e os agentes da Brigada de Trânsito da GNR presos, a seguirem ao seu destino findo o estado de insurreição. Prepara a central telefónica ara a emissão e recepção de telefonemas."Otelo Saraiva de Carvalho. "

23 de Abril de 1974 Otelo Saraiva de Carvalho comunica que as operações militares se iniciariam às 03.00h do dia 25 de Abril e entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25, com a senha "Coragem" e contra-senha "Pela Vitória" e um exemplar do jornal Época, como identificação, para as Unidades participantes.


24 de Abril de 1974 O jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa "Limite" dessa noite, na Rádio Renascença.

24 de Abril de 1974 às 21:00 Otelo Saraiva de Carvalho faz chegar ao General Spínola a "Proclamação ao País do Movimento das Forças Armadas Portuguesas".

Proclamação do MFA, distribuído à Imprensa no dia 25 de Abril de 1974
"Considerando que ao fim de 13 anos de luta em terras do Ultramar, o sistema político vigente não conseguiu definir, concreta e objectivamente, uma política ultramarina que conduza à Paz entre os Portugueses de todas as raças e credos;Considerando o crescente clima de total afastamento dos Portugueses em relação às responsabilidades políticas que lhes cabem com cidadãos, em crescente desenvolvimento de uma tutela de que resulta constante apelo a deveres com paralela denegação de direitos;Considerando a necessidade de sanear as instituições, eliminando do nosso sistema de vida todas as ilegitimidades que o abuso do Poder tem vindo a legalizar;Considerando, finalmente, que o dever das Forças Armadas é a defesa do País, como tal se entendendo também a liberdade cívica dos seus cidadãos;O Movimento das Forças Armadas, que acaba de cumprir com êxito a mais importante das missões cívicas dos últimos anos da nossa História, proclama à Nação a sua intenção de levar a cabo, até à sua completa realização, um programa de salvação do País e da restituição ao Povo Português das liberdades cívicas de que tem sido privado.Para o efeito entrega o Governo a uma Junta de Salvação Nacional a quem exige o compromisso, de acordo com as linhas gerais do programa do Movimento das Forças Armadas que, através dos órgãos informativos será dado a conhecer à Nação, de no mais curto prazo consentido pela necessidade de adequação das nossas estruturas, promover eleições gerais de uma Assembleia Nacional Constituinte, cujos poderes por sua representatividade e liberdade na eleição, permitam ao País escolher livremente a sua forma de vida social e política.Certos de que a Nação está connosco e que, atentos aos fins que nos presidem, aceitará de bom grado o Governo militar que terá de vigorar nesta fase de transição, o Movimento das Forças Armadas apela para a calma e civismo de todos os portugueses e espera do País adesão aos poderes instituídos em seu benefício.Saberemos, deste modo, honrar o passado no respeito pelos compromissos assumidos perante o País e por este perante terceiros. E ficamos na plena consciência de haver cumprido o dever sagrado da restituição à Nação dos seus legítimos e legais poderes. "

24 de Abril de 1974 às 22:00 Começam a reunir-se os elementos do MFA no Posto de Comando, instalado no Regimento de Engenharia N.º 1, na Pontinha: os Tenentes-Coronéis Lopes Pires e Garcia dos Santos, os Majores Otelo Saraiva de Carvalho, Sanches Osório e Hugo dos Santos, o Capitão-Tenente Victor Crespo e o Capitão Luís Macedo.


O Desencadear das Acções, de Lopes Pires
"Posto de Comando do Movimento das Forças ArmadasVinte e duas horas do dia 24 de Abril de 1974.“... Meti-me no automóvel e encaminhei-me para a Pontinha.”“... Felizmente cheguei ao quartel sem que nada acontecesse.”“... O Sanches Osório acabara, também, de chegar. Trocámos um abraço e subimos a um quarto, onde nos fardámos. Mal começáramos entrou o Otelo, esfuziante como sempre. Mais uns abraços e uma frase optimista que traduzia bem o nosso desejo:- Agora é que esta merda vai ao ar!Encaminhámo-nos para o barracão da biblioteca, onde fora montado o Posto de Comando. Ali encontrámos o Garcia dos Santos às voltas com as transmissões. As janelas estavam tapadas com cobertores, para ocultar as luzes. Em cima de duas mesas via-se uma infinidade de telefones que, juntamente com os postos de rádio instalados no exterior, nos assegurariam a ligação com todas as forças intervenientes.”“... Chegou, entretanto, o Victor Crespo. Vinha com o uniforme n.º 1, impecável na sua farda azul, o que levou o Otelo a perguntar-lhe, risonho, se ia a alguma festa. O Hugo dos Santos só apareceria mais tarde, pois vinha de Tomar onde o seu Batalhão se preparava para seguir com destino à Guiné. O Otelo pendurou, então, o mapa do Automóvel Clube de Portugal (o único de todo o País de que dispunhamos) por onde seguíamos o desenrolar das operações. Ninguém perguntou quem as comandaria... Todos estávamos conscientes de que teríamos de funcionar como uma verdadeira equipa e que as decisões seriam tomadas em conjunto.”“... Alguns oficiais do regimento juntaram-se a nós e ligámos a telefonia, à espera do primeiro sinal que seria transmitido pelos Emissores Associados de Lisboa.”“... Ao aproximar-se o momento fez-se silêncio absoluto na sala e todos nós, de nervos e ouvidos atentos, aguardámos. O locutor disse:- Faltam cinco minutos para as onze horas. E agora apresentamos Paulo de Carvalho em “E Depois do Adeus”. O primeiro passo fora dado. A máquina começara a funcionar.”“... Ao aproximar-se a meia-noite e vinte novamente se fez silêncio. A Rádio Renascença devia transmitir o segundo sinal, aquele que seria o da confirmação.”“... Ouviu-se a leitura da primeira quadra de “Grândola Vila Morena” a que se seguiu o cantar, que nos pareceu maravilhoso, do Zeca Afonso.”“Alguém gritou entusiasmado:- Agora seja o que Deus quiser!”Lisboa, 5 de Maio de 1974.Nuno Fisher Lopes Pires, Ten-Cor de Engenharia. "


24 de Abril de 1974 às 22:55 Os Emissores Associados de Lisboa transmitem a canção "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, primeiro sinal do MFA, confirmando que tudo corria bem.

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