segunda-feira, 7 de abril de 2008

O 25 de Abril

O 25 de Abril
Os acontecimentos deste dia revelam que o Movimento das Forças Armadas estava organizado e que era mais do que uma organização corporativista. Os miltares da Revolução preconizaram um momento da História Portuguesa, com milhares de outros protagonistas anónimos.Situações impossíveis apenas 24 horas antes, marcaram os derradeiros momentos do Estado Novo. Imaginemos o Terreiro do Paço entre as 8 e as 11 da manhã, o Largo do Carmo ao meio-dia, e, mesmo, a tensão vivida na António Maria Cardoso durante toda a tarde.Foi a Revolução dos Cravos.

00:20 A Rádio Renascença transmite a canção "Grândola, Vila Morena", de José Afonso, segundo sinal do MFA, para que os militares dessem início às operações previstas.

03:00 Início do cumprimento das missões militares, de acordo com o "Plano Geral das Operações".As principais forças do MFA são as seguintes:
Regimento de Engenharia N.º 1 (RE1), Lisboa
Escola Prática de Administração Militar (EPAM), Lisboa
Batalhão de Caçadores N.º 5 (BC 5), Lisboa
Regimento de Artilharia Ligeira N.º 1 (RAL1), Lisboa
Carreira de Tiro da Serra da Carregueira (CTSC), Lisboa
Regimento de Infantaria N.º 1 (RI1), Lisboa
Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e de Costa (CIAAC), Lisboa
Regimento de Artilharia Antiaérea Fixa (RAAF), Lisboa
10º Grupo de Comandos, Lisboa
Escola Prática de Infantaria (EPI), Mafra
Escola Prática de Cavalaria (EPC), Santarém
Escola Prática de Artilharia (EPA), Vendas Novas
Regimento de Cavalaria N.º 3 (RC3), Estremoz
Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), Lamego
Agrupamento do NorteSão consideradas forças inimigas:
Guarda Nacional Republicana (GNR)
Polícia de Segurança Pública (PSP)
Direcção-Geral de Segurança (PIDE/DGS)
Legião Portuguesa (LP)
Regimento de Cavalaria N.º 7 (RC7)
Regimento de Lanceiros N.º 2 (RL2)
03:10 Principais movimentações das forças do MFA:
Quartel General da Região Militar de Lisboa, ocupado por uma companhia do BC 5;
Rádio Clube Português (RCP), defendida por outra companhia do BC 5 e ocupada pelo 10º Grupo de Comandos;
Rádio Televisão Portuguesa (RTP), estúdios do Lumiar ocupados pela EPAM;
Emissora Nacional, estúdios ocupados pelo CTSC;
Posicionamento de uma bateria da EPA em Almada;
A EPC dirige-se ao Terreiro do Paço;
EPI sai para ocupar o Aeroporto de Lisboa;
Companhias de Caçadores ocupam as antenas do RCP;
5º Grupo de Comandos sai de Tomar para intervir no RC 7;
Força do RI 14 junta-se à da Figueira da Foz;
Sai uma força da EPE de Tancos;
O CIOE vai ocupar a sede da PIDE/DGS no Porto.

04:00 O BC 5 garante a segurança da residência do General Spínola.

04:20 O Rádio Clube Português transmite o primeiro comunicado do MFA. O Aeroporto de Lisboa é ocupado pela EPI.
Transmissão do primeiro comunicado do MFA emitido às 04:20 pelo Posto de Comando

Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 04:20h
"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária.

04:45Transmissão do segundo comunicado do MFA."
Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 04:45h
"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.A todos os elementos das forças militarizadas e policiais o comando do Movimento das Forças Armadas aconselha a máxima prudência, a fim de serem evitados quaisquer recontros perigosos.Não há intenção deliberada de fazer correr sangue desnecessariamente, mas tal acontecerá caso alguma provocação se venha a verificar.Apelamos para que regressem imediatamente aos seus quartéis, aguardando as ordens que lhes serão dadas pelo Movimento das Forças Armadas.Serão severamente responsabilizados todos os comandos que tentarem, por qualquer forma, conduzir os seus subordinados à luta com as Forças Armadas. "

05:15 O Aeródromo de Tires é ocupado é ocupado pelo CIAAC. Transmissão do terceiro comunicado do MFA.

Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 05:15h
"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.Atenção elementos das forças militarizadas e policiais. Uma vez que as Força Armadas decidiram tomar a seu cargo a presente situação, será considerado delito grave qualquer oposição das forças militarizadas e policiais às unidades militares que cercam a cidade de Lisboa.A não obediência a este aviso poderá provocar um inútil derramamento de sangue cuja responsabilidade lhes será inteiramente atribuída.Deverão, por conseguinte, conservar-se dentro dos seus quartéis até receberem ordens do Movimento das Forças Armadas.Os comandos das forças militarizadas e policiais serão severamente responsabilizados caso incitem os seus subordinados à luta armada. "

05:45 A Escola Prática de Cavalaria ocupa o Terreiro do Paço. Transmissão do quarto comunicado do MFA.
O Terreiro do Paço ocupado no final da madrugada do dia 25 de Abril.
As tropas de oposição ao governo ocupam o Terreiro do Paço no final da madrugada do dia 25 de Abril.

06:00 A EPC cerca os ministérios, a Câmara Municipal de Lisboa, os acessos ao Governo Civil, o Banco de Portugal e a Rádio Marconi.
O Tenente de Inf. Nelson dos Santos, em frente ao Ministério do Exército, no Terreiro do Paço, aguarda com outros oficiais, para proceder à prisão das altas individualidades militares.

06:30 Chegada ao Terreiro do Paço de um pelotão do Regimento de Cavalaria 7, fiel ao Governo, comandado pelo Alferes Miliciano David e Silva que, após conversações, se coloca às ordens do MFA.

06:45 O Posto de Comando toma conhecimento de que Marcelo Caetano, Presidente do Conselho de Ministros, está no Quartel do Carmo.

07:00 O Agrupamento do Norte dirige-se ao Forte de Peniche, prisão da PIDE/DGS. O RAP 2 toma posição junto à ponte da Arrábida e a EPA junto ao Cristo Rei, em Almada. No Terreiro do Paço, oficiais da Polícia Militar e o Capitão Maltez da PSP, põem-se às ordens de Salgueiro Maia após conversações.
Os instruendos da Escola Prática de Cavalaria utilizam as carrinhas da PSP como protecção, ainda no Terreiro do Paço.
Capitão Salgueiro Maia, Tavares de Almeida e o Alferes Miliciano Maia Loureiro mandam descongestionar o trânsito no Terreiro do Paço, aos guardas da PSP, que entretanto se puseram à disposição da Escola Prática de Cavalaria.

07:30 Transmissão de outro comunicado do MFA. Chegada à Ribeira das Naus de nova força do RC 7, comandada pelo Tenente-Coronel Ferrand de Almeida.
Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 07:30h
"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.Conforme tem sido transmitido, as Forças Armadas desencadearam na madrugada de hoje uma série de acções com vista à libertação do País do regime que há longo tempo o domina.Nos seus comunicados as Forças Armadas têm apelado para a não intervenção das forças policiais com o objectivo de se evitar derramamento de sangue. Embora este desejo se mantenha firme, não se hesitará em responder decidida e implacavelmente a qualquer oposição que se venha a manifestar.Consciente de que interpreta os verdadeiros sentimentos da Nação, o Movimento das Forças Armadas prosseguirá na sua acção libertadora e pede à população que se mantenha calma e que se recolha às suas residências.No momento presente encontram-se já dominados e ocupados os seguintes objectivos:- Rádio Marconi- Rádio Clube Português- Emissora Nacional- Radiotelevisão Portuguesa- Banco de Portugal- Quartel General do Porto- Aeroporto da Portela- Terreiro do Paço- Quartel General de LisboaAs tropas prosseguem decididamente no desempenho das missões que lhes foram atribuídas.Viva Portugal! "

Ao largo da praça do Município instruendos da EPC, pertencentes ao 5.º pelotão de atiradores esperam, as forças leais ao Governo.
Na praça do Município instruendos da EPC, pertencentes ao 5.º pelotão de atiradores esperam, de armas na mão, as forças leais ao Governo.

08:00 Uma força do Regimento de Lanceiros 2, contrária ao MFA, toma posição na Ribeira das Naus, em Lisboa. Prisão do Tenente-Coronel Ferrand de Almeida por Salgueiro Maia.
Ferrand de Almeida, Salgueiro Maia e o seu adjunto Assunção, são os protagonistas dos primeiros momentos de tensão, quando forças fiéis ao governo, progrediram do Cais do Sodré em direcção aos blindados da EPC.

08:30 Uma força da PSP chega ao Terreiro do Paço, mas nem tenta entrar em confronto com as tropas de Salgueiro Maia.
Capitão Salgueiro Maia, Tavares de Almeida e o Alferes Miliciano Maia Loureiro mandam descongestionar o trânsito no Terreiro do Paço, aos guardas da PSP, que entretanto se puseram à disposição da Escola Prática de Cavalaria.

09:00 A fragata "Gago Coutinho" - que integrava as forças da NATO em exercícios – toma posição frente ao Terreiro do Paço, recebendo ordens para disparar sobre as tropas de Maia, mas não chega a fazê-lo.
O dispositivo militar ocupa o Terreiro do Paço na madrugada do dia 25 de Abril e surpreende-se com a presença dos navios da Nato que já deviam ter-se feito ao largo para partirem no exercício "Dawn Patrol".

09:30 Os ministros da Defesa, da Informação e Turismo, do Exército e da Marinha, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, o Governador Militar de Lisboa, o sub-secretário de Estado do Exército e o Almirante Henrique Tenreiro fogem por um buraco que abriram na parede do ministério do Exército e dirigem-se para o Regimento de Lanceiros 2, onde instalaram o Posto de Comando das forças leais ao Governo.
Buraco aberto na parede do ministério do Exército por onde fugiram vários ministros e o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, dirigindo-se para Posto de Comando das forças leais ao Governo.
09:35 Forças leais ao Governo, comandadas pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis, chegam ao Terreiro do Paço.

10:00 Na Ribeira das Naus, o Alferes Miliciano Fernando Sottomayor, do RC 7, não obedece às ordens do Brigadeiro Junqueira dos Reis para disparar sobre Salgueiro Maia e as suas tropas, o que leva o Brigadeiro a dar ordem de prisão a Sottomayor e a ordenar aos soldados que disparassem. Tendo-se estes recusado também a disparar, Junqueira dos Reis dispara dois tiros para o ar, abandona o local e dirige-se para a rua do Arsenal.
Na Rua do Arsenal, tanques da Escola Prática de Cavalaria barram o caminho às forças fiéis ao Governo. Salgueiro Maia regressa ao Terreiro do Paço e em cima do carro de combate, reconhece-se o Alferes Cardoso, hoje Tenente-Coronel.

10:30 Rendição do Major Pato Anselmo, do RC 7 e transmissão de um novo comunicado do MFA.
Jaime Neves e Pato Anselmo entre outros, são os protagonistas dos primeiros momentos de tensão, quando forças fiéis ao governo, progrediram do Cais do Sodré em direcção aos blindados da EPC.
Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 10:30h
"O Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas constata que a população civil não está a respeitar o apelo já efectuado várias vezes para que se mantenha em casa.Pede-se mais uma vez à população que permaneça nas suas casas a fim de não pôr em perigo a sua própria integridade física. Em breve será radiodifundido um comunicado esclarecendo o domínio da situação. "

10:45 Na Rua do Arsenal, o Brigadeiro Junqueira dos Reis dá ordem de fogo sobre o Tenente Alfredo Assunção, que fora enviado por Salgueiro Maia para negociar com as forças de Junqueira dos Reis. Tendo sido, de novo, desobedecido pelos seus militares, acaba por dar três murros no Tenente Assunção.
Na Rua do Arsenal, tanques da Escola Prática de Cavalaria barram o caminho às forças fiéis ao Governo, uma parte recua sob o comando do Brigadeiro Reis e outra passa-se para o lado dos revoltosos.

11:30 O Posto de Comando envia uma coluna militar, comandada pelo Major Jaime Neves, para ocupar a Legião Portuguesa na Penha de França e uma coluna, comandada por Salgueiro Maia, para o Quartel do Carmo, onde se encontravam Marcelo Caetano, Rui Patrício, ministro dos Negócios Estrangeiros e Moreira Baptista, ministro da Informação e Turismo.Salgueiro Maia comanda as forças da EPC que vão cercar o Quartel da GNR no Largo do Carmo, em Lisboa.
Salgueiro Maia atinge o Largo do Carmo. Em segundo plano o Capitão Tavares de Almeida e o Aspirante Laranjeira à civil.

11:45 O MFA informa o país, através do RCP, que domina a situação de Norte a Sul.
Foi cumprida a missão inicial: ocupar a Baixa de Lisboa.
Dono da situação, Salgueiro Maia reorganiza a força, que conta agora com carros de combate pertencentes às unidades até há pouco leais ao governo.

Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 11:45h
"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.Na sequência das acções desencadeadas na madrugada de hoje com o objectivo de salvar o País do regime que há longo tempo oprime, as Forças Armadas informam que, de Norte a Sul, dominam a situação e que em breve chegará a hora da libertação.Reafirma-se o desejo veemente de evitar derramamento de sangue mas igualmente se reafirma a decisão inabalável de responder decidida e implacavelmente a qualquer oposição que as Forças Militarizadas e Policiais pretendam oferecer.Recomenda-se, de novo, à população que se mantenha calma e nas suas residências, para evitar incidentes desagradáveis cuja responsabilidade caberá exclusivamente às poucas forças que se opõem ao Movimento.Ciente de que interpreta fielmente os verdadeiros sentimentos da Nação, o Movimento das Forças Armadas prosseguirá inabalável no cumprimento da missão que a sua consciência de portugueses e militares lhes impôs.Viva Portugal! "

11:50 Os oficiais feitos prisioneiros no Terreiro do Paço são enviados para o Posto de Comando, na Pontinha.

12:00 Uma força do Regimento de Infantaria 1 tenta impedir o acesso da coluna da EPC ao Quartel do Carmo, mas Salgueiro Maia convence-os a juntarem-se às suas tropas.
Salgueiro Maia atinge o Largo do Carmo e manda ocupar as ruas envolventes e cerca o quartel.
Salgueiro Maia e o Tenente Santos Silva conversam com o Major Velasco da GNR, acompanhados dos homens das transmissões, no Largo do Carmo.

12:15 A coluna da EPC, comandada por Salgueiro Maia, chega ao Chiado pela Rua do Carmo, envolvida por uma multidão de apoiantes civis.

A confiança expressa desde a primeira hora pela multidão transmite-se aos soldados do Alferes Marcelino, Comandante do 1.º pelotão de atiradores.

12:30 As forças de Salgueiro Maia cercam o Largo do Carmo e recebem ordens do Posto de Comando para abrir fogo sobre o Quartel da GNR, para obter a rendição de Marcelo Caetano.
O dispositivo militar instala-se no Largo do Carmo.

12:45 A população distribui comida, leite e cigarros pelos militares presentes no Largo do Carmo. Forças da GNR tomam posição na retaguarda das tropas de Salgueiro Maia, em defesa do regime.

13:00 O Brigadeiro Junqueira dos Reis tenta cercar as forças de Salgueiro Maia com a ajuda da GNR, da Polícia de Choque e uma companhia do RI 1. Forças do RC 3 chegam à ponte sobre o Tejo e dirigem-se ao Largo do Carmo. É transmitido novo comunicado do MFA.

Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 13:00h
"O Movimento das Forças Armadas informa as famílias de todos os seus elementos que eles se encontram bem e que tudo decorre dentro do previsto. "

13:30 Um helicanhão sobrevoa o Largo do Carmo, provocando ansiedade entre militares e civis.

13:40 Forças do MFA ocupam a sede da Legião Portuguesa.

14:00 A companhia do Regimento de Infantaria 1 que apoiava Junqueira dos Reis, passa-se para o lado de Salgueiro Maia. Iniciam-se as conversações entre o General Spínola e Marcelo Caetano, para a obtenção da rendição do Presidente do Conselho, através de intermediários.

14:30 Transmissão novo comunicado do MFA, informando que estavam ocupados os principais objectivos. O esquadrão do RC 3, comandado pelo Capitão Ferreira, cerca as tropas do Brigadeiro Junqueira dos Reis.
Transmissão de um comunicado do MFA emitido às 14:30 pelo Posto de Comando
Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 14:30h
"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.Pretendendo continuar a informar o País sobre o desenrolar dos acontecimentos históricos que se estão processando, o Movimento das Forças Armadas comunica que as operações iniciadas na madrugada de hoje se desenrolam de acordo com as previsões, encontrando-se dominados vários objectivos importantes de entre os quais de citam os seguintes:- Comando da Legião Portuguesa- Emissora nacional- Rádio Clube Português- Radiotelevisão Portuguesa- Rádio Marconi- Banco de Portugal- Quartel-General da Região Militar de Lisboa- Quartel-General da Região Militar do Porto- Instalações do Quartel-Mestre-General- Ministério do Exército, donde o respectivo Ministro se pôs em fuga- Aeroporto da Portela- Aeródromo Base n.º 1- Manutenção Militar- Forte de PenicheS. Ex.ª o Almirante Américo Tomás, S. Ex.ª o Prof. Marcelo Caetano e os membros do Governo encontram-se cercados por forças do Movimento no quartel da Guarda Nacional Republicana, no Carmo, e no Regimento de Lanceiros 2 tendo já sido apresentado um ultimato para a sua rendição.O Movimento domina a situação em todo o País e recomenda, uma vez mais, a toda a população que se mantenha calma. Renova-se, também, a indicação já difundida para encerramento imediato dos estabelecimentos comerciais, por forma a não ser forçoso decretar o recolher obrigatório.Viva Portugal! "

15:00 Por ordem do Posto de Comando, Salgueiro Maia pega num megafone e faz um ultimato à GNR para que se renda, ameaçando rebentar com os portões do Quartel do Carmo. É transmitido novo comunicado do MFA.
Salgueiro Maia pega num megafone e dá ordens à GNR para que se renda, ameaçando com fogo sobre os portões do Quartel do Carmo.
Transmissão de um comunicado do MFA emitido às 15:00 pelo Posto de Comando
Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 15:00h
"O Movimento das Forças Armadas, tendo conhecimento de que elementos da Guarda Nacional Republicana se fazem passar por elementos amigos avisa de que tais elementos são adversos, pelo que aconselha a população a abandonar o Largo do Carmo e o Rossio. "
15:15 Forças da EPA recebem ordens para libertar os militares presos no Forte da Trafaria, na sequência do 16 de Março.
A saída em falso do Reg. das Caldas da Rainha a 16 de Março de 1974, como reacção à demissão de Costa Gomes e de Spínola, constituiu o ensaio militar do dia 25 de Abril.

15:30 Disparos sobre a fachada do Quartel do Carmo, por ordem de Salgueiro Maia, o que obriga ao reinício das conversações para a rendição de Marcelo Caetano.
Disparos sobre a fachada do Quartel do Carmo, sob as ordens de Salgueiro Maia, obriga a população a refugiar-se.

16:15 Elementos da PIDE/DGS abrem fogo sobre a multidão que cerca a sua sede, na rua António Maria Cardoso, provocando um morto e vários feridos.
Rua António Maria Cardoso, onde se situa a sede da PIDE/DGS.
Forças de cavalaria, de infantaria e da marinha ocupam as entradas da rua António Maria Cardoso, onde se situa a sede da PIDE/DGS.

16:25 Em consequência da não evolução das negociações para a rendição de Marcelo Caetano, Salgueiro Maia coloca um blindado frente ao Quartel e inicia a contagem para abrir fogo, quando é interrompido por Pedro Feytor-Pinto e Nuno Távora, da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, que se dizem portadores de uma mensagem do General Spínola para Marcelo Caetano. Salgueiro Maia autoriza a entrada no Quartel desses dois mensageiros.

16:30 Contactos telefónicos entre o Spínola, Marcelo Caetano e o Posto de Comando do MFA.

17:00 Salgueiro Maia entra no Quartel do Carmo e exige a rendição a Marcelo Caetano, que lhe responde que só se renderia a um Oficial-General para que o Poder não caísse na rua. O Posto de Comando mandata o General Spínola para ir receber a rendição de Marcelo Caetano ao Quartel do Carmo.
Os militares experimentam cada vez mais dificuldades para conterem a multidão que aguarda o carro em que se transporta o General Spínola.

17:30 Transmissão de outro comunicado do MFA.
Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 17:30h
"O Movimento das Forças Armadas tem ocupados os estúdios da RTP em Lisboa e no Porto, embora no centro emissor de Monsanto se registe uma interferência provocada por forças da reacção que, a todo o momento, serão dominadas.Logo de seguida, a Radiotelevisão Portuguesa entrará ao serviço do Movimento das Forças Armadas e do País, noticiando os seus comunicados. "
18:00 Spínola chega ao Largo do Carmo e, acompanhado por Salgueiro Maia, entra no Quartel para dialogar com Marcelo Caetano.
Spínola chega ao Largo do Carmo completamente rodeado pela população em euforia.

18:20 Transmissão de novo comunicado do MFA.
Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 18:20h
"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.Em aditamento ao último comunicado, o Movimento das Forças Armadas informa a Nação de que conseguiu forçar a entrada no Quartel da Guarda Nacional Republicana, situado no Largo do Carmo, onde se encontrava o ex-Presidente do Conselho e outros membros do seu ex-Governo.O Regimento de Lanceiros 2, onde se recolheram outros elementos do seu ex-Governo, entregou-se ao Movimento das Forças Armadas, sem que houvesse necessidade do emprego da força que os cercava.A quase totalidade da Guarda Nacional Republicana, incluindo o seu comando e a maioria dos elementos da Polícia de Segurança Pública, já se renderam ao Movimento das Forças Armadas.O MFA agradece à população civil todo o carinho e apoio que tem prestado aos seus soldados, insistindo na necessidade de ser mantido o seu valor cívico ao mais alto grau. Solicita também que se mantenha nas suas residências durante a noite, a fim de não perturbar a consolidação das operações em curso, prevendo-se que possa retomar as suas actividades normais amanhã, dia 26.Viva Portugal! "

18:30 A Chaimite Bula entra no Quartel do Carmo para transportar Marcelo Caetano à Pontinha.
Reportagem sobre a entrada da chaimite Bula no Quartel do Carmo
Aceite a rendição de Marcelo Caetano, iniciam-se os preparativos para o transporte até à Pontinha do chefe do Governo e respectivos ministros, que abandonam o local num blindado.

18:40 Declaração do MFA na RTP.

18:45 Decreto-Lei 171/74: extinção da PIDE/DGS, Legião Portuguesa e Mocidade Portuguesa.
"Tendo a Junta de Salvação Nacional assumido os poderes legislativos que competem ao Governo, decreta, para valer como lei, o seguinte:ARTIGO 1º1. É extinta a Direcção-Geral de Segurança, criada pelo Decreto-Lei n.º 49 401, de 24 de Novembro de 1969.2. No ultramar, depois de saneada, reorganizar-se-à em Polícia de Informação Militar, nas províncias em que as operações Militares o exigirem.ARTIGO 2ºÉ extinta a Legião Portuguesa, criada pelo Decreto-Lei n.º 27 058, de 30 de Setembro de 1936.ARTIGO 3ºSão extintas a Mocidade Portuguesa e a Mocidade Portuguesa Feminina, criadas pela Lei n. 1941, de 11 de Abril de 1936, actualizada pelo Decreto-Lei n. 486/71, de 8 de Novembro.ARTIGO 4ºÉ extinto o Secretariado para a Juventude, criado pelo Decreto-Lei n.º 446/71, de 25 de Outubro.ARTIGO 5ºFicarão na dependência das Forças Armadas e à sua custódia todo o material mecânico, veículos, armamento e munições, mobiliário, livros, papéis de escrituração, documentos e demais elementos afectos à extinta Direcção-Geral de Segurança.ARTIGO 6ºPassam a ser atribuições da Polícia Judiciária as seguintes:a) Efectuar a investigação dos crimes contra a segurança interior e exterior do Estado, procedendo a instrução preparatória dos respectivos processos;b) Realizar a instrução preparatória relativamente às informações do regime legal de passagem das fronteiras e de entrada e permanência de estrangeiros em território nacional.ARTIGO 7ºEnquanto não for criado serviço próprio, passa a ser atribuição da Guarda Fiscal vigiar e fiscalizar as fronteiras terrestres, marítimas e aéreas.ARTIGO 8ºEste diploma entra imediatamente em vigor.Visto e aprovado pela Junta de Salvação Nacional em 25 de Abril de 1974 Publique-se.O Presidente da Junta de Salvação Nacional, António de Spínola.Para ser publicado em todos os Boletins Oficiais dos Estados e províncias ultramarinos.
Extinção da Direcção-Geral de Segurança, da Legião Portuguesa e da Mocidade Portuguesa "

Destituição dos Dirigentes Fascistas (Lei 1/74 de 25 de Abril)
"O programa do Movimento das Forças Armadas Portuguesas prevê a destituição imediata do Presidente da República e do actual Governo, a dissolução da Assembleia Nacional e do Conselho de Estado.Nestes termos, a Junta de Salvação Nacional decreta, para valer como lei constitucional, o seguinte:ARTIGO 1º1. É destituído das funções de Presidente da Republica o almirante Américo Deus Rodrigues Tomás.2. São exonerados das suas funções o Presidente do Conselho, Prof. Doutor Marcelo José das Neves Alves Caetano, e os Ministros, Secretários e Subsecretários de Estado do seu Gabinete.3. A Assembleia Nacional e o Conselho de Estado são dissolvidos.ARTIGO 2ºOs poderes atribuído aos órgãos referidos no artigo anterior passam a ser exercidos pela Junta de Salvação Nacional.ARTIGO 3ºEste diploma entra imediatamente em vigor. Visto e aprovado pela Junta de Salvação Nacional em 25 de Abril de 1974. Publique-se.O Presidente da Junta de Salvação Nacional, António de Spínola.Para ser publicada em todos os Boletins Oficiais dos Estados e províncias ultramarinos. "

19:00 Marcelo Caetano e os ministros Rui Patrício e Moreira Baptista entram na Chaimite Bula.
Aceite a rendição de Marcelo Caetano, abrem-se os portões do quartel do Carmo e iniciam-se os preparativos para o transporte até à Pontinha do chefe do Governo e dos ministros, que abandonam o local num Chaimite de nome Bula.

19:30 Salgueiro Maia levanta o cerco ao Largo do Carmo e conduz Marcelo Caetano e os ministros ao Posto de Comando, na Chaimite Bula, literalmente envolvida por uma enorme multidão que grita "Vitória! Vitória! Vitória!". A população manifesta-se nas ruas de Lisboa, durante o percurso da “Bula” até ao Posto de Comando e, cerca de 20 minutos depois é emitido novo comunicado do MFA.
Aceite a rendição de Marcelo Caetano, iniciam-se os preparativos para o transporte do chefe do Governo e respectivos ministros. Um coro gigantesco de assobios e palavras de ordem acompanham a saída da coluna de passageiros.

Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 19:50h
"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.Continuando a dar cumprimento à sua obrigação de manter o País ao corrente do desenrolar dos acontecimentos, o Movimento das Forças Armadas informa que se concretizou a queda do Governo, tendo Sua Ex.ª o Prof. Marcelo Caetano apresentado a sua rendição incondicional a Sua Ex.ª o General António de Spínola. O ex-presidente do conselho, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e o ex-ministro do Interior encontram-se sob custódia do Movimento, enquanto Sua Ex.ª o Almirante Américo Tomás e alguns ex-ministros do Governo se encontram refugiados em dois aquartelamentos que estão cercados pelas nossas tropas e cuja rendição se aguarda para breve.O Movimento das Forças Armadas agradece a toda a população o civismo e a colaboração demonstrados de maneira inequívoca desde o início dos acontecimentos, prova evidente de que ele era o intérprete do pensamento e dos anseios nacionais.Continua a recomendar-se a maior calma e a estrita obediência a todas as indicações que forem transmitidas. Espera-se que amanhã a vida possa retomar o seu ritmo normal, por forma a que todos, em perfeita união, consigamos construir um futuro melhor para o País.Viva Portugal! "
Reportagem sobre a saída do Professor Marcelo Caetano do Quartel do Carmo e entrega do poder ao General Spínola

20:00 Transmissão da Proclamação do MFA através do RCP.

Proclamação do MFA, distribuído à Imprensa no dia 25 de Abril de 1974
"Considerando que ao fim de 13 anos de luta em terras do Ultramar, o sistema político vigente não conseguiu definir, concreta e objectivamente, uma política ultramarina que conduza à Paz entre os Portugueses de todas as raças e credos;Considerando o crescente clima de total afastamento dos Portugueses em relação às responsabilidades políticas que lhes cabem com cidadãos, em crescente desenvolvimento de uma tutela de que resulta constante apelo a deveres com paralela denegação de direitos;Considerando a necessidade de sanear as instituições, eliminando do nosso sistema de vida todas as ilegitimidades que o abuso do Poder tem vindo a legalizar;Considerando, finalmente, que o dever das Forças Armadas é a defesa do País, como tal se entendendo também a liberdade cívica dos seus cidadãos;O Movimento das Forças Armadas, que acaba de cumprir com êxito a mais importante das missões cívicas dos últimos anos da nossa História, proclama à Nação a sua intenção de levar a cabo, até à sua completa realização, um programa de salvação do País e da restituição ao Povo Português das liberdades cívicas de que tem sido privado.Para o efeito entrega o Governo a uma Junta de Salvação Nacional a quem exige o compromisso, de acordo com as linhas gerais do programa do Movimento das Forças Armadas que, através dos órgãos informativos será dado a conhecer à Nação, de no mais curto prazo consentido pela necessidade de adequação das nossas estruturas, promover eleições gerais de uma Assembleia Nacional Constituinte, cujos poderes por sua representatividade e liberdade na eleição, permitam ao País escolher livremente a sua forma de vida social e política.Certos de que a Nação está connosco e que, atentos aos fins que nos presidem, aceitará de bom grado o Governo militar que terá de vigorar nesta fase de transição, o Movimento das Forças Armadas apela para a calma e civismo de todos os portugueses e espera do País adesão aos poderes instituídos em seu benefício.Saberemos, deste modo, honrar o passado no respeito pelos compromissos assumidos perante o País e por este perante terceiros. E ficamos na plena consciência de haver cumprido o dever sagrado da restituição à Nação dos seus legítimos e legais poderes. "

Reportagem sobre a Proclamção do MFA

21:00 A Chaimite Bula chega ao Posto de Comando com Marcelo Caetano e os dois ministros, que ali ficam detidos até ao dia seguinte.Elementos da PIDE/DGS disparam sobre a população que cerca a sua sede, causando 4 mortos e 45 feridos. Forças da Marinha juntam-se ao MFA, alcançando a rendição da PIDE/DGS.

Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 21:00h
"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.Segundo comunicação telefónica aqui recebida cerca das 20.30h, ter-se-iam verificado incidentes na Rua António Maria Cardoso, onde se situa a sede da DGS.No decorrer desses incidentes, foram feridas algumas pessoas, encontrando-se já no local assistência médica. Aguarda-se a todo o momento a intervenção das Forças Armadas. Estes incidentes vêm uma vez mais confirmar a necessidade de a população civil cumprir o pedido formulado pelo MFA, recolhendo às suas residências e mantendo a calma."

Forças de cavalaria, de infantaria e da marinha ocupam as entradas da rua António Maria Cardoso, onde se situa a sede da PIDE/DGS.

22:00 Forças de paraquedistas chegam à prisão de Caxias, onde a PIDE/DGS ainda resiste. É transmitido novo comunicado do MFA.
Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 22:00h
"Para conhecimento de toda a população informa-se que se encontram sanados os incidentes ocorridos com a Polícia de Segurança Pública e que, a partir deste momento, ela aderiu totalmente ao Movimento. Assim, com a finalidade de manter a ordem e salvaguardar as vidas e os bens, pede-se a todos que aceitem, obediente e prontamente, quaisquer indicações que lhes sejam transmitidas por elementos daquela corporação ou da Polícia Militar. Igualmente deverão ser obedecidos os agentes das Brigadas de Trânsito. Torna-se indispensável que a população continue a manifestar a sua compreensão e civismo. E a melhor forma de o fazer no momento é manter-se calmamente nas suas residências. "

23:30 São promulgadas a destituição dos dirigentes fascistas (através da Lei 1/74) e a extinção da PIDE/DGS, da Legião Portuguesa e da Mocidade Portuguesa.

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