quarta-feira, 14 de maio de 2008

7ºANO:BIOGRAFIA "SÓCRATES" ANTIGA GRÉCIA-FILOSOFIA

SÓCRATES
Do seu legado não constam documentos escritos. Mas reconstruindo a vida de Sócrates através dos diálogos que manteve com amigos, discípulos e adversários chegamos ao imortal filósofo que buscou incessantemente o conhecimento e a verdade. Gravada no pórtico do templo de Delfos, a frase "conhece-te a ti mesmo" tornou-se no lema da missão do filósofo.

Introdução
Apesar de não ter deixado obra escrita, o testemunho dado pelos seus discípulos, em especial através dos diálogos de Platão, tornaram Sócrates (c.470-399 a.C.) uma figura imortal e enigmática. Filho do escultor Sofronisco e da parteira Fenareta, do seu legado não constam documentos escritos, pelo que para a sua reconstituição, dependemos de relatos da vida e dos diálogos que manteve com amigos, discípulos e adversários.As opiniões sobre o filósofo divergem: para Chroust os que escreveram sobre Sócrates fizeram-no deliberamente para criar um mito, enquanto que Gigon atribui-lhe uma diminuta existência história. Posições que diferem da de Jaeger que considera Sócrates o ?fenómeno educativo mais poderoso da história do ocidente?. Começando por se interessar pelas teorias científicas de Anaxágoras, mais tarde abandonou as pesquisas do mundo físico para se dedicar à investigação do desenvolvimento da moral e do carácter. Foi soldado, tendo servido o país com distinção em várias incursões, como as de Delos, Anfipólis e Potidéia na guerra do Peloponeso, após a qual se envolveu no tumulto político que consumiu Atenas. Depois de receber a herança de seu pai, usou a sua escassa independência económica para se dedicar à prática filosófica do diálogo.
As fontes
Pelo seu compromisso inabalável com a verdade, pelo uso do pensamento crítico, Sócrates estabeleceu os fundamentos para a Filosofia ocidental que o seguiria. O diálogo, e não a escrita, segundo o filósofo, era o caminho que levaria ao conhecimento. Na obra Fedro, de Platão, pode ler-se: ?Sócrates: - O maior inconveniente da escrita parece-se, caro Fedro, se bem julgo, com a Pintura. As figuras pintadas têm atitudes de seres vivos, mas se alguém as interrogar, manter-se-ão silenciosas, o mesmo acontecendo com os discursos (...)".Até nós, o testemunho de Sócrates chega através de quatro principais fontes. O comediógrafo Aristófanes, na sua comédia As Nuvens, caricaturando o filósofo, retrata o mestre de uma escola na qual se investigam os fenómenos da Natureza e se ensina a preferir o raciocínio injusto. Xenofonte, discípulo de Sócrates por algum tempo, em Apologia de Sócrates, Banquete, Económico e, sobretudo, em Memoráveis apresenta Sócrates como um homem de bem, um pensador de vida irrepreensível, capaz de dar conselhos aos amigos sobre qualquer tema, numa imagem que se distancia da intensidade da caracterização de Platão. Na totalidade da obra de Platão (menos em As Leis), Sócrates adquire o papel de figura principal. A impressão que causou na vida de Platão, que o conheceu aos vinte anos, foi tão mercante que o acompanhou como discípulo e nas obras que escreveu caracterizou-o como o verdadeiro filósofo, um ?moscardo? na perseguição dos que não sabendo, julgam saber. Para Platão, Sócrates é o filósofo que se distancia das questões da vida quotidiana, dedicando-se em exclusivo às suas reflexões. Nas suas obras, Platão terá veícula através do "personagem" Sócrates vários dos seus pensamentos. É apenas na obra Apologia de Sócrates que Platão se refere a si mesmo: indicando-se entre os assistentes ao julgamento e como ausente no momento na morte do mestre. Também nesta obra apresenta as alegações de Sócrates e a sua detalhada descrição dos motivos e metas da actividade filosófica tal como a exercia, perante o júri que o condenou.Tende a gerar consenso que serão comuns ao pensamento dos dois filósofos pontos como o culto da virtude, a definição de conceitos e o domínio sobre si mesmo.Quanto a Aristóteles (discípulo de Platão, não conheceu Sócrates pessoalmente), são de referir as obras Metafísica, As partes dos Animais, Ética a Eudemo e Ética a Nicómano.

Os sofistas
Um sofista seria o que hoje designaríamos por uma pessoa sábia.A palavra "sofista" tem origem, tal como a palavra "filosofia", em sophia: sabedoria. Assim, "sofista" designava um homem que possui e pratica a sabedoria. Um homem com assinaláveis conhecimentos em qualquer área do saber. De início, tanto as palavra sofista como sofisma (que se designa actualmente um argumento ou falso raciocínio formulado com o fim de induzir em erro) não tinham uma conotação negativa. Esta imagem ficou a dever-se sobretudo a Platão que manifestava fortemente a sua oposição em relação à concepção que os sofistas tinham do saber. As informações que nos chegam da prática sofista radicam essencialmente no legado de Platão, que combatia a natureza e orientações das suas actividades. À excepção de alguns excertos conservados através da inclusão em livros de outros autores, as obras dos sofistas perderam-se quase na sua totalidade.Os sofistas, poderá dizer-se, eram essencialmente críticos da cultura colocando em causa os valores tradicionalmente aceites pelo Homem Grego. Para além de se apresentarem como dotados de saber, faziam questão em salientar que conseguiam transmitir o seu saber aos que com eles pretendessem aprender. Esses ensinamentos eram pagos, facto que poderá estar entre os motivos do desagrado de Platão em relação ao trabalho dos sofistas. Hipías, Protágoras e Górgias foram proeminentes sofistas.

A dialética
Na sua vontade de combater o cepticismo dos sofistas, Sócrates afirmou a possibilidade do conhecimento verdadeiro. Na Ética, impulsionou a visão de que o homem bom nunca age mal conscientemente. O verdadeiro conhecimento emerge através do diálogo e do inquérito sistemático, em conjunto com o abandono de todas as pretensões acríticas de conhecimento, defendia o filósofo. Numa consulta ao oráculo do templo de Delfos, a pitonisa teria referido que Sócrates era o homem mais sábio de toda a Grécia. O resultado desta consulta, que foi feita pelo seu aluno Querofonte, deixou Sócrates, que acima de tudo reconhecia a sua própria ignorância, perplexo.Não obstante, como não podia admitir que o oráculo não tivesse dito a verdade, após intensamente procurar um sentido nas palavras proferidas, finalmente acabou por descobrir: ele era o mais sábio de todos exactamente porque reconhecia os seus limites. Saber que na realidade nada sabia e, assim, procurar o saber - assim agia Sócrates. Os sofistas, por seu turno, ao ignorarem a sua própria ignorância, somente se julgavam sábios. Gravada no pórtico do templo, a frase ?conhece-te a ti mesmo? teve também uma grande influência em Sócrates, tornando-se no lema da missão do filósofo. A partir da revelação da pitonisa, Sócrates irá exercitar o seu pensamento de forma a investigar, como, por que método se poderá saber algo. Como só se pode saber algo através da linguagem, Sócrates inicia o chamado método dialéctico, um método que se inicia no indivíduo até alcançar a noção universal, numa procura da verdade através da discussão, colocando questões para gerar respostas. Por vezes, fruto destes interrogatórios os adversários, vencidos, tornavam-se seguidores de Sócrates. Sócrates alegava nada saber e nada ensinar através dos seus interrogatórios; somente despertava a verdade adormecida. Através do diálogo levava cada um a descobrir as verdades que pensavam desconhecer. Denominou este processo ?maiêutica?, um nome que deriva do seu papel juntos dos espíritos com o da mãe (parteira) junto dos corpos. Identificando o útil com o Bem, para Sócrates é a ignorância que leva a proceder mal. Assim, salientava a necessidade de uma educação que conduzisse à prática do bem. Para o filósofo ateniense o conhecimento e a virtude estão tão próximos e de tal forma relacionados que nenhum ser humano com conhecimento pode ser maléfico: todos agimos da forma que acreditamos ser a melhor. Desde modo, uma conduta imprópria não será uma evidência de fraqueza da vontade; só poderá ser resultado da ignorância. Para Sócrates a moral fundamenta-se na razão. Consequentemente acreditava na unidade entre o pensamento e a acção. É a luta pela verdadeira virtude que leva a alcançar essa unidade - o mais importante de tudo. Num desapego pelos bens materiais, e ao contrário dos sofistas, Sócrates recusava receber pagamento pelos seus conselhos e ensinamentos. Este poderá ter sido um dos motivos o levava a ser fervorosamente seguido pelos seus discípulos. Por um lado, ao servir a pátria, formando cidadãos ao seu redor, independentemente da sua condição ou idade, Sócrates reunia um fiel conjunto de discípulos. Mas, por outro, angariava, através dos seus persistentes e impiedosos interrogatórios, da sua ironia e atitude crítica, ódios e inimigos.

O julgamento
Combatendo ferozmente a tirania, as consequências dos ensinamentos de Sócrates foram consideradas particularmente subversivas. Acabou por ser acusado e condenado à morte pelas autoridades atenienses, em 399 a.C., por impiedade e corrupção dos deuses e da juventude. Recusou o plano proposto e preparado pelo seu discípulo Críton para fugir e se salvar, pois opunha-se terminantemente a desobedecer às leis da sua cidade que lhe tinham toda a vida servido. Sócrates foi acusado de corromper os jovens e de interferir com a religião da cidade (ao inventar deuses novos e não reconhecer os de Atenas). A acusação pode radicar no facto de Sócrates acreditar ouvir o seu daímon (uma voz interior de natureza divina), justificando assim os seus actos. Julgado em tribunal foi condenado a morrer por ingestão de cicuta, tendo sido os seus principais acusadores Melito, Anito e Lícon. Aceitando corajosamente o seu destino, ingeriu o veneno. Amigos e discípulos estavam presentes neste momento final. A figura enigmática de Sócrates pretendeu provar com este derradeiro acto a coerência e valor das ideias que defendera ao longo da vida.

Bibliografia
Górgias, Platão - Leitura Orientada e Propostas de Trabalho, José António Segurado e Campos, Texto Editora (2000).
Fédon, Platão - Leitura Orientada e Propostas de Trabalho, António Pedro Mesquita, Texto Editora (2000).
Site UniversalEnciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Verbo.

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