quinta-feira, 15 de maio de 2008

8º ANO: REALISMO: HISTÓRIA DE PORTUGAL

A Questão Coimbrã
 Lisboa, os agora licenciados reuniam-se no Casino Lisbonense
A grande polémica literária do séc. XIX foi, sem dúvida, a chamada “Questão Coimbrã”. No despoletar da polémica, surgem dois nomes ideológica e literariamente opostos: Antero de Quental e António Feliciano de Castilho. Tudo começou em 1865, quando o grande símbolo do Ultra-Romantismo português, António Feliciano de Castilho faz uma referência pouco elogiosa à nova literatura portuguesa (representada, entre outros, por Antero de Quental), no posfácio a um livro de Pinheiro Chagas. Antero de Quental responde à provocação numa famosa carta aberta – “Bom Senso e Bom Gosto” – onde utiliza um sarcasmo violento, que acaba por desencadear a escalada de folhetins e artigos que se iriam trocar entre as duas facções. Na altura, saíram para a rua mais de meia centena de peças literárias a debater a questão. A batalha literária chegou mesmo a “vias de facto”, com Antero de Quental e Ramalho Ortigão (defensor de Castilho) a chegar mesmo a bater-se em duelo, por uma referência ofensiva feita pelo primeiro à cegueira de Castilho. A polémica envolveu outras figuras marcantes, como Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Pinheiro Chagas, Luciano Cordeiro, Brito Aranha e Teixeira de Vasconcelos, para além dos já referidos, e marcou o grande movimento de regeneração da cultura e da literatura portuguesas, abrindo portas, nomeadamente, às Conferências do Casino e ao realismo literário.
Fonte: Enciclopédia Universal, Texto Editora (Adaptado)

As Conferências do Casino
Também conhecidas por “conferências democráticas”, as Conferências do Casino reuniram os cultores do reformismo saído da “Questão Coimbrã”. Mais uma vez, surge, como figura de destaque, Antero de Quental que, com o seu discurso intitulado “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos”, volta a criticar a mentalidade acrítica e estagnada que se fazia sentir em Portugal, no séc. XIX. As Conferências do Casino foram realizadas em 1871, em Lisboa, pelo Grupo Cultural do Cenáculo, constituído pela geração cultural de vanguarda liderada por Antero de Quental. Este grupo, continuador do espírito reformista da Questão Coimbrã, era influenciado pelas modernas ideias europeias (historicismo, papel das ciências políticas, evolucionismo, socialismo, arte realista, positivismo em geral), pretendendo tirar Portugal da estagnação e atraso em que, segundo os conferencistas, se encontrava. Realizaram-se cinco conferências, duas de Antero, uma de Augusto Soromenho, uma de Eça de Queirós e uma de Adolfo Coelho, após o que o governo proibiu a continuação do ciclo de conferências. Para além dos nomes referidos, faziam parte do grupo Teófilo Braga, Oliveira Martins e Manuel Arriaga, entre outros.

Fonte: Enciclopédia Universal, Texto Editora (Adaptado)

A Geração de 70
Antero de Quental não estava só no que respeita aos ideais que defendia. Fazia parte de um grupo de escritores e intelectuais que, nas últimas décadas do século XIX, se afirmou pelo seu desejo de intervenção e renovação da vida política, social e cultural portuguesa. Este grupo ficou conhecido pela designação de “Geração de 70” e juntava, além de Antero de Quental, nomes como o de Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Joaquim Pedro de Oliveira Martins, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro. Tendo vivido o período da regeneração, esta elite insurgiu-se contra os efeitos do romantismo na sociedade portuguesa e contra a ausência de um esforço de renovação ideológica e sociocultural que acompanhasse os progressos materiais de que o país ia beneficiando. Pretendendo aproximar Portugal da Europa dita civilizada, esta elite sofreu influências dos ideais políticos da revolução francesa e do liberalismo inglês, bem como de filósofos socialistas como Proudhon. Assim, a um Portugal visto como provinciano opunha-se uma Europa moderna e cosmopolita. Com a Questão Coimbrã, em 1865, teve início a intervenção pública do grupo, sendo Antero de Quental, sobretudo nesta primeira fase, o seu grande mentor. As Conferências do Casino foram o seguimento desta primeira polémica. O texto de Antero de Quental, Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, constitui um marco importante no questionar do sentido e possibilidades de Portugal no mundo, um dos temas de discussão fundamentais da Geração de 70. Na área da literatura, a renovação manifestou-se com a introdução do realismo, de que Eça de Queirós foi o grande cultor. O ideal revolucionário deste grupo veio a esbater-se perante as impossibilidades práticas de intervenção no país e a consciência de que também a Europa se encontrava em crise. Este sentimento decadentista, próprio da cultura finissecular, conduziu muitos destes intelectuais ao cepticismo, a um diletantismo que levou os seus membros a formar o auto-denominado grupo dos Vencidos da Vida, conscientes do fracasso e da distância a que permaneciam dos seus ideais originais.

Fonte: Enciclopédia Universal, Texto Editora (Adaptado)

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