domingo, 18 de maio de 2008

9º ANO: BIOGRAFIA "ALMADA NEGREIROS" ARTISTA FUTURISTA


José Sobral de Almada Negreiros

Artista plástico e escritor português, é autor de uma obra singular, que sintetiza as tendências modernistas e futuristas em Portugal nas primeiras décadas do século XX.
Breve biografia
José Sobral de Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe, na Roça da Saudade, em 7 de Abril de 1893. O seu pai, o tenente de cavalaria António Lobo de Almada Negreiros, era então administrador do concelho de S.Tomé. Dedicava-se ao jornalismo e chegou a fundar vários jornais, sendo também um estudioso da questão colonial. Sua mãe, Elvira Sobral, que morreu quando Almada Negreiros tinha apenas três anos, nasceu em S. Tomé e foi educada num colégio de Coimbra. Também em S.Tomé e Príncipe nasceu o seu irmão António.Em 1900, com sete anos, Almada Negreiros ingressa como aluno interno no colégio jesuíta de Campolide. Nesse mesmo ano o seu pai é chamado a Paris, para ter a seu cargo o Pavilhão das Colónias na Grande Exposição Universal de 1900. António de Almada Negreiros acabou por fixar residência na capital francesa, e aí casou pela segunda vez.Em 1905, o jovem José produz os seus primeiros jornais (manuscritos): A República, O Mundo e Pátria.No decurso da proclamação da República, em Outubro de 1910, e do consequente movimento anti-clericalista, os Jesuítas são excluídos e o colégio de Campolide é encerrado. Após uma breve passagem pelo liceu de Coimbra, Almada Negreiros começa a frequentar a Escola Internacional de Lisboa em 1911. A liberdade que aqui encontrou encontrou revelar-se-á determinante para a sua evolução artística.1913 é o ano em que Almada, então com vinte anos, publica o seu primeiro desenho; é também o ano da sua primeira exposição individual, que inclui cerca de noventa desenhos. É graças a esta exposição que conhece Fernando Pessoa, redactor de uma das críticas à mesma. Nasce uma sólida amizade e uma profícua relação de trabalho.Almada não pára de escrever e ilustrar mas não fica por aí. Integra o movimento que publica, em 1915, a revista literária Orpheu, um marco no movimento modernista português e um “atentado” para a moral vigente na sociedade portuguesa. Ainda em 1915, assina o Manifesto Anti-Dantas, uma crítica cerrada a uma sociedade e um país parados no tempo, que ele assina: “POETA D’ORPHEU, FUTURISTA E TUDO”.Almada Negreiros ruma a Paris em 1919. No ano anterior havia perdido dois companheiros: Amadeo de Souza Cardoso e Guilherme Santa Rita. Regressa em 1920, para partir de novo em 1927, desta vez para Madrid, de onde regressa em 1932. Um percurso semeado de poemas, peças de teatro, textos, cartazes e até capas de livros. Em pleno Estado Novo, em 1933, Almada executa algumas encomendas do regime, como o cartaz “Votai uma Nova Constituição”, criado para o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN). Em 1934, casa com a pintora Sarah Afonso, mãe dos seus dois filhos.Em 1938, Almada conclui os polémicos vitrais da igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa. O público mostra-se “incomodado” com tanta modernidade. Mais uma vez, Almada ignora-os e segue em frente, trabalhando sem parar. 1943 vem encontrá-lo ocupado com a concepção dos vitrais para o Pavilhão da Colonização, integrado na exposição “O Mundo Português”. Ironicamente, o presidente da comissão executiva da exposição é... Júlio Dantas. Os amigos não criticam - Almada é um grande artista mas os grandes artistas também têm de comer...Em 1954, por encomenda, pinta a tela que representa Fernando Pessoa para o restaurante “Irmãos Unidos”.Em 1959, é-lhe atribuído o Prémio Nacional das Artes. Ainda neste ano, Almada subscreve um manifesto público que contesta a nomeação de Eduardo Malta para a direcção do Museu de Arte Contemporânea.Em 1960, é-lhe concedido o Grande Oficialato da Ordem de Santiago Espada. Em, 1968, com setenta e cinco anos, Almada executa frescos para a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra e um painel para o átrio da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.Em 15 de Junho de 1970, ano em que assina o acordo para a publicação das suas obras completas, José de Almada Negreiros morre, no mesmo hospital e no mesmo quarto onde morrera Fernando Pessoa.
A actividade artística e literária de Almada Negreiros
O movimento artístico português, no qual Almada Negreiros irrompeu, era maioritariamente composto por artistas que se limitavam a satisfazer, sem chocar, os gostos de uma sociedade estática e conservadora. Almada não cala. No seu Manifesto Anti-Dantas afirma: “(...) é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e vendidos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração!”.Almada foi co-fundador da revista Orpheu, à qual se deve a introdução do movimento futurista na cena literária nacional. Nela colaboraram, entre outros, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa e Ângelo de Lima. A revista, influenciada pelo cosmopolitismo e pelas vanguardas europeias, pretendia agitar o meio cultural português, o que fez com sucesso. Apesar de apenas dois números terem sido publicados, a revista Orpheu deu alento ao surgimento de novos projectos. É o caso das revistas Portugal Futurista (1917), cujo primeiro e único número é uma raridade por ter sido apreendido pela polícia, e Presença (1927).Almada Negreiros colaborou ainda nas revistas Contemporânea, Athena, Portugal Futurista e Sudoeste. Participou em numerosas exposições, tendo a sua actividade artística abrangido a pintura, a tapeçaria, a decoração e a concepção de figurinos para espectáculos de teatro e dança.Como artista plástico, são de realçar os seus murais na Gare Marítima de Lisboa, os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, e as telas Maternidade e Retrato de Fernando Pessoa.Enquanto escritor, escreveu peças de teatro:
Antes de Começar (1919);
Pierrot e Arlequim (1924);
Deseja-se Mulher (1928);e o romance Nome de Guerra, considerado um dos romances fundamentais do século XX português por ser o primeiro romance em que se evidenciam características do movimento modernista. Somam-se a este A Engomadeira e K4 O Quadrado Azul, qua aparece sob a forma de um folheto e apresenta-se constituído por um único parágrafo compacto, com cerca de vinte páginas impressas. São da sua autoria os poemas Meninos de Olhos de Gigante (1921), A Cena do Ódio (1915), As Quatro Manhãs (1953) e Começar.É também autor de uma série de textos críticos e polémicos, dispersos pelas publicações com as quais colaborava. De entre estes destacam-se o Manifesto Anti-Dantas (1915), o Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas (1917) e A Invenção do Dia Claro (1921), uma conferência sob a forma de poema.

O Modernismo - breve síntese
Entre 1880 e o início da II Guerra Mundial, assistiu-se a uma proliferação de estilos e correntes artísticas na arte e arquitectura europeias. A este conjunto foi dado o nome de Modernismo. É uma designação polémica devido à sua abrangência mas pode-se considerar que as obras integradas no Modernismo partilham duas características fundamentais:
Inovação formal; regra geral cada geração de modernistas tentava desenvolver os aspectos mais originais da obra deixada pelos seus predecessores.
A convicção de que a Arte pode constituir uma resposta aos problemas da vida moderna. Infelizmente, não existia um consenso quanto à natureza desses problemas e à melhor forma de os abordar.Assim, talvez se possa considerar que o Modernismo é um conjunto de diferentes formas de expressão artística que, apesar das suas visíveis divergências, têm em comum um núcleo fundamental de convicções sobre a Arte e o mundo as rodeia. O pintor francês Paul Cézanne (1839-1906) é considerado um dos pioneiros do Modernismo. Em Portugal, Espanha e Brasil, o Modernismo representa o movimento de ruptura com a tradição naturalista do final do século XIX, de acordo com as tendências e os modelos desenvolvidos em França.Em Portugal, a geração ligada à génese da revista Orpheu foi a introdutora do Modernismo. Nas artes plásticas destacam-se Amadeo de Souza Cardoso e Santa-Rita Pintor. Considera-se que a revista Presença, publicada entre 1927 e 1940, marca, na literatura portuguesa, um segundo Modernismo, que recupera e promove a geração de Orpheu, cujo reconhecimento público fora reduzido.

O Futurismo - breve síntese
Em 20 de Fevereiro de 1909, o editor e poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti, que se auto-denominava “a cafeína da Europa”, publicou no jornal francês Le Figaro um manifesto intitulado “Fundação e Manifesto do Futurismo”.Este manifesto é um ataque frontal a tudo o que seja velho, entediante e “feminino” e faz a apologia de experiências estimulantes e “másculas” como a guerra. Apesar de o objectivo declarado deste manifesto ser libertar a Itália do passado, o seu real propósito é promover o gosto por experiências mais radicais e libertadoras. A este manifesto seguiram-se os manifestos da Pintura Futurista (1910) e da Escultura Futurista (1912).Estes manifestos foram co-elaborados e/ou subscritos pelo arquitecto Umberto Boccioni (1882-1916), pelo pintor Giacomo Balla (1871-1958) e por Anton Giulio Bragaglia (1890-1960), que se dedicou à fotografia.Uma das facetas do Modernismo está ligada à agressividade, ao elogio da máquina e ao agitar da vida moderna. Exprime-se pela enorme quantidade de frases exclamativas, de invectivas e de insultos, com o intuito de erradicar hábitos culturais retrógados.

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