O que é um fóssil?
Um fóssil é um resto material de antigos organismos ou as manifestações da sua actividade, que ficaram mais ou menos bem conservados nas rochas ou em outros fósseis. Os fósseis podem ser restos materiais (partes do organismo como ossos, dentes, troncos, chifres, ou o corpo inteiro em casos excepcionais). Quanto às manifestações de actividade, estas podem ser de dois géneros:- estruturas reprodutoras (ovos, sementes, esporos, pólen, etc.), excrementos (designados cuprólitos) e restos de construções orgânicas;- rastos (designados icnofósseis), como pegadas ou impressões de outras partes do corpo (dentadas, por exemplo), pistas, galerias abertas em rochas, esqueletos ou troncos, etc..A formação de um fóssil implica uma série de transformações químicas e físicas ao longo de um período de tempo. Assim, só se consideram fósseis os vestígios orgânicos com mais de 13.000 anos (idade aproximada da última glaciação do período Quaternário).
Como se forma?
Após a morte, e em qualquer era geológica, o destino mais provável de qualquer organismo vivo é a degradação dos seus tecidos, o que faz com que desapareça sem deixar rasto.Para que tal não suceda, após a sua morte o organismo deve ser rapidamente coberto por uma camada de sedimentos finos — areia ou lodo —, o que frequentemente parece ter sucedido nas águas calmas de lagos ou fundos marinhos.Suponhamos que assim acontece. O que se vai passar em seguida com o organismo (animal, planta ou outro) que protagoniza este processo? Vejamos as alternativas:
Na maior parte dos casos, as partes ditas “moles” (como a pele e os tecidos adiposo ou muscular ou parenquimatoso, no caso das plantas) desaparecem e só ficam as partes duras, como o esqueleto, que sofrem uma mineralização. Ou seja, as moléculas originais são muito lentamente substituídas por minerais como a sílica.
Os restos do organismo são cobertos de forma tão célere que a sua decomposição é adiada (por o meio ser muito pobre em oxigénio). Neste caso, a petrificação é total (ou quase) e os tecidos moles são também preservados.Ao longo dos séculos, as camadas de sedimentos depositar-se-ão umas sobre as outras e, na ausência de movimentos orogénicos, as camadas mais recentes sobrepor-se-ão às mais antigas. Os fósseis que estas encerram (ou não...) terão a mesma idade da camada que os abriga.A formação de um fóssil (palavra que vem do latim fossilis demora milhares de anos. No entanto, a Natureza, pródiga em “soluções criativas”, disponibilizou algumas alternativas “mais rápidas” ao processo dito clássico de fossilização. Quais?
a conservação de insectos ou outras espécies pequenas no seio de pequenas quantidades de âmbar;
a conservação no seio da turfa (um meio muito pobre em oxigénio) ou do gelo, que trouxe até nós exemplares num estado de conservação quase perfeito pois, nestes casos, a pele e os pêlos foram perfeitamente conservados; no caso dos mamutes congelados encontrados nos gelos siberianos foi possível recuperar os restos da última refeição contida nos seus estômagos.Os fósseis mais antigos encontrados até à data têm cerca de 3,8 biliões de anos. No entanto, é nas camadas às quais foram atribuídos cerca de 540 milhões de anos que os fósseis se tornam mais abundantes e diversificados.
Tempo Geológico
Quando falamos de fósseis o tempo é sempre referido em milhares, milhões e até biliões de anos. Por isso, torna-se pertinente falar sobre as unidades de tempo comummente utilizadas pelos paleontólogos.Na Paleontologia, o tempo geológico é dividido em eras, períodos e épocas. A era é maior que o período e, por sua vez, o período é maior que a época. Nenhuma destas “unidades” tem uma duração fixa e para o constatar basta tomar o exemplo do tão mediatizado Período Jurássico, marcado pelo reinado dos dinossáurios, que durou cerca de 65 milhões de anos e o Período Pérmico, marcado pela extinção dos trilobites e que durou cerca de 38 milhões de anos.Eis, sucintamente, a divisão do tempo geológico aqui observada. Partimos da era mais distante para a mais recente:1. Era Paleozóica (entre 565 e 248 milhões de anos (m.a.) - os continentes estão unidos numa única massa) inclui:
Pré-Câmbrico (desde a formação da Terra, há cerca de 4,6 biliões de anos, até há 565 milhões de anos atrás);
Período Pré-Câmbrico (até 565 m.a.);
Período Câmbrico (entre 565 e 500 m.a. – marcado pelo aparecimento dos trilobitas);
Período Ordovícico (entre 500 m.a. e 430 m.a. – marcado pelo aparecimento dos peixes sem dentes);
Período Silúrico (entre 430 m.a. e 395 m.a. – marcado pelo aparecimento das primeiras plantas terrestres);
Período Devónico (entre 395 m.a. e 345 m.a. – os peixes sem dentes povoam os oceanos);
Período Carbonífero (entre 345 m.a. e 286 m.a. – florestas primitivas cobrem o continente);
Período Pérmico (entre 286 m.a. e 248 m.a. – marcado pela extinção dos trilobites).2. Era Mesozóica (entre 248 m.a. e 65 m.a. – começa a deriva dos continentes)
Período Triássico (entre 248 m.a. e 213 m.a. – a Pangea divide-se);
Período Jurássico (entre 213 m.a. e 144 m.a. – dominam os dinossáurios);
Período Cretáceo (entre 144 m.a. e 65 m.a. – proliferam as plantas com flor).3. Era Cenozóica (entre 65 m.a. e a actualidade)
Período Terciário (entre 65 m.a. e 1,8 m.a.) que inclui as seguintes épocas:- Paleocénico (entre 65 m.a. e 54 m.a. – abundam pássaros que não voam);- Eocénico (entre 54 m.a. e 37 m.a.);- Oligocénico (entre 37 m. a. e 26 m.a.);- Miocénico (entre 26 m.a. e 5/7 m.a.);- Pliocénico (entre 5/7 m.a. e 1,8 m.a.).
Período Quaternário (entre 1,8 m.a. e a actualidade), que inclui as seguintes épocas:- Pleistocénico (entre 1,8 m.a. e 11.000 anos);- Holocénico (entre 11.000 anos e a actualidade).
A Paleontologia
O que é a Paleontologia?
Alguns fósseis trazem até nós, não partes do corpo de um ser vivo, mas vestígios da sua actividade. É o caso dos trilhos de pegadas que, em Portugal, se encontram em locais como a Pedreira do Galinha ou a Pedra da Mua. Estas marcas são um precioso instantâneo de um breve momento num passado distante. Graças a elas e à análise das camadas circundantes, os paleontólogos podem fazer uma reconstituição. Mas não é fácil: as peças deste puzzle não estão lá todas, o que faz com o que o trabalho de um paleontólogo se assemelhe, mais do que o dos outros cientistas, ao de um detective.Mas, afinal, o que é um paleontólogo? O que é a Paleontologia? A palavra Paleontologia vem do Grego palaiós (antigo) + ón, óntos (ser) + lógos (tratado). Esta ciência dedica-se ao estudo dos fósseis. Os fundadores da Paleontologia moderna são:- o barão Cuvier (1769-1832), que aplicou conhecimentos da Zoologia e da Botânica actuais ao estudo dos animais (vertebrados)e plantas fósseis encontrados recorrendo à Anatomia comparada.- Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) que, em 1802, na sua obra Historie Naturelle des Animaux sans Vertèbres, lança a Paleontologia dos Invertebrados.Nos seus estudos, Cuvier situou estes fósseis num determinado período de tempo geológico, aproveitando as ideias de William Smith (1768-1839), percursor da Paleontologia Estratigráfica.No Museu de História Natural de Paris, Cuvier dedicou-se ao estudo dos vertebrados, tendo-se deparado com fósseis de dimensões muito maiores do que as espécies actuais. Para tentar explicar tanto as suas dimensões como a sua extinção, Cuvier colocou a hipótese de a Terra ter sofrido (e ainda sofrer) poderosas "convulsões" periódicas, cuja consequência seria a extinção de muitas espécies, e que seriam seguidas por períodos de calma, durante os quais teria lugar uma nova criação.Curiosamante, à medida que a fama de Cuvier enquanto paleontólogo aumentava, as pessoas começaram a enviar-lhe exemplares que consideravam interessantes.Lamarck avançou com a sua teoria sobre a evolução dos seres vivos, o que veio provocar uma oposição frontal entre si e Cuvier, que propunha uma visão catastrofista da História da Terra. Na primeira metade do século XIX surgiram os ramos fundamentais da Paleontologia: - a Paleobotânica (criada por Brongniart);- a Paeloantropologia (por Lartet);- a Micropaleontologia (por Ehremberg);- a Paleontologia Estratigráfica (desenvolvida em toda a sua extensão por Alcide D?Orbigny).Actualmente, além de continuarem a ser auxiliares preciosos dos geólogos na Biostratigrafia, os fósseis são amplamente usados na reconstituição de ecossistemas antigos (Paleoecologia), na organização da distribuição espacial de organismos antigos (Paleobiogeografia) e nos estudos sobre Evolução.
Um pouco de história
Os fósseis mais espectaculares são, sem dúvida, os vestígios de dinossáurios. O primeiro dinossáurio cuja descoberta está registada enquanto tal remonta a 1676, quando Robert Plot, em Inglaterra, descobriu e ilustrou uma “rocha” que lhe foi enviada e que identificou como a extremidade de um enorme fémur. Uma vez que o maior animal conhecido era o elefante, a rocha foi classificada como um osso de elefante, provavelmente trazido para a ilha pelos Romanos.Mas as conclusões do Sr. Plot não ficaram por aqui... Como o osso era demasiado grande, até para um elefante, decidiu que este deveria pertencer a um dos seres gigantes que povoaram o folclore local.A primeira designação científica foi atribuída a um fóssil (que se sabe hoje ser de dinossáurio) por um professor da Universidade de Oxford, em 1824. O osso encontrado foi classificado como pertencendo a um réptil gigante extinto, baptizado Megalosaurus.Durante o século XVIII foram encontrados numerosos vestígios de mamutes e preguiças que fascinaram os media dessa época. No século XIX as descobertas não pararam... Uma menina de 11 anos, Mary Anning, descobriu um esqueleto com cerca de 10 metros, mais tarde designado Ichthyosaurus (literalmente, “peixe-lagarto”) e contemporâneo dos dinossáurios. Já adulta e uma recoletora dedicada de fósseis, a mesma jovem veio a descobrir vestígios de um Plesiosaurus, também no litoral do sul da Grã-Bretanha.Gideon Mantell, um médico inglês apaixonado pela recolha de fósseis descobriu e reconstituiu o Iguanodon, que foi o primeiro representante de um então reconhecido e novo grupo de animais – os dinossáurios. Infelizmente, a reconstituição de Mantell, divulgada em 1925, não era exacta: o Iguanodon, concluiu-se mais tarde, caminhava sobre duas e não sobre quatro patas.Foi Richard Owen, director do Museu de História Natural de Londres que, em 1841, propôs o termo dinosauria (literalmente "lagarto terrível") para os vestígios reptilianos até então encontrados. Durante o século XX, a prospecção de fósseis, até então algo limitada aos territórios europeu e norte-americano, alargou-se a todo o planeta. Tomamos como exemplos a expedição de Werner Janensch, um paleontólogo alemão, à Tanzânia em 1909-12, que descobriu novos vestígios de dinossáurios e, dando um salto no tempo, o australiano Sprigg, que encontrou fósseis datados do Pré-Câmbrico em território australiano.Na década de 80 registou-se um incremento na troca de informação entre equipas que, como as chinesas e as da antiga União Soviética, anteriormente trabalhavam bastante isoladas. Os trabalhos mais recentes levados a cabo na China trouxeram à luz do dia dezenas de novos exemplares, que trouxeram com eles preciosos dados referentes à evolução das espécies.
Caçadores de fósseis
Como reconhecer um fóssil?
Mesmo que estejamos num local em que nos foi assegurado que existem fósseis, muitas vezes olhamos fixamente e não conseguimos ver qualquer exemplar. Com a prática, os aspirantes a caçadores aprenderão a reconhecer: as rochas que têm maior probabilidade de conter registos fósseis, padrões e formas nas rochas que indicam a presença de fósseis.Muitas vezes, os caçadores são enganados por pseudofósseis. Muitos foram já enganados pelas marcas provocadas por formações minerais e que confundiram com plantas ou com animais.Há já muito tempo que os paleontólogos experientes aprenderam a reconhecer algumas "associações" que são uma primeira garantia de autenticidade. Exemplo: as amonites, que surgem frequentemente associadas (e estamos a referir-nos aos estratos em que se encontram) a determinados répteis ou corais. As espécies representadas pelos fósseis evoluiram de forma gradual e, apesar das grandes lacunas existentes, formam determinadas séries que são utilizadas na datação das camadas de rocha em que se encontram. Para grande felicidade dos paleontólogos é frequentemente possível acompanhar a evolução de um determinado grupo através das camadas que se sobrepõem. É claro que factores como o habitat das espécies em questão, que são frequentemente invertebrados marinhos como os braquiópodes, vêm colocar limitações.Principais grupos de fósseisOs fósseis mais abundantes e mais fáceis de encontrar são geralmente a animais com esqueleto, sem vértebras e visíveis a olho nu - os macroinvertebrados. Eis alguns exemplos:- Esponjas (animais aquáticos com esqueletos de calcite ou de sílica, as suas formas lembram mais as plantas que os animais. Nível: Câmbrico-actualidade);- Corais(com formas muito variáveis e esqueleto calcário, formam recifes em águas marinhas tropicais. Nível: Ordovícico-actualidade);- Braquiópodes(animais marinhos, apresentam duas conchas calcárias assimétricas; uma delas apresenta um orifício por onde sai o pedúnculo. Nível: Câmbrico-actualidade);- Moluscos bivalves(apresentam duas valvas semelhantes, geralmente dispostas lado a lado - excepto as ostras e os rudistas; são marinhos. Nível: Câmbrico-actualidade);- Moluscos gastrópodes(possuem uma concha única enrolada em espiral e não compartimentada; são marinhos ou terrestres. Nível: Câmbrico-actualidade);- Moluscos nautilóides(moluscos cefalópodes marinhos que possuem conchas calcárias enroladas em espiral ou rectilíneas, divididas em câmaras por tabiques; os tabiques encontram-se ligados por um sifão. Nível: Câmbrico-actualidade);- Moluscos amonóides(moluscos cefalópodes marinhos semalhantes aos Nautilóides, mas cujo sifão tem posição ventral; os tabiques originam uma estrutura complexa de suturas. Nível: Devónico-Cretácico);- Moluscos coleóides(moluscos cefalópodes marinhos que apresentam um rostro calcário robusto em forma de bala. Nível: Jurássico-Cretácico)- Crinóides(equinodermes geralmente conhecidos como lírios-do-mar, vivem nos fundos marinhos aos quais se fixam por um pé flexível - o pedúnculo - que se dissocia após a morte do indivíduo, sendo frequentes os seus restos; é bem visível a simetria pentarradiada. Nível: Câmbrico-actualidade)- Equinóides(equinodermes vulgarmente conhecidos como ouriços-do-mar, possuem concha rígida globosa, formada por placas calcárias, coberta por espinhos; têm cinco partes bem definidas, podendo apresentar simetris bilateral ou pentarradiada. Nível: Ordovícico-actualidade).
Caçadores de fósseis
No campo
Antes de iniciar a sua expedição certifique-se de que não há possibilidade de o dono do terreno a que se dirige coloque obstáculos. Os locais de construção são frequentemente óptimos locais para pesquisar mas não será agradável encontrar um proprietário furioso pela frente. Informe-se antes de partir.Ter um bom mapa (uma carta militar 1:25.000 é um bom instrumento) e uma carta geológica do local a pesquisar pode também ser uma boa ajuda. Não se esqueça de os colocar dentro de um saco/capa de plástico para protecção. São também auxiliares úteis:- uma bússola;- uma tabela de marés (caso vá pesquisar numa área costeira de arribas); - guias de campo que o ajudarão a identificar os fósseis recolhidos.Além de um bom par de botas e roupa velha, é aconselhável que possua o seguinte material:- martelo de geólogo (pelo menos um);- pequeno maço;- peneira; - escopros de vários diâmetros;- canivete;- escova;- pincel de barbear.
Fóssil |
Um fóssil é um resto material de antigos organismos ou as manifestações da sua actividade, que ficaram mais ou menos bem conservados nas rochas ou em outros fósseis. Os fósseis podem ser restos materiais (partes do organismo como ossos, dentes, troncos, chifres, ou o corpo inteiro em casos excepcionais). Quanto às manifestações de actividade, estas podem ser de dois géneros:- estruturas reprodutoras (ovos, sementes, esporos, pólen, etc.), excrementos (designados cuprólitos) e restos de construções orgânicas;- rastos (designados icnofósseis), como pegadas ou impressões de outras partes do corpo (dentadas, por exemplo), pistas, galerias abertas em rochas, esqueletos ou troncos, etc..A formação de um fóssil implica uma série de transformações químicas e físicas ao longo de um período de tempo. Assim, só se consideram fósseis os vestígios orgânicos com mais de 13.000 anos (idade aproximada da última glaciação do período Quaternário).
Como se forma?
Após a morte, e em qualquer era geológica, o destino mais provável de qualquer organismo vivo é a degradação dos seus tecidos, o que faz com que desapareça sem deixar rasto.Para que tal não suceda, após a sua morte o organismo deve ser rapidamente coberto por uma camada de sedimentos finos — areia ou lodo —, o que frequentemente parece ter sucedido nas águas calmas de lagos ou fundos marinhos.Suponhamos que assim acontece. O que se vai passar em seguida com o organismo (animal, planta ou outro) que protagoniza este processo? Vejamos as alternativas:
Na maior parte dos casos, as partes ditas “moles” (como a pele e os tecidos adiposo ou muscular ou parenquimatoso, no caso das plantas) desaparecem e só ficam as partes duras, como o esqueleto, que sofrem uma mineralização. Ou seja, as moléculas originais são muito lentamente substituídas por minerais como a sílica.
Os restos do organismo são cobertos de forma tão célere que a sua decomposição é adiada (por o meio ser muito pobre em oxigénio). Neste caso, a petrificação é total (ou quase) e os tecidos moles são também preservados.Ao longo dos séculos, as camadas de sedimentos depositar-se-ão umas sobre as outras e, na ausência de movimentos orogénicos, as camadas mais recentes sobrepor-se-ão às mais antigas. Os fósseis que estas encerram (ou não...) terão a mesma idade da camada que os abriga.A formação de um fóssil (palavra que vem do latim fossilis demora milhares de anos. No entanto, a Natureza, pródiga em “soluções criativas”, disponibilizou algumas alternativas “mais rápidas” ao processo dito clássico de fossilização. Quais?
a conservação de insectos ou outras espécies pequenas no seio de pequenas quantidades de âmbar;
a conservação no seio da turfa (um meio muito pobre em oxigénio) ou do gelo, que trouxe até nós exemplares num estado de conservação quase perfeito pois, nestes casos, a pele e os pêlos foram perfeitamente conservados; no caso dos mamutes congelados encontrados nos gelos siberianos foi possível recuperar os restos da última refeição contida nos seus estômagos.Os fósseis mais antigos encontrados até à data têm cerca de 3,8 biliões de anos. No entanto, é nas camadas às quais foram atribuídos cerca de 540 milhões de anos que os fósseis se tornam mais abundantes e diversificados.
Tempo Geológico
Quando falamos de fósseis o tempo é sempre referido em milhares, milhões e até biliões de anos. Por isso, torna-se pertinente falar sobre as unidades de tempo comummente utilizadas pelos paleontólogos.Na Paleontologia, o tempo geológico é dividido em eras, períodos e épocas. A era é maior que o período e, por sua vez, o período é maior que a época. Nenhuma destas “unidades” tem uma duração fixa e para o constatar basta tomar o exemplo do tão mediatizado Período Jurássico, marcado pelo reinado dos dinossáurios, que durou cerca de 65 milhões de anos e o Período Pérmico, marcado pela extinção dos trilobites e que durou cerca de 38 milhões de anos.Eis, sucintamente, a divisão do tempo geológico aqui observada. Partimos da era mais distante para a mais recente:1. Era Paleozóica (entre 565 e 248 milhões de anos (m.a.) - os continentes estão unidos numa única massa) inclui:
Pré-Câmbrico (desde a formação da Terra, há cerca de 4,6 biliões de anos, até há 565 milhões de anos atrás);
Período Pré-Câmbrico (até 565 m.a.);
Período Câmbrico (entre 565 e 500 m.a. – marcado pelo aparecimento dos trilobitas);
Período Ordovícico (entre 500 m.a. e 430 m.a. – marcado pelo aparecimento dos peixes sem dentes);
Período Silúrico (entre 430 m.a. e 395 m.a. – marcado pelo aparecimento das primeiras plantas terrestres);
Período Devónico (entre 395 m.a. e 345 m.a. – os peixes sem dentes povoam os oceanos);
Período Carbonífero (entre 345 m.a. e 286 m.a. – florestas primitivas cobrem o continente);
Período Pérmico (entre 286 m.a. e 248 m.a. – marcado pela extinção dos trilobites).2. Era Mesozóica (entre 248 m.a. e 65 m.a. – começa a deriva dos continentes)
Período Triássico (entre 248 m.a. e 213 m.a. – a Pangea divide-se);
Período Jurássico (entre 213 m.a. e 144 m.a. – dominam os dinossáurios);
Período Cretáceo (entre 144 m.a. e 65 m.a. – proliferam as plantas com flor).3. Era Cenozóica (entre 65 m.a. e a actualidade)
Período Terciário (entre 65 m.a. e 1,8 m.a.) que inclui as seguintes épocas:- Paleocénico (entre 65 m.a. e 54 m.a. – abundam pássaros que não voam);- Eocénico (entre 54 m.a. e 37 m.a.);- Oligocénico (entre 37 m. a. e 26 m.a.);- Miocénico (entre 26 m.a. e 5/7 m.a.);- Pliocénico (entre 5/7 m.a. e 1,8 m.a.).
Período Quaternário (entre 1,8 m.a. e a actualidade), que inclui as seguintes épocas:- Pleistocénico (entre 1,8 m.a. e 11.000 anos);- Holocénico (entre 11.000 anos e a actualidade).
A Paleontologia
O que é a Paleontologia?
Alguns fósseis trazem até nós, não partes do corpo de um ser vivo, mas vestígios da sua actividade. É o caso dos trilhos de pegadas que, em Portugal, se encontram em locais como a Pedreira do Galinha ou a Pedra da Mua. Estas marcas são um precioso instantâneo de um breve momento num passado distante. Graças a elas e à análise das camadas circundantes, os paleontólogos podem fazer uma reconstituição. Mas não é fácil: as peças deste puzzle não estão lá todas, o que faz com o que o trabalho de um paleontólogo se assemelhe, mais do que o dos outros cientistas, ao de um detective.Mas, afinal, o que é um paleontólogo? O que é a Paleontologia? A palavra Paleontologia vem do Grego palaiós (antigo) + ón, óntos (ser) + lógos (tratado). Esta ciência dedica-se ao estudo dos fósseis. Os fundadores da Paleontologia moderna são:- o barão Cuvier (1769-1832), que aplicou conhecimentos da Zoologia e da Botânica actuais ao estudo dos animais (vertebrados)e plantas fósseis encontrados recorrendo à Anatomia comparada.- Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) que, em 1802, na sua obra Historie Naturelle des Animaux sans Vertèbres, lança a Paleontologia dos Invertebrados.Nos seus estudos, Cuvier situou estes fósseis num determinado período de tempo geológico, aproveitando as ideias de William Smith (1768-1839), percursor da Paleontologia Estratigráfica.No Museu de História Natural de Paris, Cuvier dedicou-se ao estudo dos vertebrados, tendo-se deparado com fósseis de dimensões muito maiores do que as espécies actuais. Para tentar explicar tanto as suas dimensões como a sua extinção, Cuvier colocou a hipótese de a Terra ter sofrido (e ainda sofrer) poderosas "convulsões" periódicas, cuja consequência seria a extinção de muitas espécies, e que seriam seguidas por períodos de calma, durante os quais teria lugar uma nova criação.Curiosamante, à medida que a fama de Cuvier enquanto paleontólogo aumentava, as pessoas começaram a enviar-lhe exemplares que consideravam interessantes.Lamarck avançou com a sua teoria sobre a evolução dos seres vivos, o que veio provocar uma oposição frontal entre si e Cuvier, que propunha uma visão catastrofista da História da Terra. Na primeira metade do século XIX surgiram os ramos fundamentais da Paleontologia: - a Paleobotânica (criada por Brongniart);- a Paeloantropologia (por Lartet);- a Micropaleontologia (por Ehremberg);- a Paleontologia Estratigráfica (desenvolvida em toda a sua extensão por Alcide D?Orbigny).Actualmente, além de continuarem a ser auxiliares preciosos dos geólogos na Biostratigrafia, os fósseis são amplamente usados na reconstituição de ecossistemas antigos (Paleoecologia), na organização da distribuição espacial de organismos antigos (Paleobiogeografia) e nos estudos sobre Evolução.
Um pouco de história
Os fósseis mais espectaculares são, sem dúvida, os vestígios de dinossáurios. O primeiro dinossáurio cuja descoberta está registada enquanto tal remonta a 1676, quando Robert Plot, em Inglaterra, descobriu e ilustrou uma “rocha” que lhe foi enviada e que identificou como a extremidade de um enorme fémur. Uma vez que o maior animal conhecido era o elefante, a rocha foi classificada como um osso de elefante, provavelmente trazido para a ilha pelos Romanos.Mas as conclusões do Sr. Plot não ficaram por aqui... Como o osso era demasiado grande, até para um elefante, decidiu que este deveria pertencer a um dos seres gigantes que povoaram o folclore local.A primeira designação científica foi atribuída a um fóssil (que se sabe hoje ser de dinossáurio) por um professor da Universidade de Oxford, em 1824. O osso encontrado foi classificado como pertencendo a um réptil gigante extinto, baptizado Megalosaurus.Durante o século XVIII foram encontrados numerosos vestígios de mamutes e preguiças que fascinaram os media dessa época. No século XIX as descobertas não pararam... Uma menina de 11 anos, Mary Anning, descobriu um esqueleto com cerca de 10 metros, mais tarde designado Ichthyosaurus (literalmente, “peixe-lagarto”) e contemporâneo dos dinossáurios. Já adulta e uma recoletora dedicada de fósseis, a mesma jovem veio a descobrir vestígios de um Plesiosaurus, também no litoral do sul da Grã-Bretanha.Gideon Mantell, um médico inglês apaixonado pela recolha de fósseis descobriu e reconstituiu o Iguanodon, que foi o primeiro representante de um então reconhecido e novo grupo de animais – os dinossáurios. Infelizmente, a reconstituição de Mantell, divulgada em 1925, não era exacta: o Iguanodon, concluiu-se mais tarde, caminhava sobre duas e não sobre quatro patas.Foi Richard Owen, director do Museu de História Natural de Londres que, em 1841, propôs o termo dinosauria (literalmente "lagarto terrível") para os vestígios reptilianos até então encontrados. Durante o século XX, a prospecção de fósseis, até então algo limitada aos territórios europeu e norte-americano, alargou-se a todo o planeta. Tomamos como exemplos a expedição de Werner Janensch, um paleontólogo alemão, à Tanzânia em 1909-12, que descobriu novos vestígios de dinossáurios e, dando um salto no tempo, o australiano Sprigg, que encontrou fósseis datados do Pré-Câmbrico em território australiano.Na década de 80 registou-se um incremento na troca de informação entre equipas que, como as chinesas e as da antiga União Soviética, anteriormente trabalhavam bastante isoladas. Os trabalhos mais recentes levados a cabo na China trouxeram à luz do dia dezenas de novos exemplares, que trouxeram com eles preciosos dados referentes à evolução das espécies.
Caçadores de fósseis
Como reconhecer um fóssil?
Mesmo que estejamos num local em que nos foi assegurado que existem fósseis, muitas vezes olhamos fixamente e não conseguimos ver qualquer exemplar. Com a prática, os aspirantes a caçadores aprenderão a reconhecer: as rochas que têm maior probabilidade de conter registos fósseis, padrões e formas nas rochas que indicam a presença de fósseis.Muitas vezes, os caçadores são enganados por pseudofósseis. Muitos foram já enganados pelas marcas provocadas por formações minerais e que confundiram com plantas ou com animais.Há já muito tempo que os paleontólogos experientes aprenderam a reconhecer algumas "associações" que são uma primeira garantia de autenticidade. Exemplo: as amonites, que surgem frequentemente associadas (e estamos a referir-nos aos estratos em que se encontram) a determinados répteis ou corais. As espécies representadas pelos fósseis evoluiram de forma gradual e, apesar das grandes lacunas existentes, formam determinadas séries que são utilizadas na datação das camadas de rocha em que se encontram. Para grande felicidade dos paleontólogos é frequentemente possível acompanhar a evolução de um determinado grupo através das camadas que se sobrepõem. É claro que factores como o habitat das espécies em questão, que são frequentemente invertebrados marinhos como os braquiópodes, vêm colocar limitações.Principais grupos de fósseisOs fósseis mais abundantes e mais fáceis de encontrar são geralmente a animais com esqueleto, sem vértebras e visíveis a olho nu - os macroinvertebrados. Eis alguns exemplos:- Esponjas (animais aquáticos com esqueletos de calcite ou de sílica, as suas formas lembram mais as plantas que os animais. Nível: Câmbrico-actualidade);- Corais(com formas muito variáveis e esqueleto calcário, formam recifes em águas marinhas tropicais. Nível: Ordovícico-actualidade);- Braquiópodes(animais marinhos, apresentam duas conchas calcárias assimétricas; uma delas apresenta um orifício por onde sai o pedúnculo. Nível: Câmbrico-actualidade);- Moluscos bivalves(apresentam duas valvas semelhantes, geralmente dispostas lado a lado - excepto as ostras e os rudistas; são marinhos. Nível: Câmbrico-actualidade);- Moluscos gastrópodes(possuem uma concha única enrolada em espiral e não compartimentada; são marinhos ou terrestres. Nível: Câmbrico-actualidade);- Moluscos nautilóides(moluscos cefalópodes marinhos que possuem conchas calcárias enroladas em espiral ou rectilíneas, divididas em câmaras por tabiques; os tabiques encontram-se ligados por um sifão. Nível: Câmbrico-actualidade);- Moluscos amonóides(moluscos cefalópodes marinhos semalhantes aos Nautilóides, mas cujo sifão tem posição ventral; os tabiques originam uma estrutura complexa de suturas. Nível: Devónico-Cretácico);- Moluscos coleóides(moluscos cefalópodes marinhos que apresentam um rostro calcário robusto em forma de bala. Nível: Jurássico-Cretácico)- Crinóides(equinodermes geralmente conhecidos como lírios-do-mar, vivem nos fundos marinhos aos quais se fixam por um pé flexível - o pedúnculo - que se dissocia após a morte do indivíduo, sendo frequentes os seus restos; é bem visível a simetria pentarradiada. Nível: Câmbrico-actualidade)- Equinóides(equinodermes vulgarmente conhecidos como ouriços-do-mar, possuem concha rígida globosa, formada por placas calcárias, coberta por espinhos; têm cinco partes bem definidas, podendo apresentar simetris bilateral ou pentarradiada. Nível: Ordovícico-actualidade).
Caçadores de fósseis
No campo
Antes de iniciar a sua expedição certifique-se de que não há possibilidade de o dono do terreno a que se dirige coloque obstáculos. Os locais de construção são frequentemente óptimos locais para pesquisar mas não será agradável encontrar um proprietário furioso pela frente. Informe-se antes de partir.Ter um bom mapa (uma carta militar 1:25.000 é um bom instrumento) e uma carta geológica do local a pesquisar pode também ser uma boa ajuda. Não se esqueça de os colocar dentro de um saco/capa de plástico para protecção. São também auxiliares úteis:- uma bússola;- uma tabela de marés (caso vá pesquisar numa área costeira de arribas); - guias de campo que o ajudarão a identificar os fósseis recolhidos.Além de um bom par de botas e roupa velha, é aconselhável que possua o seguinte material:- martelo de geólogo (pelo menos um);- pequeno maço;- peneira; - escopros de vários diâmetros;- canivete;- escova;- pincel de barbear.
1 comentário:
Olá!
Gostei do post!
Bem escrito e com as informações correctas.
Cumprimentos
Luís Azevedo Rodrigues
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